Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor

Imagem ilustrativa de Frei Fábio Melo Vasconcelos

Por que não antes?

 

Frei Gustavo Medella

“Então Jesus deu um forte grito e expirou. Quando o oficial do exército, que estava bem em frente dele, viu como Jesus havia expirado, disse: ‘Na verdade, este homem era Filho de Deus!’” (Mc 15,37.39).

Domingo de Ramos da Paixão do Senhor. O trecho do Evangelho de Marcos proposto na celebração narra o processo de condenação e execução de Jesus. Desta vez, chamou-me a atenção os dois versículos que estão ao final do relato e que foram destacados na abertura desta reflexão.

Pus-me a imaginar no grande privilégio daquele oficial do exército, frente a frente com Jesus quando o Filho de Deus entrega definitivamente o seu Espírito ao Pai. Que pensamentos e sentimentos não teriam tomado a mente e o coração daquele homem que, numa fração de segundos, passa de algoz a discípulo?

Também me detive sobre a expressão “expirou”. O gesto de Jesus teria sido, para aquele militar, um Pentecostes antecipado, no qual o Espírito lhe abriu os sentidos para acolher a bondade e o amor propostos pelo Filho do Homem? Sábia e consistente a máxima que diz: “O Espírito sopra onde quer”.

Também me perguntei: “Por que não antes?” Por que foi preciso uma verdadeira avalanche de injustiça, humilhação e violência para que aquele homem pudesse reconhecer uma verdade que Jesus vinha apresentando com tanta mansidão e coerência? O óbvio nem sempre é fácil de ser assimilado.

Não pude ainda deixar de recordar a contradição presente nesta data celebrativa. Por que tamanho extremismo? Dos “vivas e hosanas”, enfeitados com ramos a e tapetes na entrada de Jesus em Jerusalém, passa-se facilmente à dureza do grito de “crucifica-o”, potencializado por agressões físicas e morais, pelas bofetadas, cusparadas, zombarias, pelos espinhos penetrantes da coroa e pelas feridas dilacerantes causadas pelos pregos. A superficialidade da aclamação facilmente deu lugar a uma profunda crueldade que vinha sendo gestada no coração dos poderosos da religião e da política. Eles não suportaram a ação gratuita e transformadora da graça divina manifesta em Jesus.

Procurei também olhar para mim, para minha vida de fé… Será que não tenho deixado passar em minha vida o dom da graça de estar frente a frente com Jesus? Não posso estar sendo indiferente ou negligente com o Senhor que sofre e padece diante de meus olhos? Tenho medo do perigo de me dar conta disso tudo quando for tarde demais.

Pelo que percebo, esta Semana Santa será, para mim, tempo de mais perguntas do que respostas. Peço a Deus a graça de viver estes questionamentos com intensidade e que a meditação destes mistérios  seja capaz de me tornar uma pessoa melhor, mais generosa, mais sensível, mais comprometida com a proposta apresentada por nosso Senhor com a doação generosa da própria vida.

Fonte: Franciscanos


FREI GUSTAVO MEDELLA, OFM, é o atual Vigário Provincial e Secretário para a Evangelização da Província Franciscana da Imaculada Conceição. Fez a profissão solene na Ordem dos Frades Menores em 2010 e foi ordenado presbítero em 2 de julho de 2011.

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