Por Dom Jaime Vieira Rocha
Arcebispo de Natal (RN)
Neste domingo, dia 14 de novembro, o 33º Domingo do Tempo Comum, a Igreja celebra o Dia Mundial dos Pobres, instituído pelo Papa Francisco em 2017, “para que as comunidades cristãs se tornem, em todo o mundo, cada vez mais e melhor sinal concreto da caridade de Cristo pelos últimos e os mais carentes” (PAPA FRANCISCO. Mensagem para o I Dia Mundial dos Pobres, n. 6. 19 de novembro de 2017).
Este ano em que se celebra o 5º Dia Mundial dos Pobres, com o tema “Sempre tereis pobres entre vós” (Mc 14,7), o Papa Francisco afirma que “o rosto de Deus que Jesus revela é o de um Pai para os pobres e próximo dos pobres” (PAPA FRANCISCO. Mensagem para o V Dia Mundial dos Pobres, n. 2. 14 de novembro de 2021). Por isso, o Papa reitera mais uma vez: “os pobres são verdadeiros evangelizadores”. Numa citação longa da sua própria Exortação Apostólica, a Evangelii gaudium, o Papa apresenta um caminho de reflexão que se reveste de um programa de vida cristã, sempre a partir do exemplo do Pobre de Nazaré: os pobres “têm muito para nos ensinar. Além de participar do sensus fidei, nas suas próprias dores conhecem Cristo sofredor. É necessário que todos nos deixemos evangelizar por eles. A nova evangelização é um convite a reconhecer a força salvífica das suas vidas, e a colocá-los no centro do caminho da Igreja. Somos chamados a descobrir Cristo neles: não só a emprestar-lhes a nossa voz nas suas causas, mas também a ser seus amigos, a escutá-los, a compreendê-los e a acolher a misteriosa sabedoria que Deus nos quer comunicar através deles. O nosso compromisso não consiste exclusivamente em ações ou em programas de promoção e assistência; aquilo que o Espírito põe em movimento não é um excesso de ativismo, mas primariamente uma atenção prestada ao outro, considerando-o como um só consigo mesmo. Esta atenção amiga é o início duma verdadeira preocupação pela sua pessoa e, a partir dela, desejo de procurar efetivamente o seu bem” (FRANCISCO. Exortação Apostólica Evangelii gaudium, 198-199). Não é difícil reconhecer que esse caminho junto aos pobres e com os pobres é um grande chamado à conversão. De fato, precisamos interpretar as palavras de Jesus que servem de tema para o Dia Mundial dos Pobres de 2021, como uma realidade que instiga ao compromisso de ser como o próprio Jesus. Diz o Papa: “Jesus não só está ao lado dos pobres, mas também partilha com eles a mesma sorte”. Jesus é exemplo de partilha de sua vida com os outros, ultrapassando o simples gesto de beneficência para uma partilha que gera fraternidade. Tal partilha é duradoura, “reforça a solidariedade e cria as premissas necessárias para se alcançar a justiça”.
O Papa apresenta, entre tantos exemplos, o testemunho de São Damião de Veuster, o santo apóstolo dos leprosos, da Ilha de Molokai, no Havaí. De tanto trabalhar em prol dos leprosos que eram mandados para essa ilha, ele mesmo é atingido pela lepra, e ele se tornou um sinal duma partilha total com os irmãos e irmãs pelos quais deu a vida. O Papa lembra as muitas pessoas que se gastaram concretamente partilhando a sorte dos mais pobres neste tempo de pandemia.
O Dia Mundial dos Pobres é um forte convite a repensar a nossa fé. É ela, de fato, instrumento que leva à generosidade, à partilha? A fé nunca foi vista apenas como realidade crida. Ela também foi mostrada como realidade celebrada, vivida e concretizada. Celebrada na Liturgia, vivida na observância dos Mandamentos, concretizada na relação de oração que leva à ação. Jesus nos ensinou que há uma relação intrínseca ente o mandamento do amor a Deus e o mandamento do amor ao próximo. E a Igreja primitiva compreendeu isso muito bem, como mostram os textos da Primeira Carta de São João e os discursos cheios de concretude do bispo São João Crisóstomo. Façamos o mesmo também hoje.
CNBB