“Por que estais procurando entre os mortos aquele que está vivo?” – Lc 24,5
Não sei quanto a você, mas entram e saem as décadas e eu ainda sinto um arrepio me percorrer de alto a baixo, normalmente acompanhado de algumas lágrimas, no instante em que os sinos tocam e toda a “igreja” canta unida o “Glória”.
Após uma semana, capaz de exaurir física e emocionalmente muitos cristãos, vem aquele sopro, aquele desengasgo, aquela vontade de pular, gritar, abraçar conhecidos e desconhecidos. Vem Jesus e diz com um sorriso escancarado: “ei, estou bem aqui!”
(E tudo se renova, volta a brilhar. Os luzeiros relembrados na leitura do Gênesis, aqueles que separam o dia da noite (Gn 1,16), parecem apagadinhos diante da luz que é o próprio Jesus. É tudo tanto e tão profundo e irradia de tal maneira que até a gente se sente meio brilhante. Parafraseando um jovem padre: “cola em Jesus que você brilha”.)
Jesus: o fogo novo
Depois de uma sexta-feira mergulhados no silêncio do mais sofrido velório da humanidade, na dor de sermos cúmplices pela morte de um inocente, volta-nos o ar aos pulmões. Entendemos profundamente a misericórdia de Deus e o valor da entrega de Jesus na cruz durante a Semana Santa. Somos tão amados que a morte já não é o nosso fim.
Assim, admirados pela dimensão do perdão divino, do amor de Cristo por nós, observamos o reacender da esperança.
Daquele fogo simbólico, “queimando no chão”, sai a chama que acende nosso “luzeiro”: o Círio Pascal. É ele que durante toda a Oitava de Páscoa, e nas sete semanas do Tempo Pascal, tem lugar garantido em todas as celebrações.
A bênção do Fogo Novo aconteceu no pátio do salão paroquial da Matriz Nossa Senhora da Saúde, com o bispo diocesano, Dom Marco Aurélio Gubiotti, e o pároco Padre Paulo Marcony Duarte Simões.
Dezenas de fiéis participaram e seguiram juntos em procissão rumo à igreja matriz, onde outras dezenas aguardavam.
A “entrada do Círio Pascal” no templo é sempre um momento de grande expectativa e ansiedade. Há um silenciar pedindo para ser quebrado. Velas e mais velas são acesas. Os que chegam da procissão vão se acomodando. O padre ergue o Círio… e a gente tem um vislumbre do alívio que sempre vem com o anúncio da Páscoa do Senhor – mas que só desengasga quando os sinos parecem retumbar até dentro da gente e a língua presa, pela dor da sexta-feira, se desenrola e, sendo ou não afinados, os ecos de “glória a Deus nas alturas” explodem no templo e dentro de cada cristão.
A liturgia mais linda do ano cristão (católico)
A verdade é que nem todo católico celebra o Sábado Santo – o que é um “pecado” com a liturgia mais linda do ano (na minha opinião, claro!).
É neste sábado que partimos do princípio, do Livro do Gênesis, para a glória do Evangelho da ressurreição – um “passeio por toda a história da salvação” (Dom Marco Aurélio).
São sete leituras do Antigo Testamento intercaladas por salmos e orações. Uma cantoria que só se vê no Sábado Santo.
Do Novo Testamento (duas leituras, uma delas o Evangelho), São Paulo (Rm 6,3), logo de cara, nos interpela: “Será que ignorais que todos nós, batizados em Jesus Cristo, é na sua morte que fomos batizados?” Na sequência da leitura, o apóstolo dos gentios acrescenta: “Pelo batismo na sua morte, fomos sepultados com ele, para que, como Cristo ressuscitou dos mortos pela glória do Pai, assim também nós levemos uma vida nova”.
E que vida nova Jesus nos propõe!
Nascidos em Cristo
Dada a natureza da Santa Missa, na qual celebramos o mistério da Paixão, Morte e Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, sorrisos durante a celebração não são comuns. É difícil imaginar Jesus sorrindo no seu último dia com os amigos, na última ceia – origem da nossa história milenar no que tange à Celebração Eucarística.
Mas celebrar a alegria da Páscoa, ainda que na contenção dos alardes, sempre termina em sorrisos. Sobretudo se, no meio da liturgia mais linda do ano, houver celebração dos sacramentos. Aí, até o bispo não resiste.
