Dona Naná: tradição do presépio é mantida há 59 anos

Dona Naná: tradição do presépio é mantida há 59 anos

São tantos detalhes, carinhosamente organizados, que é preciso um bom tempo de horas para dar conta de todo esse cuidado. A gente pode se perder em devaneios natalinos, resgatar memórias de uma infância há muito deixada para trás. É tanta “belezura” e delicadeza que nenhum coração, por mais duro que seja, sai daqui sem, pelo menos, um “pingo de ternura” pra levar.

Aliás, ternura é marca estampada na face de Maria Visitadora da Paixão – Dona Naná -, que descreve, com clareza, os 59 anos de uma tradição que aprendeu com a mãe, Olívia Tereza de Souza (já falecida). Com a voz doce, ela relata que começou ajudando a mãe na montagem do presépio, ainda criança. Mais tarde, quando dona Olívia adoeceu e ficou acamada, foi ela quem montou sozinha o presépio da família. Sobre isso, a história merece um parágrafo a parte.

Embora não se lembre o ano, Naná relata que, após o comentário do pai de que “esse ano não vai ter presépio” – porque a mãe, adoentada, não teria condições de montar -, decidiu fazê-lo sozinha. Quando o pai chegou do trabalho, naquele mesmo dia, encontrou o presépio montado e foi falar com a esposa. A surpresa de dona Olívia foi tamanha que ela pediu a ajuda do marido para sair da cama e descer as escadas: queria ver o presépio. Naná, com uma alegria quase infantil nos olhos, conta que, ao ver o presépio, a mãe se iluminou, pegou o terço e começou a rezar. Do dia seguinte em diante, dona Olívia “se aprumou”, “saiu da cama curada, não ficava mais lá esperando a morte”. A notícia da recuperação levou a vizinhança e amigos a denominarem o fato de “o milagre do Menino Jesus”.

A relação de Naná com o cristianismo já começou pelo nome. Ela nasceu às 15h, numa Sexta-feira da Paixão, em Barão de Cocais. Talvez, ali mesmo, já estivessem escritos muitos dos desafios que teria que enfrentar ao longo da vida. Ainda criança teve “varicela” (catapora), mas ao contrário do que normalmente acontece, Naná foi acometida de graves sequelas. Sem o atendimento e atenção necessários, sobretudo porque morava na zona rural, ela ficou surda de um ouvido e perdeu a maior parte da audição no outro; também teve a visão comprometida. No entanto, só veio a confirmar a surdez, já adulta, mas nunca falou sobre isso com os pais. A doença também deixou marcas pelo corpo e cicatrizes profundas que só se percebe quando de um diálogo e escuta de coração aberto: “quando minha irmã morreu de gastroenterite, eu falei que não tinha problema ela ter morrido. Todo mundo me achava feia, ninguém me enxergava: surda, cega e sem dentes…”

A dor do outro é tão particular que a gente, na escuta, se silencia até as profundezas porque perde as palavras que consolam. No entanto, como cristãos, a gente também aguarda, durante todo relato, por aquele instante da “virada”, aquele segundo em que o rumo da história muda…

Assim se deu com Naná e, segundo ela, graças “ao santo Padre Ilídio Quintão”, grande incentivador para que assumisse a participação em várias atividades na Paróquia Nossa Senhora da Saúde. Uma redenção para quem era considerada, inclusive pelo pai, como incapaz.

Deste momento em diante, Naná passou a conduzir as Campanhas da Fraternidade e de Natal na sua vizinhança; entrou para o coral, mesmo com o problema auditivo; participou de várias formações da Igreja e descobriu que nela estavam o seu refúgio, a sua fortaleza: Jesus e a Virgem Maria. Completamente integrada à rotina da paróquia, é presença certa nas missas e em várias atividades.

O presépio, tradição da qual ela não abre mão, é também reflexo desta construção interna da fé. A beleza, retratada no cuidado e nos detalhes que ocupam quase metade do espaço da sala, já foi, inclusive, premiada em um concurso de presépios. A imagem de Nossa Senhora Aparecida ocupa um lugar de destaque. Segundo Naná, ela foi doada ao pai por um hoteleiro de Aparecida de Norte. É uma imagem fac-símile que teria “tocado na imagem real”.

Há muitas histórias emocionantes que despontam num bate-papo com essa senhora de 80 anos. Uma “Florzinha” de pessoa, de doçura e entrega nas mãos do Criador.

Observando o presépio, neste Tempo de Advento, e ouvindo as suas histórias, bem ali, ao pé desta tradição, a gente se sente motivado a repensar até esta espera pelo Menino Jesus… E não como uma espera só pelo dia, talvez e sobretudo… pelo milagre que a chegada do Menino é capaz de promover dentro da gente e de transformar toda a nossa vida – pra melhor, claro!

Assessoria de Comunicação

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