Por Dom Antônio de Assis Ribeiro
Bispo auxiliar na Arquidiocese de Belém/PA
Introdução
O autêntico encontro, o conhecimento e amizade com a pessoa de Jesus deve levar cada fiel ao encantamento por sua missão, assumindo o compromisso de ser seu discípulo missionário. Não basta o conhecimento intelectual de Jesus Cristo, é preciso ser seu discípulo missionário que assume o dinamismo da sua vida e o Reino de Deus pro Ele dinamizado.
O documento de Aparecida (2007) assumiu a formação de discípulos missionários como um desafio para a Igreja na América Latina: “promover e formar discípulos e missionários que respondam à vocação recebida e comuniquem por toda parte, transbordando de gratidão e alegria, o dom do encontro com Jesus Cristo. Não temos outro tesouro a não ser este. Não temos outra felicidade nem outra prioridade senão a de sermos instrumentos do Espírito de Deus na Igreja, para que Jesus Cristo seja encontrado, seguido, amado, adorado, anunciado e comunicado a todos, não obstante todas as dificuldades e resistências. Este é o melhor serviço (o seu serviço!), que a Igreja deve oferecer às pessoas e nações” (Doc. Aparecida,14).
O enfrentamento desse desafio é para toda a Igreja. Mas se configura de modo muito especial e ainda mais desafiador para a pastoral juvenil. Para que isso aconteça, muitos desafios devem ser enfrentados com firmeza. Os jovens já evangelizados, não deveriam somente ter significativa profundidade de conhecimento sobre a pessoa de Jesus Cristo, mas também forte amor à Igreja, senso de pertença, liberdade e coragem para evangelizarem outros jovens.
- Christus Vivit: os jovens devem evangelizar
A experiência missionária é uma exigência do ser discípulo de Jesus Cristo. Quem foi evangelizado não deve aprisionar a própria fé dentro de si. Por isso o Papa Francisco estimula os jovens dizendo-lhes: “Quero encorajar-te a assumir este compromisso, porque sei que o teu coração, coração jovem, quer construir um mundo melhor… Os jovens nas ruas… são jovens que querem ser protagonistas da mudança. Por favor, não deixeis para outros o ser protagonista da mudança! Vós sois aqueles que detêm o futuro!… Também a vós, eu peço para serdes protagonistas desta mudança” (CV, 174).
O Papa Francisco pede aos jovens para não se deixarem vencer pela apatia, comodismo, pela patologia do individualismo e do consumismo (cf. CV, 174). Ao contrário, os jovens são chamados a serem missionários corajosos, enamorados por Cristo, chamados a dar testemunho do Evangelho em toda parte, com a própria vida (cf. CV, 176).
O Evangelho é para todos, e não apenas para alguns. Por isso os jovens não devem ter medo de anunciar o Evangelho a todos, em todos os ambientes (no bairro, na escola, nos esportes, no grupo de amigos, no trabalho, na experiência do voluntariado, até às periferias existenciais, incluindo quem parece mais distante, mais indiferente. O Senhor procura a todos, quer que todos sintam o calor da sua misericórdia e do seu amor (cf. CV, 177).
- Formar missionários através da experiência
Nos evangelhos Jesus não faz curso de formação missionária para os seus discípulos. O processo de formação deles acontece no cotidiano da vida com Ele. Os discípulos de Jesus não frequentaram uma universidade e nem foram alunos de um curso de teologia da missão. Mais que isso, essa formação missionária dos discípulos foi centrada sobre a realidade das urgências da missão, cotidianamente, em meio aos pobres da Galileia (cf. Mc 1-4). Os discípulos vão tornando-se missionários à medida que acompanham a Jesus e o ajudam em sua missão. Jesus formou seus discípulos missionários através da experiência concreta, “atravessando a Galileia”, terra dos pobres e excluídos.
