Por Pe. Ademir Guedes Azevedo, cp.
Como será que me seduziste? Será que foi com um olhar, uma palavra, um gesto? O que foi que me fizeste que não consigo deixar de pensar em ti? Mesmo se ouso distanciar-me, continuas agindo como Deus sedutor, com teu modo misterioso de buscar-me e de carregar-me em teu colo.
Teu modo sedutor é irresistível. Nunca és invasivo, mas sempre discreto. Não me desnudas com rapidez, pois sabes o quanto me envergonharia a minha nudez. Mas como não sabes ser outra coisa senão um Deus sedutor, tiras aos poucos o véu que esconde o meu mistério e, sutilmente, me apresentas o que realmente sou, como tu que também na Cruz te deparaste com tua nudez extrema e sentiste até onde teu amor te conduziu.
Por que te excitas tanto com a minha nudez? O que tem ela de tão especial? Se ainda não sou todo teu e se nem sempre sou todo para os outros, por que vês brilho em mim, se há trevas nesse coração? Porque vives da arte de seduzir, sei que teu eros é incontrolável e que não julgas meu pecado, mas olhas com ternura meu sofrimento e meu lamento, minha dor e meu pranto. O que levas o teu eros a buscar-me é justo meu sofrimento, como sempre fizeste com aqueles que encontraste nos caminhos empoeirados por onde passaste.
Deus sedutor, como és irresistível! Tua sutileza está na ordem do dia: na mão daqueles que me levantam, nas conversas dos que insistem em tempos melhores, no abraço que encoraja, na despedida dos que partem com um coração apertado.
Seduzir é tua especialidade, sem dúvidas. Tua sedução é concomitante a tua paciência, pois sabes cativar desde o ventre materno. Consegues falar a língua das crianças; tu entendes bem os dramas da adolescência e como ninguém acompanhas nosso desenvolvimento, porque para cada pessoa tu tens um projeto e, em tua arte de seduzir, vais revelando sem pressa, mas sempre com uma doce e suave aproximação do mistério que somos.
Só seduzindo, Deus consegue resgatar para si aquilo que Ele mais ama: eu e você. Porque ninguém resiste a uma sedução que toca no profundo dos nossos dramas e do nosso mistério. Só por meio da sedução, a gente se entrega voluntariamente a um Deus que nos quer com Ele, sobretudo lá onde nossos enigmas são traduzidos numa linguagem que não nos envergonha e condena, mas nos orgulha daquilo que nos tornamos. Deixemo-nos seduzir por este Deus.
Fonte: Franciscanos
Pe. Ademir Guedes Azevedo, cp, é missionário passionista e mestre em Teologia Fundamental na Pontifícia Universidade Gregoriana. Atualmente reside em Camaragibe – PE, no Seminário para a etapa do Postulantado dos Passionistas.