Por Dom Antônio de Assis Ribeiro
Bispo auxiliar na Arquidiocese de Belém/PA
Introdução
A pastoral juvenil abraça a missão de formar os jovens como autênticos discípulos missionários de Jesus Cristo. Todavia, eles não estão numa sociedade a parte, preservados das ideologias mundanas e dos múltiplos influxos culturais com seus insistentes apelos sedutores. O próprio Jesus em diálogo orante com o Pai pediu: “Não te peço para tirá-los do mundo, mas para guardá-los do Maligno. Eles não pertencem ao mundo, como eu não pertenço ao mundo. Consagra-os com a verdade: a verdade é a tua palavra” (Jo 17,15-17). Imersos nas realidades socioculturais, em meio às mais variadas pressões ideológicas, os jovens são chamados a viverem consagrados à Verdade. Neste artigo queremos refletir sobre o impacto das ideologias na vida dos jovens. Vejamos algumas delas:
- O subjetivismo (voluntarismo): essa ideologia se sintetiza na frase: “Quem manda em mim sou eu!”. Ela é muito ouvida na família, na escola, na universidade, entre amigos. O subjetivismo prega a absolutização do sujeito; mas isso é, socialmente, uma fantasia. Seria o egoísmo absoluto, o império do Eu e da vontade pessoal (voluntarismo); tal atitude nega a sadia interação com os outros; promove a auto-afirmação violenta, predatória, suprime a necessidade de autoridade; promove o “estrelismo”. O subjetivismo é mentiroso, pois nem sempre somos sujeitos; somos muitas vezes naturalmente vítimas. O ser humano é muito mais que sua vontade pessoal; sua vontade pode ser adulterada e manipulada porque não é absoluta. Ela só é autêntica quando faz a experiência do confronto com a vontade alheia. O subjetivismo elimina a institucionalidade. Há uma Vontade que a tudo transcende que precisa discernida. É importante recordar que não nascemos sendo sujeitos, mas objetos de cuidados dos outros. Não somos autossuficientes. Aos poucos vamos compreendendo a importância da relativização da nossa vontade pessoal. Jovens influenciados pelo subjetivismo tendem a assumir uma postura defensiva a tudo e tem dificuldades de relacionamento com a autoridade.
- O individualismo: “Cada um por si e Deus por todos!” É a ideologia da fantasia da prepotência do indivíduo isolado. Trata-se da tendência do esquecimento da nossa dimensão social. A pessoa é vista de modo isolada, avulsa, destacada dos outros, sem vínculos. A pessoa apesar de ser um “ser in-divi-sível”, por ser “uno”, é também um uno aberto aos outros. O individualismo radical é contraditório, pois não vivemos sem os outros. Eles nos enriquecem. O indivíduo não vive isoladamente! Somos parte integrante de uma grande rede! Toda a nossa existência é marcada pela presença do outro: fomos gerados, crescemos, fomos cuidados, educados; sem interação não sobrevivemos. A individualidade é positiva, pois é reconhecimento da nossa originalidade pessoal; mas jamais sobrevivemos sem a interação com os outros. Ser indivíduo não significa ser isolado. Jovens individualistas se fecham no seu mundo e se empobrecem na dimensão socioafetiva.
- Consumismo: Para essa ideologia a pessoa “Vale quanto consome!”. É a ideologia que reduz a beleza e a complexidade das necessidades humanas ao hábito do consumo. O consumismo reduz a grandeza do ser humano à sua dimensão física. Mas temos muitas fomes e diversas sedes; não precisamos somente de comida, bebida, roupa e calçado. O consumismo é materialista, agride o meio ambiente, desperdiça, nega a necessidade da ecologia integral. O ser humano não vive para consumir, mas consome para viver! A saúde está no equilíbrio! Tudo está em relação! A visão consumista da vida, inverte o dinamismo que nos leva à felicidade: voltar-nos para fora! O consumismo reduz a pessoa aos instintos possessivos. Jovens consumistas sentem-se vazios e sufocados em meio a tantas coisas e prazeres.
- Hedonismo: Afirma que a vida é curtição e sem prazer ela não vale nada! O hedonismo traz o prazer como princípio supremo da felicidade, absolutiza o agradável, provoca a fuga do sacrifício, descarta a caridade, a doação, a renúncia. Pelo prazer tudo é válido; isso promove e justifica a prostituição, abusos sexuais, atalhos, assédios, o sucesso imediato, o comodismo, a pornografia, a ditadura do prazer, o sensacionalismo, a intolerância em relação a tudo aquilo que causa incômodo pessoal. O prazer é um componente da nossa vida; mas nada que perdura nesta vida se mantém sobre o prazer. Sem sacrifício não há vida, não há amor, crescimento. Amor e sacrifício são inseparáveis! A salvação está intimamente relacionada à experiência do sacrifício. Jovens hedonistas trazem consigo uma grande dificuldade de compreender a verdadeira natureza do amor cristão.
