Por Dom Antônio de Assis Ribeiro
Bispo auxiliar na Arquidiocese de Belém/PA
Introdução
Parece que cada vez mais a dimensão vocacional está ficando para segundo plano na vida dos jovens. Diante da fragilidade da atenção ao matrimônio e do descompromisso com opções definitivas de vida, é necessário realçar a sensibilidade para com a dimensão vocacional da pastoral juvenil. Analisando a cada dois meses dezenas de processos de nulidade matrimonial, vejo o quanto que a questão vocacional é negligenciada pela sociedade. Muitas vezes, vocação é confundida com impulso, atração, desejo pessoal, realização de um sonho, tentativa, voto de esperança! Certamente não é essa a perspectiva de vocação por parte da Igreja! A vocação é dom, chamado de Deus, compromisso, serviço que pressupõe uma atitude de fé. Estamos diante de uma questão muito delicada a ser redescoberta e esmiuçada na formação dos jovens.
A cultura economicista na qual estamos vivendo dá a máxima atenção à questão da segurança financeira, patrimônio econômico, bem-estar, sucesso profissional, reconhecimento social. Movidos por esse ideal, milhões de jovens se lançam nos estudos universitários obcecados pela realização dessas metas. Todavia, não as realizando, tomam consciência da própria frustração, infelicidade, engano, vazio e começam, a partir dos trinta anos, um processo de discernimento sobre o que fazer da vida. Muitos desses permanecem na casa dos seus pais.
Outros que não têm oportunidades de estudos universitários, marcados pela pobreza, dedicam-se ao trabalho e logo constituem família, muitas vezes, assumida como remédio à solidão. Não poucos, pobres ou abastados, antes dos trinta anos já passaram por duas ou três tentativas de vida matrimonial.
Nas duas situações, tanto por causa do sonho do bem-estar, quanto pela luta contra a pobreza, a questão vocação fica para segundo plano. Não porque conscientemente a deixam de lado, mas porque não faz parte da sensibilidade de suas vidas e nem foram educados para isso. A visão da vida na cultura contemporânea tem forte impacto pragmatista e utilitarista.
Outra mínima parte dos jovens, portadores de profunda consciência da própria vida, graças à sensibilidade religiosa de seus pais, amigos ou experiência que fizeram, abraçam o processo de discernimento vocacional com seriedade, fazem acompanhamento, elaboram seu projeto de vida, tomam decisões serenamente e com profundas convicções.
A cultura na qual vivemos dá demasiada ênfase à questão do fazer, do trabalho profissional, da realização pessoal como sucesso, e negligencia por completo a reflexão sobre vocação e o sentido da vida. A supremacia do ter e do fazer sobre o ser, é uma das mais fortes características da ideologia utilitarista da era contemporânea; e o pragmatismo existencial está esvaziando nos jovens o sentido e a importância da reflexão sobre vocação, mas exalta a dimensão profissional.
A questão vocacional se insere dentro da necessária reflexão sobre o sentido da vida. Não se pode falar do sentido da vida, sem tocar na dimensão vocacional. O Sínodo para a Juventude, abordou a importância do desenvolvimento da cultura vocacional pela pastoral juvenil, que não pode ser reduzido a um tema de palestra, mas deve ser acolhido como um itinerário de formação que compreenda o chamado à vida, a vocação batismal, a vocação específica (matrimonial ou celibatária), o cultivo de ideais, a assimilação de valores, a prática de virtudes.
A sensibilidade vocacional nem sempre está presente no seio das famílias, mas deve ser constantemente assumida pela pastoral juvenil estimulando, por exemplo, a oração pelas vocações. O Sínodo para os jovens declarou que “a vocação é o fulcro em torno do qual todas as dimensões da pessoa estão integradas” (Doc. Final do Sínodo para a Juventude, 139). Uma pessoa existencialmente desintegrada, é infeliz porque lhe pesa o “vazio vocacional” e, por isso, se sente infeliz no estado em que se encontra.
Enfim, outro tema vocacional para o qual o mundo de hoje não se importa por causa da falta de fé, é aquele da santidade. A meta da vocação ao batismo é a santidade. Mas esta passa pela realização da pessoa na Igreja, num determinado estado de vida, numa vocação específica. “Todas as diferenças vocacionais estão reunidas no chamado único e universal à santidade, que no final só pode ser o cumprimento desse apelo à alegria do amor que ressoa no coração de todo jovem” (Doc. Final do Sínodo para os jovens, 165). Refletindo sobre a vocação à santidade o Papa Francisco afirma que Deus “quer ser santos e não espera que se contentar com uma existência medíocre, aguado, sem graça” (FRANCISCO, Gaudete et Exsultate, No. 1).
PARA A REFFLEXÃO PESSOAL:
Fonte: CNBB Norte 2