Dom Marco Aurélio: ‘Não sabemos se corremos o mesmo risco que Mariana’

A Diocese de Itabira-Coronel Fabriciano se prepara para receber a IV Romaria das Águas e da Terra, que será realizada em Itabira, no dia 2 de junho. A romaria chega em nossa cidade em um momento conturbado para os mineiros, com todas as tensões, medos e angústias provocados pelos rompimentos de barragens em Mariana e Brumadinho e as incertezas da população de Barão de Cocais com o possível rompimento de outra barragem.

Neste contexto, Dom Marco Aurélio Gubiotti fala de seus próprios temores diante da situação: “me sinto atingido, porque estou nesta cidade (Itabira) com muitas barragens…” e da importância de “somar forças com os comitês populares, inclusive como um que existe aqui em Itabira para discussão das barragens, nos juntar aos poderes públicos…”

Transcrevemos, abaixo, a matéria publicada no Jornal Diário de Itabira, na edição de quinta-feira, 23/04. Confira a entrevista dada por nosso bispo diocesano.

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Por morar em uma região considerada de risco e estar constantemente em cidades com muitas barragens, o bispo da Diocese de Itabira e Coronel Fabriciano, dom Marco Aurélio Gubiotti, afirmou que também se sente atingido. “Segundo o Movimento de Atingidos por Barragem, esse conceito de atingido não é determinado pelas empresas. É a pessoa quem diz que se sente atingida. Então, se a pessoa se sente atingida, já devemos considerá-la uma atingida”, disse ele.

“Alguns anos atrás, cerca de seis meses depois do que ocorreu em Mariana [rompimento da barragem na mina de Fundão, em novembro de 2015], fui procurado por representantes da Vale e disse: ‘Me sinto atingido’. Atingido porque estou nesta cidade [Itabira] com muitas barragens e não sabemos se corremos o risco de acontecer o mesmo que aconteceu em Mariana. Jamais eu poderia imaginar que aconteceria o que aconteceu em Brumadinho, anos depois, e ver que eu estava certo em me sentir atingido por uma barragem”, completou o religioso.

Na opinião dele, a questão exige o envolvimento de toda a sociedade.

“Este problema é um problema social. Não é responsabilidade só da Igreja. Toda a sociedade civil organizada deve se sentir responsável por participar da discussão a respeito disso. O comprometimento que a Igreja tem com as pessoas vai além dos católicos e chega aos que são de outras religiões, igrejas, credos e aqueles que não acreditam”, ressaltou o bispo.

Dom Marco Aurélio negou protagonismo da Igreja Católica nos movimentos dos atingidos por barragens “O santo padre [papa Francisco] nos ensinou que os bens da natureza são propriedades de todos nós. É nossa casa comum e desta casa, não temos nenhuma outra opção. Por isso, qualquer cidadão deve se sentir responsável e, de maneira mais concreta, a sociedade civil organizada e a Igreja são alguns desses organismos”, completou o bispo.

“Precisamos somar forças com os comitês populares, inclusive como um que existe aqui em Itabira para discussão das barragens, nos juntar aos poderes públicos. Não podemos deixar de fora ninguém e entramos nesse movimento de luta, de engajamento, de luta pelas reivindicações”, destacou o religioso.

Após o ocorrido em Mariana, era esperado que houvesse uma maior atenção das empresas para evitar que novos crimes ambientais acontecessem. “A gente não queria acreditar que isso se repetisse, mas voltou a ocorrer em Brumadinho [rompimento da barragem na mina de córrego do Feijão]”, finalizou o bispo.

 

Assessoria de Comunicação

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