Educação Católica: a identidade do educador – Parte 3

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Por Dom Antônio de Assis Ribeiro
Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Belém – PA

 

Introdução

Refletindo sobre o binômio inseparável “evangelização e educação” nos deparamos com sérias consequências que devem caracterizar a educação católica. Sem esse cuidado não seremos capazes de perceber a identidade específica dela. Isso não será possível sem educadores que compreendam suas exigências. Por isso, nesta reflexão nos perguntamos: “educador para quê”?

Nenhum modelo de educação será levado a sério com suas características específicas se não houver educadores profundamente afinados com os ideais propostos. Assim como a medicina precisa de médicos e a religião de sacerdotes, a educação necessita de educadores. A meta da educação pressupõe o sério compromisso de profissionais autênticos que creem nas potencialidades do ser humano e no sentido da sua existência.

 

  1. O educador é um estimulador da humanização

Quando nascemos somos profundamente marcados pela dependência, somos radicalmente insuficientes, em tudo dependemos dos outros. Ao nascer precisamos, em tudo, de cuidados, até nas ações instintivas mais elementares, como o comer e o beber, se não morremos de fome e de sede. À medida que vamos nos desenvolvendo ganhamos subjetividade e relativa autonomia, mas nunca nos tornamos radicalmente autossuficientes.

O desenvolvimento humano não é “automático” (depende dos outros, é relação!) e nem espontâneo (precisa de intervenções e condições propícias!) como ocorre com os animais irracionais… (mais ou menos!). Nascer da espécie humana, não significa já “ser humanizado”, ou seja, capaz de usufruir de suas capacidades naturais como a inteligência, liberdade, vontade, afetividade, sociabilidade, espiritualidade, sexualidade, consciência, ludicidade… A educação é processo de humanização do “homo sapiens”!

Todo o enorme potencial humano que trazemos, para que possa desenvolver-se e estar a serviço da própria pessoa e da comunidade, precisa ser reconhecido, estimulado, cuidado, acompanhado, lapidado, orientado… É aí que contamos com o insubstituível papel dos nossos pais, educadores, amigos. Nessa tarefa concorrem as instituições básicas a serviço do desenvolvimento humano, a família, a escola e também os amigos. Estes são nossos cuidadores, nossos educadores. Quem nunca teve educador, permanece no estado bruto!

  1. O educador é um adulto de referência

Se somos quem somos hoje, é graças ao Amor cuidadoso e educativo de pessoas para conosco. Ainda não tínhamos nem consciência de ser gente e fomos beneficiados! Deles recebemos as condições necessárias, o afeto, o apoio e o estímulo necessário para crescer e sermos mais humanos!

A ausência de adultos de referência em nossa vida nos deixa um grande vazio. “Adulto de referência” foram (são) todas aquelas pessoas que nos facilitaram o “tornar-nos gente”, pessoas conscientes, livres, responsáveis, adultas, “descentralizadas”, capaz de fazer o bem, apaixonadas pela beleza da vida com todos os seus maravilhosos recursos. Todos canalizados para o bem pessoal e dos outros! Por seu papel de referência, não há espaço para o educador humanamente imaturo. Eis aí, antes de tudo, o papel do Educador: ser referência de ser humano (exemplo)! Quando crianças sempre admiramos adultos de referência, como que modelos! Por isso, muito de nós talvez tenha dito para alguém: “quando eu crescer quero ser como você ou como fulano”.

O Educador é aquele que, mais do que qualquer outro profissional, tem a consciência de ser referência, modelo, exemplo. Por isso seu testemunho de vida, de virtudes, é imprescindível. Para seus educandos a palavra, as ideias, os gestos, as atitudes e as opções do educador tem um enorme peso. Não cuidar disso, é um grave risco. Por isso que as instituições católicas devem zelar pela contratação e acompanhamento dos seus educadores.