A pastoral juvenil é chamada a seguir a pedagogia de Jesus, estimulando a promoção de experiências missionárias com os jovens através de muitas atividades possíveis, de acordo com os contextos: visita aos mais pobres, encontro com pessoas sofredoras, engajamento pastoral, oração nas famílias etc. Muitos são os clamores juvenis que constituem campos abertos e desafiadores para a evangelização dos jovens.
O mundo juvenil sofre por causa de graves e profundos males, tais como: o comodismo, a idolatria do prazer, drogadição, indiferença religiosa, apatia, a ausência de esperança, desertificação espiritual, o aprisionamento mental, baixo índice de resiliência, intolerância às frustrações, tédio, fragilidade psicológica, baixa resistência moral (psicológica), incerteza, ansiedade exagerada, medo de compromisso, individualismo, relativismo moral, presentismo, subjetivismo, cansaço, libertinagem, pessimismo, violência, agressividade, criminalidade organizada, prostituição, tráfico de drogas, alcoolismo, vícios, vazio existencial, suicídio! As prisões estão cheias de jovens! Tudo significa que as juventudes precisam ser evangelizadas para sentirem a alegria do Amor e encontrarem o sentido para a Vida.
- A necessária conversão pastoral
Diante dos problemas juvenis, “não podemos ficar tranquilos, em espera passiva, em nossos templos», sendo necessário passar «de uma pastoral de mera conservação para uma pastoral decididamente missionária» (EG, 15). Os jovens, assim como os adultos, enquanto sujeitos eclesiais, são chamados a estarem em “estado de permanente de missão”; é preciso “uma conversão pastoral e missionária, que não pode deixar as coisas como estão” (EG, 25).
Sensibilizados pela formação catequética, pela meditação da Palavra de Deus e experiência de envolvimento com as carências da Igreja os jovens aos poucos vão assimilando o que significa ser Igreja em saída e de portas abertas (cf. EG, 46). Para todos os sujeitos eclesiais serve este convite do Papa Francisco: “Saiamos, saiamos para oferecer a todos a vida de Jesus Cristo!… prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias seguranças” (EG, 49).
- Desafios a serem superados
Quando falamos de “conversão pastoral” genericamente, naturalmente nela inserimos também a pastoral juvenil. Se temos uma grande carência de jovens missionários, jovens voluntários, jovens pregadores, jovens assessores, jovens catequistas é porque algo precisa ser melhor ajustado tanto na pastoral juvenil quanto na pastoral catequética. Não haverá jovens discípulos missionários animados e convictos sem a superação de alguns problemas que paralisam e amortecem a força do dinamismo da pastoral juvenil:
- Superar a ignorância: não haverá discípulos missionários onde impera a ignorância sobre a pessoa de Jesus Cristo, sua missão, o Reino de Deus e a finalidade da Igreja;
- Superar o intimismo: para muitos a fé é uma pura experiência íntima e pessoal; trata-se de uma visão errônea da fé, pois ela não pode ficar escondida e sem obras, é morta (cf. Tg 2,17);
- Superar o doutrinalismo catequético: isso acontece quando uma pessoa confunde a experiência de fé com o conhecimento da doutrina; a catequese reduzida à pura doutrinação negligencia a beleza do dinamismo da fé, da esperança e da caridade;
- Superar o conservadorismo: a Igreja não é um museu estático, mas é uma comunidade viva, dinamizada pela força do Espírito Santo que lhe vai revelando coisas sempre novas (cf. Jo 16,12-15). Guiada e educada pelo Espírito Santo a Igreja não pode envelhecer e simplesmente conservar-se, ela é peregrina e discípula;
- Superar o sacramentalismo: o sacramentalismo é a experiência da vida sacramental (do Batismo, da Eucaristia, da Reconciliação etc.) sem o seu dinamismo de compromisso missionário. Os sacramentos tem uma forte dimensão missionária.
PARA REFLEXÃO PESSOAL:
- Por que é importante a formação e experiência missionária para os jovens?
- O que dificulta os jovens a serem verdadeiros discípulos missionários?
- O que significa “conversão pastoral” para a pastoral juvenil?
Fonte: CNBB Norte 2