Quem participou do Sábado Santo na Matriz da Saúde viu a tradicional seriedade de Dom Marco Aurélio ser suavizada pela graça da adesão de cinco jovens à Cristo. Toda a Igreja celebra quando o percurso da missão de anunciar a Boa Nova rende frutos para a vinha do Senhor.
Andreza Santos Pinheiro Silva, Bruna dos Santos Pereira Bretas, Camila Soares Cordeiro, Morgana Souza Barbosa e Ruan Souza Barbosa percorreram durante pouco mais de um ano a caminhada da Iniciação à Vida Cristã de Adultos na Comunidade Matriz. Fizeram seu próprio encontro com Jesus e a descoberta desta intimidade com o Rei dos reis resultou num sim muito pessoal: “eu creio!”
“A presença de vocês enriquece esta celebração tão bonita, tão festiva da Páscoa da Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo” – Dom Marco Aurélio Gubiotti
Ao fazer referência às leituras do Sábado Santo, deste “passeio pela história da salvação” através das nove leituras, Dom Marco Aurélio frisou que a
“História da salvação é o objeto principal da catequese” e que “ela (catequese) é justamente para nos ajudar a aprofundarmos no mistério da nossa fé. A Palavra de Deus fecunda o nosso coração, produz os seus efeitos. Nós cremos na Palavra! Pelo batismo, somos chamados a fazer a experiência pascal do Cristo, morrer para o pecado e ressurgir para uma vida nova”.
(Uma homilia belíssima que você pode conferir na página da Paróquia Nossa Senhora da Saúde, no facebook, clicando aqui)
“A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular” (Sl 118,22)
Aleluia, Aleluia, Aleluia! Este foi o refrão do último salmo cantado no Sábado Santo. Demos graças ao Senhor porque Ele é bom. Eterna é a sua misericórdia.
Na sequência, o Evangelho do dia “proclamou” que o Cristo ressuscitou dos mortos e foram as mulheres as primeiras testemunhas da glória de Jesus.
“Lembrai-vos do que ele vos falou, quando ainda estava na Galileia: ‘O Filho do Homem deve ser entregue nas mãos dos pecadores, ser crucificado e ressuscitar ao terceiro dia’” (Lc 24,7).
“Para vivermos de fato o nosso batismo, nós precisamos fazer a experiência das mulheres que visitam o túmulo de Jesus. Nós que já fomos batizados precisamos reassumir o nosso compromisso missionário de anunciar a todos a alegria do Evangelho. Num ano de muita inflação, a páscoa pode até não ter ovo, nem chocolate, mas não pode ter páscoa de verdade sem reassumir o compromisso de anunciar o amor de Deus e o Evangelho.” – Dom Marco Aurélio
Durante toda a Semana Santa ouvimos nas homilias do Padre Paulo Marcony como a Pedra Angular foi rejeitada e continua sofrendo rejeições.
A Campanha da Fraternidade deste ano, “Fraternidade e Educação/Fala com sabedoria, ensina com amor”, nos apresenta uma pequenina parte dos desafios de seguir Jesus. Uma educação excludente, que privilegia alguns em detrimento de tantos; que não educa também para a fé em Cristo; que não ensina como o Mestre ensinava… é uma educação que rejeita os fundamentos da Pedra Angular.
Celebramos a Páscoa, renovamos as promessas do nosso batismo – uma nova oportunidade de aceitar Jesus como a pedra que suporta toda a nossa fundação. A base para aquilo que queremos ser e a mão estendida para a nossa última passagem, aquela que todos nós faremos na reta final desta breve vida.
Que possamos ser fiéis ao Cristo, o Deus Encarnado, de maneira que ao fim da nossa própria jornada também Jesus possa dar glória ao Pai por todos aqueles que o Pai lhe confiou.
(Que com a graça de Deus e a sabedoria do Espírito Santo possamos estar entre aqueles que farão sua páscoa com Jesus. E, quem sabe (?), sejam os anjos a tocarem os sinos lá nos céus).
Até lá, no entanto, que possamos significar diariamente com ações a grandeza da entrega de Jesus na cruz, sendo testemunhas fiéis e corajosas da sua ressurreição.
Liliene Dante
Fotos da Semana Santa com procissões, celebrações, bem como do Tríduo Pascal e Domingo de Páscoa nas três comunidades paroquiais estão disponíveis na página da Paróquia Nossa Senhora da Saúde no facebook.
Abaixo, celebração dos sacramentos de Andreza, Bruna, Camila, Morgana e Ruan.