Educação católica: a dimensão sexual, afetiva, lúdica e espiritual

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Por Dom Antônio de Assis Ribeiro, SDB
Bispo Auxiliar de Belém – PA e Secretário Regional da CNBB Norte 2

 

Introdução

Quando falamos de educação integral significa o reconhecimento e o desenvolvimento das diversas dimensões do ser humano onde estão presentes as suas múltiplas potencialidades. Esse empreendimento implica também educar a dimensão sexual, afetiva, lúdica e espiritual.

 

  1. A dimensão sexual

O ser humano só existe enquanto «sexuado», como homem ou mulher e, dessas formas de ser, brota um dinamismo relacional com naturais características. A sexualidade é uma energia natural que dinamiza por inteiro envolvendo a totalidade do ser humano. Por causa da sexualidade, o ser humano tem consciência de ser masculino ou feminino; a sexualidade, não é definida unicamente pelos órgãos genitais, mas envolve o nosso modo de pensar, sentir, agir; ela permeia a totalidade da nossa vida.

A sexualidade é uma realidade que envolve fatores físicos e fenômenos biológicos, psicológicos e sentimentais que nos definem como masculinos e femininos, homem e mulher. A sexualidade masculina e a sexualidade feminina tem seus dinamismos próprios. Muito mais que uma questão orgânica, a sexualidade é uma energia que marca profundamente a nossa vida e, por isso, exige a nossa responsabilidade pessoal. Porque somos inteligentes, somos gestores da nossa sexualidade, consequentemente é exigido de nós clareza, prudência, respeito para com o outro, liberdade e responsabilidade.

A sexualidade é uma profunda dimensão do ser humano: é biofisicamente condicionante; psicologicamente estruturante e unificadora do ser humano. A sexualidade define nosso modo de ser no mundo, independente da cultura, da religião e das ideologias. Ser mulher e ser homem não são meramente definidos pela vontade, pois há dinamismos que precedem a nossa consciência. Fomos chamados a ser! É dom, vocação!

Atualmente no campo da vivencia da sexualidade temos uma enorme lista de males causadores de grande sofrimento e crimes, como os assédios sexuais, pedofilia, abuso sexual, estupro, pornografia, comercialização do corpo, frustração, doenças as físicas (DST) e psicossexuais, gravidez indesejada, aborto, violência sexual, traição, ciúme, feminicídio, solidão… etc. Isso acontece por falta de educação da dimensão sexual; dessa forma, o ser humano vive à deriva dos próprios instintos, sendo assim intemperante, desequilibrado, imprudente,  irresponsável, violento…

  1. A dimensão afetiva

A afetividade é a dimensão da nossa capacidade de amar; é a dimensão do querer bem ao outro! Ela se manifesta na necessidade de sermos acolhidos e acolher, protegidos e proteger, dar e receber, querer e ser querido. Essa dimensão tem uma profunda e íntima relação com a sexualidade, pois aquele que ama, tem a consciência de ser sexuado; sendo homem ou mulher, com atitudes e sensibilidade específicas.

A afetividade é a dimensão da ternura, proteção, cuidado, da cordialidade e que se expressa inevitavelmente através do corpo por meio de atitudes: carinho, beijo, abraço, rejeição, violência… Uma afetividade integrada é saudável e serena, o contrário, é repulsiva e violenta. O ser humano precisa ser educado para o exercício da capacidade de amar.

Quem não foi educado em sua afetividade vive fechado em si mesmo, com baixa autoestima, sente-se ameaçado, com medo dos outros, inseguro, agressivo, apático, pegajoso, invasivo, incontinente, ciumento, frio, interesseiro; deixa-se arrastar pelas antipatias, é indiferente às oportunidades de amizade e solidariedade. Por outro lado, uma pessoa com uma afetividade bem educada e integrada, é madura, serena, capaz de relacionamento universal (aberto a todos), respeita o espaço do outro, é generosa, oblativa sendo capaz de fazer-se oferta para os outros…

  1. A dimensão lúdica

A dimensão lúdica está relacionada à necessidade da distensão, relaxamento, repouso, equilíbrio psíquico-físico, prazer. É a dimensão que nos proporciona experiência do jogo e da diversão. Só o ser humano é capaz de divertir-se, brincar, cantar, dançar! Da dimensão lúdica brota em nós a experiência do humor, do riso, da festa, da música, da aventura, do esporte, da competição. Essa experiência é um componente da nossa saúde mental.

Atualmente a indústria do lazer, aliada à cosmética, é uma das que mais cresce pelo mundo afora movimentando bilhões de dólares todos os anos. Todavia, na contemporaneidade a dimensão lúdica se tornou campo de grandes cobiças, conflitos, crimes financeiros.

A educação lúdica se preocupa com a promoção da harmonia da pessoa entre repouso e trabalho, mas vai além: a educação para a ludicidade estimula o educando a saber se divertir, jogar, competir, repousar, perder, ganhar… Quem quer ganhar a todo custo carece de formação lúdica. Como se diz popularmente: “o importante não é ganhar, mas participar”. Todavia, essa postura é uma conquista que provém da educação. Quem não sabe perder, na experiência da derrota se torna uma grande ameaça para os outros. Isso deve ser desde cedo trabalhado com muita firmeza nas crianças. A vida é como uma gangorra: cheia de sobe e desce, crises e calmarias, vitórias e derrotas.

  1. A dimensão espiritual

A pessoa humana não é só matéria (corpo). Por isso o corpo não subsiste por si mesmo. A corporeidade depende fundamentalmente da alma, a sua dimensão invisível que dinamiza a matéria. Corpo e espírito são inseparáveis; quando isso acontece, ocorre a morte da pessoa. Mas corpo e espírito não têm a mesma natureza.

O corpo, marcado pela materialidade, é frágil, condicionado ao espaço (peso, tamanho), submisso ao tempo, às condições ambientais (calor, frio, altitude, profundidade…). Por isso é passível de mudanças, acidentes, ferimentos, ruptura, fraqueza, envelhecimento, doença e morte! Bem diferente, contudo, é a alma. Sendo de origem divina, o sopro de Deus em nós, ela é caracterizada pela transcendentalidade.

A espiritualidade, projeta a pessoa para o infinito, para a eternidade, para superação dos próprios limites. A dimensão espiritual traz ao ser humano a esperança e a possibilidade da Vida Eterna. O espírito não envelhece! Da consciência da espiritualidade depende o sentido da vida, a experiência da fé, a superação das aflições, a resiliência, a preservação da própria integridade após um sofrimento padecido. O materialismo é uma tentação para a educação.

A educação que não ultrapassa o mundo material, subtrai a pessoa do verdadeiro sentido da vida terrena; sem essa perspectiva a pessoa humana é vista como um ser “que caminha para a morte” onde tudo se acaba. Enfim, a espiritualidade nos abre à possibilidade do reconhecimento e da relação com o nosso criador. Através da espiritualidade o ser humano dialoga com Deus, o bem Supremo, do qual colhe força, ânimo, coragem, conforto, inspiração, sabedoria… A dimensão espiritual assume especial visibilidade através da opção religiosa, mas ao mesmo tempo, a transcende e a fundamenta.

 

PARA A REFLEXÃO PESSOAL:

  1. Qual é a diferença entre sexo e sexualidade?
  2. Por que é necessário educar a dimensão afetiva?
  3. Qual é a importância da nossa dimensão espiritual no dia a dia?

Fonte: CNBB – Norte2

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