Educação Católica: Fundamento Ético e Antropológico (Parte 5)

Foto de Michal Jarmoluk em Pixabay

Por Dom Antônio de Assis Ribeiro
Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Belém/PA

 

Introdução

Para que possamos compreender a sensibilidade da Igreja Católica para com o mundo da educação precisamos mergulhar no universo da identidade do ser humano: quem é o homem, qual é a sua origem, qual é a sua vocação, em que consiste a sua dignidade, qual é a sua constituição, como se estrutura, qual é o seu destino, o que dá sentido para a existência humana? Chamamos isso de fundamentos antropológicos, ou seja, que estão alicerçados na natureza do ser humano.

Sem um profundo conhecimento da natureza humana não há educação; poderá haver domesticação, como acontece na relação dos homens com os animais irracionais. O Reconhecimento da dignidade humana oferece balizas de limites para o processo educativo do ser humano. Ao longo da história, em nome da educação, já se promoveu muita opressão. Em geral, toda forma de educação que inibe e abafa a subjetividade do educando é um exemplo de educação opressora.

O ser humano é o promotor e, ao mesmo tempo, o beneficiário da educação, porque são os próprios seres humanos que se educam entre si. O ser humano não é educado por outra espécie, mas pelos próprios semelhantes e por si mesmo. Isso significa que quando um povo aprofunda a consciência da própria identidade, torna-se virtuoso e progride.

  1. Fundamento antropológico da educação

A sensibilidade da Igreja para com a educação emerge da natureza humana. O Concílio Ecumênico Vaticano II, na Constituição Gaudium Et Spes (ano 1965), afirma que o homem é o centro e o vértice das criaturas terrenas (cf. GS 12). Centro, significa que tudo deve convergir para o bem-estar humano integral; vértice, quer dizer que o ser humano é a máxima expressão das criaturas visíveis, sendo ele o cume da criação.

Somente o ser humano foi “criado à imagem e semelhança de Deus” (Gn 1,27). Dessa realidade de fé deriva sua dignidade, vocação e missão no mundo. A “dignidade humana” se fundamenta na participação na vida divina, no ser de Deus, no dinamismo divino. É a sua condição de nobreza, de senhoria e de grandeza em relação ao resto da criação.

A dignidade humana é um dom divino (natural) que se expressa através das múltiplas potencialidades como a inteligência, vontade, liberdade, afetividade, consciência, sociabilidade, espiritualidade, sexualidade etc. Isso significa que educar é promover a consciência de ser! Cada dimensão tem suas exigências próprias.

O homem é um ser marcado por aspirações profundas e dinâmicas! Mas é um ser inacabado, não está pronto, carente, inquieto, sedento… é chamado a desenvolver suas potencialidades, a crescer… Educar é promover o desenvolvimento do ser!

O ser humano tem uma vocação, uma meta: ser santo, retornar à sua origem, ao seu criador… buscar a sua felicidade absoluta (plena realização), a vida eterna, a paz total… Essa experiência se dá através do Amor… Educar é dar sentido para a Vida!

O ser humano, por ter recebido de Deus tais dons, é chamado à responsabilidade para consigo, para com seus semelhantes e com o resto das criaturas… Educar é estimular a consciência de responsabilidade!

 

  1. Fundamento ético da educação

Por causa da beleza e profundidade da dignidade humana, a educação tem uma exigência ética. Ou seja, não pode ser promovida de qualquer jeito! A dignidade é a condição regente do dinamismo e da qualidade da educação; a educação Católica deve zelar por isso. Onde não se respeita a dignidade humana, lá temos uma educação reducionista e por isso não favorece o pleno desenvolvimento humano.

Pelo fato de todo ser humano ser portador de carências naturais e de potencialidades a serem desenvolvidas, a educação é uma necessidade e um direito de todos. A educação é um bem universal porque visa o desenvolvimento das potencialidades naturais e aspirações profundas do ser humano.

Falar do fundamento ético da educação, significa que o processo educativo exige honestidade para com a natureza humana, retidão por parte do educador, métodos justos! A educação é um empreendimento que está a serviço da promoção da dignidade humana com seus múltiplos recursos.

Por isso, a Igreja reconhece o que declara a Carta Magna dos Direitos humanos no seu artigo XXVI: “Todo homem tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menos nos graus elementares e fundamentais. A instrução elementar será obrigatória…. e orientada no sentido do pleno desenvolvimento da personalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos direitos do homem e pelas liberdades fundamentais. A instrução promoverá a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e grupos raciais ou religiosos, e coadjuvará as atividades das Nações Unidas em prol da manutenção da paz. Os pais têm prioridade de direito na escolha do gênero de instrução que será ministrada a seus filhos”.

  1. Educar para a verdade, amor e glória

A presença da Igreja na educação significa um compromisso com a busca, assimilação e vivência da Verdade do ser humano, acolhendo, respeitando e estimulando a sua realização vocacional, enquanto ser racional.

Esses dois aspectos éticos e antropológicos para a Igreja Católica encontram na pessoa de Jesus Cristo a referência insubstituível, pois Jesus Cristo é o modelo de ser humano plenamente realizado.

Em termos éticos o ser humano precisa ser educado para a verdade, a justiça e o amor, pois há uma conexão inseparável entre amor, justiça e verdade: “amor e verdade se encontram, justiça e paz se abraçam” (Sl 85,11). Jesus Cristo é a Verdade personificada e, ao mesmo tempo, aquele que viveu em plenitude o amor, a compaixão, a tolerância, a Justiça, a misericórdia.

A meta da educação não é o acúmulo de informações e nem de conhecimento, mas é motivar o ser humano para ser capaz de dar sentido para a sua vida praticando o amor e a justiça. Sendo assim, a ciência deve estar a serviço da promoção da dignidade humana.

A dimensão ética da educação estimula o ser humano a galgar a sua meta existencial, a dar sentido para a sua vida neste mundo e infundindo-lhe a consciência de que somos chamados à vida terna. Para a Igreja educar é estimular a paixão pela glória eterna que, não significa nenhuma forma de desprezo pelos bens terrenos.

 

PARA REFLEXÃO PESSOAL:

  1. Em que consiste os fundamentos antropológicos da educação católica?
  2. Em que consiste as exigências éticas da educação católica?
  3. Por que a dimensão ética da educação estimula o ser humano a dar sentido para a sua vida?

Fonte: CNBB Norte 2

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