Dimensão Pneumatológica da Igreja

“A Igreja não existe por si mesma, mas deve ser o instrumento de Deus, para reunir todas as pessoas nele e preparar o momento em que “Deus será tudo em todos”. O esquecimento disso converterá a Igreja em mera luta pelo poder e simples oposição de grupos internos, como demonstra o período posterior ao Concílio, pela valorização unilateral da imagem bíblica de Povo de Deus, de acordo com o Relatio finalis do Sínodo de 1985.”

A Igreja, “instruída pelas palavras de Cristo, indo beber à experiência do Pentecostes e da própria «história apostólica», proclama desde o início a sua fé no Espírito Santo, como n’Aquele que dá a vida, Aquele no qual o imperscrutável Deus uno e trino se comunica aos homens, constituindo neles a nascente da vida eterna.”

Vindo de Jesus e graças a Ele, a descida do Espírito Santo sobre a Virgem Maria e os Apóstolos reunidos no Cenáculo marca o nascimento da Igreja. O Espírito Santo, o Paráclito, o Consolador, continua no mundo, mediante a Igreja, “a obra da Boa Nova da salvação.” Além de continuar a “inspirar a divulgação do Evangelho da salvação”, também ajuda “a compreender o significado exato do conteúdo da mensagem de Cristo”, assegurando “a continuidade e identidade de compreensão dessa mensagem, no meio das condições e circunstâncias mutáveis. Por conseguinte, o Espírito Santo fará com que perdure sempre na Igreja a mesma verdade, que os Apóstolos ouviram do seu Mestre.”

Dando continuidade às suas reflexões sobre a Constituição Dogmática Lumen Gentiumpadre Gerson Schmidt* nos fala hoje sobre a “Dimensão Pneumatológica da Igreja”:

“A dimensão cristocêntrica da Igreja não pode estar separada da dimensão pneumatológica, ou seja, a Igreja constituída, guiada e conduzida pelo Espírito Santo. A palavra grega “pneuma”, significa espírito, sopro animador ou força criadora. Quer dizer que a Igreja, a partir da Lumen Gentium, não pode ser pensada sem Jesus Cristo e sem o Espírito Santo, como condição para ela produzir frutos.

O número 4 do documento retrata muito bem essa consciência, porque a entende como a última determinação da Igreja. Diz assim a o número 4 da LG: “O Espírito habita na Igreja e nos corações dos fiéis, como num templo (cfr. 1 Cor. 3,16; 6,19), e dentro deles ora e dá testemunho da adoção de filhos (cfr. Gál. 4,6; Rom. 8, 15-16. 26). A Igreja, que Ele conduz à verdade total (cfr. Jo. 16,13) e unifica na comunhão e no ministério, enriquece-a Ele e guia-a com diversos dons hierárquicos e carismáticos e adorna-a com os seus frutos (cfr. Ef. 4, 11-12; 1 Cor. 12,4; Gál. 5,22). Pela força do Evangelho rejuvenesce a Igreja e renova-a continuamente e leva-a à união perfeita com o seu Esposo. Porque o Espírito e a Esposa dizem ao Senhor Jesus: «Vem» (cfr. Apoc. 22,17). Assim a Igreja toda aparece como «um povo unido pela unidade do Pai e do Filho e do Espírito Santo”.

A Igreja não existe por si mesma, mas deve ser o instrumento de Deus, para reunir todas as pessoas nele e preparar o momento em que “Deus será tudo em todos” (cf. 1Cor 15,28). O esquecimento disso converterá a Igreja em mera luta pelo poder e simples oposição de grupos internos, como demonstra o período posterior ao Concílio, pela valorização unilateral da imagem bíblica de Povo de Deus, de acordo com o Relatio finalis do Sínodo de 1985¹.

O tempo da Igreja é o tempo do Espírito Santo, com cuja efusão ela surge e se expande, no dia de Pentecostes. É o espírito Santo quem faz a Igreja acontecer na história quando os apóstolos reunidos em Pentecostes recebem os dons do alto. Para o evangelista São Lucas o tempo da Igreja é o tempo da manifestação e da ação do Espirito Santo (At 1,2.5.8.16;2,4.18).

O Papa João Paulo II, na Encíclica Dominum et Vivificantem escreveu assim: “É deste modo que o Concílio Vaticano II fala do nascimento da Igreja no dia de Pentecostes. Este acontecimento constitui a manifestação definitiva daquilo que já se tinha realizado no mesmo Cenáculo no Domingo da Páscoa. Cristo Ressuscitado veio e foi «portador» do Espírito Santo para os Apóstolos. Deu-lho dizendo: «Recebei o Espírito Santo». Isso que aconteceu então no interior do Cenáculo, «estando as portas fechadas», mais tarde, no dia do Pentecostes, viria a manifestar-se publicamente diante dos homens. Abrem-se as portas do Cenáculo e os Apóstolos dirigem-se aos habitantes e peregrinos, que tinham vindo a Jerusalém por ocasião da festa, para dar testemunho de Cristo com o poder do Espírito Santo. E assim se realiza o anúncio de Jesus: «Ele dará testemunho de mim: e também vós dareis testemunho de mim, porque estivestes comigo desde o princípio».

Num outro documento do Concílio Vaticano II lemos: «Sem dúvida que o Espírito Santo estava já a operar no mundo, antes ainda que Cristo fosse glorificado. Contudo, foi no dia de Pentecostes que ele desceu sobre os discípulos, para permanecer com eles eternamente (cf. Jo 14, 16); e a Igreja apareceu publicamente diante da multidão e teve o seu início a difusão do Evangelho entre os pagãos, através da pregação»².

O tempo da Igreja teve início com a «vinda», isto é, com a descida do Espírito Santo sobre os Apóstolos, reunidos no Cenáculo de Jerusalém juntamente com Maria, a Mãe do Senhor (DV, 25).”

*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.

Fonte: Vatican News

 

¹ cf. SÍNODO DE 1985, Relatio finalis II, A 3.

² Decreto sobre a atividade missionária da Igreja Ad Gentes, 4.

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