  1. O educador estimula o potencial positivo

Educar é um ato humanista! É uma das atividades mais nobres que possa existir em relação ao ser humano, pois o educador o contempla, em estado bruto, carente, pobre, incapacitado, mas reconhece a sua grandeza, seu potencial positivo, sua transcendência.

Educar é ter paixão pelo ser humano e favorecer o desabrochar (abrir-se) do “Ser escondido!” Quem só explora o que está à “flor da terra”, em evidência, não é garimpeiro. Assim é o educador! O surgimento do ouro é fruto de uma luta de purificação e lavagem da terra! A família e a escola são como que a “bateia da vida”! E tudo dentro dela deve favorecer esse fim: as relações interpessoais, o ambiente físico, a postura dos educadores, a qualidade dos serviços técnicos etc.

Assim como o garimpeiro lava a terra em contínuo movimento com força e cuidado, também o educador estimula a superação dos excessos e desordens estimulando o surgimento do ouro humano, as virtudes. A meta da educação, como o desenvolvimento do ser, é a vivência das virtudes.

  1. Só pode educar quem ama

A missão do educador é extremamente nobre por isso não pode ser vivida de qualquer jeito! A missão do educador fala por si mesma de otimismo em relação ao ser humano (é capaz, é bom!), fala de esperança, possibilidade, futuro!

É preciso, então, que cada educador aprofunde a grandeza da natureza da própria missão em toda e qualquer circunstância. Que jamais se deixe roubar sua serenidade, sua paz, seu otimismo, seu senso de responsabilidade, sua ternura, firmeza e fineza.  “A educação é coisa do Coração”, dizia Dom Bosco. Portanto, só educa quem ama! Quem não ama, domina, ameaça, violenta, engana, traumatiza! Negar aos educandos a seriedade da educação é enganá-los! Por isso os pais (e) educadores devem ser honestos!

 

  1. Educar tem um custo e valor

Por causa da nobreza da educação, o ato de educar tem um significativo custo e valor! Antes de tudo, custa para o educador aceitar, respeitar, aprofundar e honrar sua própria profissão! É preciso nunca se deixar levar pela mentalidade mercenária, mas assumir uma postura de “Bom Pastor”! Educar custa! Custa a incompreensão e a ingratidão do educando (do presente!), custa a impaciência diante do ritmo dos processos de crescimento, custa a disciplina pessoal e interdisciplinaridade acadêmica (pedagógica), pois educar é uma ação conjunta!

Custa a sintonia com o projeto educativo institucional, a sinergia, falar a mesma linguagem! Custa, dependendo dos sujeitos em questão, acreditar na transformação do ser humano! O ser humano é surpresa! Quem pode imaginar o que serão amanhã as crianças de hoje!? Essa “surpresa” deve nos levar a assumir para com elas sempre uma atitude de profundo respeito e delicadeza! Amanhã poderemos exultar de alegria diante delas ou morrer de vergonha!

Caro educador, seja qual for a sua função na escola, dentro ou fora da sala de aula, recorde sempre da significatividade do olhar de cada educando, com suas expectativas, seus desejos, seus sonhos… Aja positivamente, de uma tal forma com seus educandos que, no futuro, quando adulto, possam se aproximar de si com liberdade e dizer-lhe com emoção e sinceridade: “professor (a), muito obrigado! O(a) Senhor(a) foi muito importante na minha vida, o senhor(a) muito contribuiu para o meu desenvolvimento humano. Se hoje sou feliz, devo muito à sua carinhosa contribuição. Muito obrigado! Deus lhe recompense!”. Essa será a sua maior alegria! Lute por isso!

PARA REFLEXÃO PESSOAL:

  1. Quais aspectos importantes do perfil do educador lhe chamou mais a atenção?
  2. O que significa afirmar que “a educação é processo de humanização do homo sapiens”?
  3. O que quer dizer que o educador é um adulto de referência?

Fonte: CNBB – Norte2

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