Por Dom Antônio de Assis Ribeiro
Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Belém/PA
Introdução
Continuemos a nossa reflexão sobre o documento “Educar para o humanismo solidário”. Recordemos as principais ideias apresentadas anteriormente para podermos assim, continuar a reflexão sobre o referido texto.
- A base inspiradora desse documento é a encíclica Populorum Progressio (1967), do Papa Paulo VI. O verdadeiro progresso dos povos não será possível se não for integral. A educação integral é a condição fundamental para isso. Há uma íntima relação entre a educação e o pleno desenvolvimento humano.
- O cenário mundial contemporâneo está marcado por profundas crises em todas as dimensões da sociedade. O enfretamento dessas crises requer uma sólida cultura capaz de formar lideranças que tracem caminhos procurando dar resposta às necessidades das gerações atuais.
- A resposta para todas essas crises está na promoção de uma educação capaz de promover a humanização. A educação para o humanismo solidário deve estimular a promoção das ciências com profunda consciência de compromisso ético.
- A promoção da educação humanizadora é uma tarefa conjunta, envolvendo todas as instituições e sujeitos da sociedade; por isso é necessário educar para o diálogo. O diálogo exige o compromisso do educar para a acolhida e valorização da diversidade.
- Globalizar a esperança
A encíclica Populorum progressio afirmou que o “desenvolvimento é o novo nome da paz»; para que isso aconteça, o desenvolvimento deve ser plenamente sustentável em todos os seus aspectos (econômico, socioambiental, político…).
Atualmente o desenvolvimento e o progresso ainda não são capazes de dar respostas aos problemas do mundo para a transformação social. É necessário que o desenvolvimento humano seja enriquecido com o anúncio da Redenção cristã.
A salvação plena de Jesus abraça todas as dimensões da vida do ser humano. Essa é a verdadeira Esperança. Não é a ciência que salva o homem, mas é a prática do amor, porque traz sentido para a vida e nos revela a verdade da criação. A educação para o humanismo solidário está alicerçada na Esperança, por isso é preciso globalizar a Esperança! (cf. N. 16-17), ou seja, fazer com que ela seja uma realidade para todos os povos.
Globalizar a esperança é a missão da educação para o humanismo solidário que comporta a construção de relações educativas e pedagógicas que formem para o amor cristão, que leva o conteúdo das ciências para estar a serviço do amor e da vida.
- A promoção da verdadeira inclusão
A educação alicerçada na promoção da Esperança estimula o humanismo solidário e, como consequência, promove a inclusão e dá resposta para toda forma de injustiça. Educar para o humanismo solidário exige que a aprendizagem das ciências esteja afinada com um projeto de universo ético de abraçar o bem-estar de toda a família humana.
As opções educativas do presente influenciam o estilo de vida dos cidadãos do futuro. Os cidadãos de hoje, devem ser solidários com os seus contemporâneos onde quer que estejam, mas também com os futuros cidadãos do planeta.
Educar para o humanismo solidário significa também promover uma “ética intergeracional”; isso significa a responsabilidade que uma geração tem sobre a outra e, todas elas, entre si. A riqueza de uma sociedade está justamente na saudável e harmoniosa relação entre as diversas gerações. Isso tem como consequência, a revisão dos parâmetros curriculares da formação acadêmica nas universidades (cf. N. 19-22).
- Promover redes de cooperação
A educação voltada para a promoção do humanismo solidário traz consigo grandes exigências administrativas; uma das mais significativas delas é a promoção da consciência da necessidade de promover redes de cooperação; não se pode educar isoladamente; nenhuma instituição educativa pode isolar-se do mundo e da história. A consciência da necessidade de se trabalhar em rede deve ser uma consequência coerente da promoção do Bem Comum.
Educar para o humanismo solidário promovendo redes de cooperação significa deixar-se levar por uma política dinâmica de inclusão de envolvimento e cooperação com outros atores sociais, escolares, acadêmicos de diversas áreas, e outros sujeitos.
Educar para o humanismo solidário significa o desenvolvimento de uma rede de cooperação com atividades educativas diferentes estimulando no corpo docente o senso de cooperação, de participação, de corresponsabilidade.
Uma rede de cooperação a serviço da promoção do humanismo solidário, exige também um envolvimento de muitos profissionais de diferentes áreas, como das artes, do comércio, das empresas, e intermediários da sociedade civil (cf. N. 25-26). Tudo isso significa a promoção do princípio da descentralização e da subsidiariedade educativa, em vista de otimizar recursos, evitar riscos, qualificar serviços etc. (cf. N.27).
- Perspectivas (cf. N.28-31).
- Continuar colocando no centro da proposta da vida pública, a educação e a formação escolar e universitária;
- Oferecer para a educação, princípios e valores que contribuem para a harmoniosa convivência pública;
- Com o lançamento da proposta educar para o humanismo solidário a Congregação para a Educação Católica relança a prioridade da construção da “civilização do amor”;
- A Igreja exorta todas as pessoas de diferentes profissões e vocações, que vivendo com paixão a missão educativa, estejam comprometidas em processos da educação para o humanismo solidário;
- O Papa Francisco criou a fundação “Gravissimum educationis” com as “finalidades científicas e culturais para promover a educação católica no mundo”;
- Os compromissos da promoção da cultura de diálogo, da globalização da esperança, da inclusão e das redes de cooperação demandam uma diversidade de níveis de experiência formativa da pesquisa, do estudo e extensão de ensino.
- É necessário promover experiências de estudo e pesquisas para que melhor compreendamos o significado da construção do mundo através da educação baseada nos valores da solidariedade cristã.
PARA REFLEXÃO PESSOAL:
- O que significa globalizar a esperança?
- Por que é importante a formação de uma rede de cooperação na educação?
- O que seria a “civilização do Amor”?
Fonte: CNBB Norte 2