Dom Lindomar Rocha Mota
Bispo de São Luís de Montes Belos (GO)
Paulo, o discípulo do Ressuscitado, tempos mais tarde escreveu à sua amada comunidade de Corinto e transmitiu-lhe o que tinha recebido a respeito da Eucaristia. Assim, Paulo nos informa que, Na noite em que foi entregue, o Senhor Jesus tomou o pão e, depois de dar graças, partiu-o e disse: ‘Isto é o meu corpo que é dado por vós. Fazei isto em minha memória’. Do mesmo modo, depois da ceia, tomou também o cálice e disse: ‘Este cálice é a nova aliança, em meu sangue’. (1Cor 11,23-25).
Cada palavra desta transmissão é singular! Elas aprofundam as suas raízes em nossa tradição mais longeva e antiga como Povo de Deus.
Desde que Abrão, conhecido patriarca da fé, encontrou-se com Melquisedec, rei de Salém (Gn 14,18-19), que lhe abençoou e trouxe pão e vinho, que todo trabalho humano precisa ser considerado como uma oferenda. Por isso, Abrão recebe a bênção para o seu espírito e o alimento para seu corpo. Numa tradição que repetimos até hoje.
Paulo conservava em suas memórias o dia em que Jesus se compadeceu ao ver irmãos que o seguiram até o deserto para ouvirem as suas palavras sentirem fome (Mt 9,12). Da fome que dói no corpo, mas também na alma, pois corrói a dignidade e o sentimento de automantença. Ele se lembrava, e nós também nos lembramos.
Ao ser desafiados a proverem este alimento os discípulos desistem. Era preciso muito dinheiro para sustentar aquela multidão. Mas não é de dinheiro que se trata. É de outra coisa bem mais alta, bem mais sublime, bem mais ligada ao mistério da fé e do amor de Deus que propriamente a nossa capacidade de prover a tudo.
Jesus deu àquelas pessoas o pão terreno que também era pão espiritual, pois de onde veio ninguém sabia, como se multiplicou ninguém sabia, pois, como bem perceberam os apóstolos, só tinham cinco pães e dois peixes. Insuficiente para alimentar tanta gente.
Mas foi a recordação eterna da ceia Pascal que Paulo se lembrava mais. Ele repassa à sua comunidade, tal como havia recebido, que naquele dia o Senhor teria decidido permanecer para sempre conosco. Deu o seu Corpo como pão, e o seu Sangue como vinho e nos recomendou: Fazei isso em minha memória. Desde aquele dia nunca mais deixamos de fazer como Ele nos mandou, e é por isso que Deus habita este mundo.
Fonte: CNBB