Deus joga longe o pecado!

Pe. Johan Konings

 

Domingo passado presenciamos a volta do filho pródigo e sua acolhida pelo Pai misericordioso. Hoje, aparece com mais força ainda o quanto Deus está acima do pecado. Eis a base do que se chama “conversão”. Mas, quando se fala em conversão, os céticos objetam: “Que adianta querer ser melhor do que sou?”, e os acomodados: “Melhorar a sociedade, para quê?”

Deus, porém, não é limitado que fique imobilizado por nosso pecado. Ele passa por cima, escreve-o na areia, como Jesus, no episódio da mulher adúltera (evangelho). A magnanimidade de Deus, que se manifesta em Jesus, está em forte contraste com a mesquinhez dos justiceiros que queriam apedrejar a mulher. Estes, sim, estavam presos no seu pecado; por isso, nenhum deles ousou jogar a primeira pedra. Decerto, importa combater o pecado; mas é preciso estar com Deus para salvar o pecador.

Pois Deus é um libertador. Ele quer apagar nosso passado e renovar nossa vida, assim como renovou o povo de Israel no fim do exílio babilônico (1ª leitura). Paulo diz que devemos deixar nosso passado para trás e esticar-nos para apanhar o que está na nossa frente: Cristo, que é a nossa vida (2ª leitura). Como dissemos domingo passado, o pecado é o que fica atrás, enquanto o futuro que está à nossa frente é o amor de Deus em Jesus Cristo.

“Não peques mais”. Perdoar não é ser conivente com o pecado, mas é salvar o pecador – termo que não está na moda hoje, mas é o que melhor exprime a realidade … Deus perdoa, para dar ao pecador uma “plataforma” a partir da qual possa iniciar uma vida nova. Ora, o perdão é do tamanho da grandeza de Deus; só Ele é grande que chega para perdoar definitivamente. Por isso, para fazer jus ao perdão, não devemos desejá-lo levianamente. Devemos querer eficazmente mudar a nossa vida, ainda que saibamos que “Roma não foi construída num só dia”.

Devemos desejar não mais pecar, e para que este desejo seja eficaz, escolher e utilizar os meios adequados. Quem peca por má índole, procure amigos que o tornem melhor. Quem peca por fraqueza ou vício, evite as ocasiões de tentação. E quem peca por depender de uma estrutura ou laço que conduz à injustiça, procure transformar essa situação, no nível pessoal e no da coletividade. Tratando-se de estruturas sociais injustas, o meio adequado de combater o pecado consiste em unir as forças para lutar pela transformação política e social. Devemos transformar as estruturas de pecado fora e dentro de nós. Mas faremos tudo isso com mais empenho se estivermos convencidos de que Deus nos perdoa e joga longe de si o nosso pecado. Quando se trata de problemas pessoais (embora sempre com alguma dimensão social), a certeza de que Deus é maior que o pecado é um estímulo forte para acreditar numa renovação da vida – com a ajuda dos meios psicológicos adequados, pois a graça não suprime a natureza.

Fonte: Franciscanos


PE. JOHAN KONINGS nasceu na Bélgica em 1941, onde se tornou Doutor em Teologia pela Universidade Católica de Lovaina, ligado ao Colégio para a América Latina (Fidei Donum). Veio ao Brasil, como sacerdote diocesano, em 1972. Em 1985 entrou na Companhia de Jesus (Jesuítas) e, desde 1986, atua como professor de exegese bíblica na FAJE, Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, em Belo Horizonte. Este comentário é do livro “Liturgia Dominical, Editora Vozes.

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