Dom Angelo recorda o cardeal Hummes: morreu como um verdadeiro franciscano

Dom Cláudio Hummes durante Sínodo para a Amazônia / Vatican News

Nestes últimos 4 meses, o bispo auxiliar da Arquidiocese de São Paulo, dom Angelo Ademir Mezzari, foi agraciado em conviver diariamente com dom Claudio Hummes. Mesmo com o agravamento do câncer, “sempre às 7h30 da manhã lá estava ele, devagarinho: muita fé, muita fé! Uma oração intermitente, uma veneração à Eucaristia e à plena comunhão”. Dom Angelo conta sobre a espera da “irmã morte” na fé, na certeza que Cristo estava junto, e que aconteceu em casa: “um verdadeiro franciscano!”.

 

Por Andressa Collet

“Recebo com muita tristeza, mas também na esperança da vida da Ressurreição a notícia da morte do cardeal dom Claudio Hummes”, afirmou em declaração ao Vatican News o bispo auxiliar da Arquidiocese de São Paulo, dom Angelo Ademir Mezzari. Ele está na Itália desde a semana passada por ocasião do XIII Capítulo Geral da Congregação dos Rogacionistas do Coração de Jesus, da qual já foi superior geral (2010-2016).

Dom Angelo conta que recebeu de dom Odilo Scherer no início de março “a responsabilidade de organizar e coordenar a celebração das missas com dom Claudio sempre às 7h30”, porque ele já não se sentia mais em condições de presidir sozinho as Eucaristias. Foram cerca de 4 meses de comunhão fraterna na casa de dom Claudio, que inclusive ficava na mesma região episcopal de dom Angelo, e onde na manhã desta segunda-feira (4) o arcebispo emérito de São Paulo e prefeito emérito da Congregação para o Clero faleceu aos 87 anos. Era ali na residência na zona sul de São Paulo que dom Claudio recebia cuidados paliativos após um quadro irreversível de câncer.

A graça do encontro diário com dom Cláudio

Um período de grande aprendizado para o bispo auxiliar de São Paulo que nunca tinha tido “a graça de partilhar a vida dele em vários momentos”. Foram 4 meses para se aprender a viver com o sofrimento natural de uma doença “a luz da fé, do amor e da esperança”, como também um tempo para se celebrar com dom Claudio e conhecer a fundo as suas mais diferentes missões:

“Estes momentos pessoais, quando a doença estava se agravando, foram para mim de grande sinal e grande testemunho. Tínhamos a graça também, pelo menos nos primeiros tempos, logo depois da missa, de tomar café com ele e, claro, também recebia outros bispos e sacerdotes que vinham.”

Como é o caso de dom Odilo Scherer que, com preocupação e cuidado com dom Claudio, sempre “teve uma atitude de pai” auxiliando nas necessidades mais pontuais da doença. Uma condição física, disse dom Angelo, que nunca o impediu de demonstrar o seu “amor à Eucaristia”:

“Mesmo nos últimos tempos, quando devido o avançamento do câncer, com as dificuldades no pulmão, também de respiração, teve alguns dias no hospital; o momento da Consagração era muito sagrado e ele fazia um esforço enorme – sobretudo nos últimos tempos – para rezar em voz alta também o momento da Consagração do pão e do vinho. Mas era sagrada missa, então, desde o começo até nesses últimos 4 meses, 7h30 da manhã, lá estava ele, devagarinho, os últimos tempos ainda caminhando – até caminhou nos outros dias: muita fé, muita fé! Uma oração intermitente, uma veneração à Eucaristia e à plena comunhão.”

Dom Cláudio esperou ‘a irmã morte’

O grande testemunho de amor à Igreja era demonstrado pelo amor à Eucaristia, a Jesus Cristo, ao Papa Francisco, à Arquidiocese de São Paulo e, sobretudo, lembrou dom Angelo, à Amazônia através de um legado de muita alegria e também despojamento, já que “ele foi se despojando de tudo, com muita liberdade, deixando tudo que tinha vivido e que tinha passado, e se colocando nas mãos de Deus. Ele sabia que a sua hora iria chegar”. Um aspecto que o bispo auxiliar considera fundamental e de ensinamento para todos, assim como a sua espiritualidade franciscana:

Ele esperou a irmã morte. Nos últimos tempos não queria se submeter ao tratamento de saúde que poderia deixar de viver a dor e o sofrimento. E ele viveu a dor, o sofrimento e a perda das forças com espírito de fé e aquele espírito de alguém que estava chegando. Eu ainda celebrei com ele antes de vir para Roma, foi no dia 26 de junho, e ainda tomei um cafezinho com ele. Ele estava bem debilitado, ainda tive a oportunidade de ajudá-lo a sentar e se levantar.”

“Mas, que testemunho! Estava bem tranquilo, claro, respirando com dificuldade, mas ele esperou na fé, no amor, na certeza de que Cristo estava com ele; a irmã morte que chegava. Um verdadeiro franciscano!”

Um homem que todos já conheciam como “muito sereno, altivo, se colocava diante das coisas com equilíbrio e naturalidade”, mesmo tendo vivido uma história tão significativa como religioso, bispo e cardeal”.

Eu tive a graça, uma graça que é de poucos, de poder estar acompanhando ele diariamente, porque nesses últimos meses ele se recolheu nesse silêncio, nessa oração, nesse dia a dia com muita fé. E aguardava. E esperou e, como ele tanto pediu, ele morreu em casa, onde residiu nesses últimos anos, onde exerceu o seu ministério, onde foi chamado pelo Papa em relação a Repam e depois também a Ceama.”

“Tu és pó e ao pó retornarás”

Segundo informações da Arquidiocese de São Paulo, o velório e os ritos fúnebres serão realizados na Catedral Metropolitana de São Paulo, com início na segunda-feira (4). O sepultamento será na Cripta da Catedral, conforme desejo do cardeal Hummes:

“Lá na Catedral da Sé ele pediu para ser sepultado na terra. Então, lá na cripta, eles encontraram um modo lá, não nas laterais, mas no chão. Aquele espírito mesmo da vida eterna ‘do pó tu és, e ao pó retornarás’. Então foi encontrado, diante de algumas dificuldades, no solo da cripta, o modo de ele ser sepultado em contato com a terra.”

Fonte: Vatican News

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