- O utilitarismo: “Quem não vive para servir, não serve para viver”. Essa parece ser uma frase inofensiva e estimulante, mas na verdade, é terrível. É profundamente utilitarista. Só merece viver quem é útil. A ideologia utilitarista afirma que só vale aquilo que é útil, não se importa com o seu sentido e significado; tudo é visto como puro meio inclusive a pessoa do outro; quem não produz não merece viver; quem não é útil é peso, gera prejuízo, é estorvo; por isso o utilitarismo propõe o descarte, a eutanásia, a pena de morte, o aborto… A pessoa humana tem valor em si mesma. Jamais deve servir como meio. A pessoa humana não vale pelo que ela faz, produz e serviço, mas pelo seu significado natural; o sentido da vida são está no produzir, mas no ser, no relacionar-se, na experiência do amor.
- Tecnicismo: o tecnicismo vicia a subjetividade humana e a reduz ao uso de meios técnicos; o homem assim se torna escravo da técnica, da ciência, dos meios, da máquina. O tecnicismo prioriza a relação homem x máquina gerando a redução da qualidade das relações humanas; o homem chega a ser escravo dos meios; caindo na frieza das relações humanas, tornando-se mecanicista, frio, robótico, rígido, perdendo sua afetividade, sociabilidade e ternura; o tecnicismo quer tudo comprovar e o que não é comprovado não merece crédito. A tecnologia é um bem, é produto da conquista da inteligência, o ser humano não deve depender e ser subjugado pelo domínio da tecnologia. É preciso educar os jovens para dar prioridade às relações humanas. A dependência tecnológica é uma séria realidade atualmente, sobretudo, para os jovens.
- O relativismo moral: “Você decide!”. Para o relativismo moral as ações humanas não tem peso moral objetivo, mas tudo é conferido pelo indivíduo. Esse modo de pensar esvazia a objetividade do sentido das relações e dos gestos humanos. Invalida o direito e os códigos morais e gera a fuga da responsabilidade individual, apelando sempre para a mania da busca de uma justificativa para todas as atitudes, inclusive para a criminalidade. O relativismo moral promove a desobediência, a fragmentação doutrinal, a negação da objetividade dos limites do comportamento humano. Cada um faz a sua fronteira, por isso nega o direito, a lei, os códigos de procedimentos; cada um “faz a sua verdade”; é uma atitude consequente do subjetivismo. O relativismo moral é falso e destrói radicalmente a objetividade dos valores, das exigências morais e éticas. As leis naturais negam radicalmente o relativismo moral.
- Niilismo: “A morte resolve tudo!” Afirma que a razão humana é fraca para assimilar a Verdade e o Bem, por isso justifica o pessimismo, a apatia, a indiferença, a falta de compromisso, o cansaço, o desânimo, a fuga, o vazio existencial, a falta de motivação, a tristeza, o deboche da vida, o sofrimento, o derrotismo, a hipocondria, a automutilação, o suicídio. A mentalidade niilista promove o aniquilamento, o falimento, a negação da natureza da Vida humana dotada de grandes recursos como a inteligência, vontade, liberdade, espiritualidade… Mas Viver é querer, desejar, buscar, reagir, projetar-se, lutar…
- Presentismo (imediatismo): “Não deixar pra amanhã o que se pode fazer agora”; o imediatismo, pressiona os jovens para a pressa, levando-os a investir pouca preocupação em relação ao futuro. Com isso os jovens revelam ter dificuldade quanto à espera e a paciência em relação a processos. A mentalidade presentista é míope em relação ao passado e despreocupada quanto ao futuro. Para essa ideologia a felicidade é feita de fragmentos do tempo presente. O imediatismo é o vício que nos leva a negar a necessidade de etapas, processo; na vida somos convocados a nos educar, a saber esperar! O presentismo é grave porque: elimina a visão de liberdade voltada para o futuro, como projeto; suprime a percepção da história; descarta a exigência da vida como processo; rejeita a necessidade de etapas e da virtude da paciência; nega a necessidade do discernimento; não se importa com as consequências dos atos, das escolhas, das palavras, das atitudes…
Enfim, as ideologias são frágeis pois negam a visão da totalidade de uma realidade; absolutizam um aspecto da realidade, são posturas extremistas, desequilibradas, integristas; em geral tendem a reduzir a o ser humano a uma só dimensão, negando outras dimensões e exigências. As ideologias são reducionistas.
PARA REFLEXÃO PESSOAL:
- Por que as ideologias em geral são sedutoras?
- Qual dessas ideologias mais lhe chamou a atenção?
- Onde está a grande fragilidade das ideologias?
Fonte: CNBB Norte 2