Cura: todos precisam, mas é uma questão pessoal

Por Frei Clarêncio Neotti

 

A cidade de Jericó não aparece no Evangelho de hoje por acaso, apenas porque era uma parada obrigatória, uns 37 quilômetros antes de Jerusalém. Jericó está ligada à memória da entrada do povo eleito na Terra Prometida, conduzido por Josué (Js 6,1-21). Josué significa ‘Deus dá salvação’. Olhemos agora para Jesus, que sai de Jericó rumo a Jerusalém. