Por Dom Antônio de Assis Ribeiro
Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Belém/PA
Introdução
Em 2017, por ocasião da celebração dos 50 anos da encíclica Populorum Progressio (PP), sobre o desenvolvimento humano dos povos, escrita pelo Papa Paulo VI em 1967, a Congregação para a Educação Católica lançou um documento com o título “Educar ao humanismo solidário”. É uma joia literária educativa que estimula os educadores e líderes sociais a promoverem a “Civilização do Amor” através da Educação.
A encíclica Populorum Progressio reflete sobre critérios para o verdadeiro desenvolvimento dos povos; segundo esse documento a questão da injustiça no mundo tem dimensões estruturais. Onde há estruturas e sistemas injustos ali a promoção da justiça deverá ser combatida através de uma nova arquitetura e cultura na sociedade. Isso passa inevitavelmente pela educação.
“O desenvolvimento exige transformações audaciosas, profundamente inovadoras. Devem empreender-se, sem demora, em reformas urgentes. Contribuir para elas com a sua parte, compete a cada pessoa, sobretudo àquelas que, por educação, situação e poder, têm grandes possibilidades de influxo” (PP, 32).
A partir de um processo de educação, que é direito de todos, os cidadãos devem se tornar participantes do desenvolvimento integral, em espírito de colaboração solidária, e declarar que “o desenvolvimento é o novo nome da paz” (PP, 87); o desenvolvimento é a passagem para condições mais humanas (cf. PP, 21). O documento se conclui com vários apelos específicos: aos católicos, aos cristãos e crentes, aos homens de boa vontade, às autoridades, aos intelectuais para a promoção da renovação da ordem temporal.
- A Educação e o desenvolvimento humano
A Encíclica Populorum progressio nos apresentou vários critérios para que o desenvolvimento humano possa ser autêntico, pleno, verdadeiramente humano e não simplesmente ser reduzido ao aspecto econômico, científico e tecnológico. A economia e a ciência devem estar a serviço da dignidade humana.
A humanidade não tem outra via para buscar o desenvolvimento pleno a não ser através da educação. “A educação será ineficaz e os seus esforços estéreis, se não se preocupar também por difundir um novo modelo relativo ao ser humano, à vida, à sociedade e à relação com a natureza» (N.2).
O documento “educar para o humanismo solidário”, retomando as provocações e os horizontes da PP, apresenta diretrizes para que a educação possa, de fato, em todos os contextos, contribuir para a promoção de um mundo mais humano e solidário.
- O cenário contemporâneo
O mundo atual vive muitos dramas; está multifacetado, em constante mudança, atravessando múltiplas crises. Estas são de várias naturezas: crises econômicas, financeiras, de trabalho; crises políticas, democráticas, de participação popular; crises ambientais, crises demográficas, políticas e migratórias etc. As consequências provocadas por tais crises revelam diariamente o seu carácter dramático que ameaçam o bem-estar da humanidade.
A paz no mundo está constantemente ameaçada; difunde-se a insegurança causada pelo terrorismo internacional; no campo político há fortes sentimentos populistas e nacionalistas; as desigualdades econômicas persistem e há uma injusta distribuição dos bens naturais. Esses males concorrem para a promoção da miséria, do desemprego, da exploração; enfim, para a decadência do humanismo porque está fundado no paradigma da indiferença à dignidade humana (cf. N. 3-4).
Por outro lado, há também no mundo um movimento em prol da solidariedade. “A globalização das relações é também a globalização da solidariedade”. Isso se manifesta nas correntes de solidariedade, nas iniciativas de assistência e de caridade quando acontece uma catástrofe em alguma parte do mundo. Todavia, tais gestos, muitas vezes ocasionais, não suprimem os problemas das desigualdades. Há uma urgência da promoção da cultura da solidariedade como conjunto de atitudes permanentes de cuidado e promoção da dignidade humana (cf. N. 5).
O homem contemporâneo vive uma grande contradição; se por um lado, há um enorme avanço científico e tecnológico, por outro, a humanidade carece de projetos humanitários. “O que, talvez, ainda falte é o desenvolvimento conjunto das oportunidades civis através de um plano educativo, capaz de explicar as motivações da cooperação num mundo solidário” (N.6). Eis porque é urgente a promoção de uma educação capaz de estimular o humanismo solidário.
- É preciso humanizar a educação
A educação deve estar a serviço da realização dos maiores e mais nobres objetivos da humanidade: o desenvolvimento harmônico das qualidades físicas, morais e intelectuais finalizados ao gradual amadurecimento do sentido de responsabilidade; a conquista da verdadeira liberdade; a positiva e prudente educação sexual, a capacitação para o diálogo, a consciência da promoção do bem comum (cf. N.7).
É preciso um sério investimento numa educação baseada em profundas concepções antropológicas saudáveis, de modo que possa dar respostas ao materialismo, ao individualismo, ao consumismo, à corrupção, ao relativismo, e a tantas outras formas de pensar e de organizar a vida porque depõem contra a dignidade humana.
É preciso humanizar a educação para ir ao encontro da vocação do ser humano. “Humanizar a educação” significa colocar a pessoa no centro da educação, num quadro de relações que compõem uma comunidade viva, interdependente, vinculada a um destino comum. É desta maneira que é caracterizado o humanismo solidário” (N.8). Humanizar a educação significa, ainda, perceber que é preciso renovar o pacto educativo entre as gerações, pois a Igreja afirma que «a boa educação familiar é a coluna vertebral do humanismo” (N.9).
“Uma educação humanizada, portanto, não se limita a fornecer um serviço de formação, mas cuida dos seus resultados no quadro geral das capacidades pessoais, morais e sociais dos participantes no processo educativo” (N.10).
- A promoção da cultura do diálogo
As nossas sociedades atualmente no mundo globalizado são profundamente marcadas pela interculturalidade, pela convivência multicultural de muitos povos, tradições, religiões e concepções de mundo diferentes. Isso naturalmente, às vezes, contribui para a incompreensões, exclusões, conflitos (cf. N. 11). O mundo é profundamente marcado pela beleza da diversidade.
Educar para o humanismo solidário significa também preparar as pessoas para que possam dialogar; o diálogo não é simplesmente troca de palavras, mas pressupõe a acolhida da diversidade, a aceitação do outro, o reconhecimento da sua dignidade, o respeito por seus valores. Educar para o humanismo solidário pressupõe ainda, quesitos importantes como o reconhecimento da liberdade e da igualdade entre todos os povos das mais variadas culturas; a consciência da mesma dignidade de todos, deve nos levar à busca incessante da paz, da justiça juntos, pois somos convocados a promover soluções para os problemas do mundo (cf. N.12). Educar para o diálogo deve ser um componente importante para todas as instituições educativas. (A reflexão continua)…
PARA A REFLEXÃO PESSOAL:
- Você já leu a encíclica Populorum Progressio? O que mais lhe chamou à atenção?
- Qual é a relação das crises contemporâneas com a Educação?
- O que que significa “humanizar a educação”?
Fonte: CNBB Norte 2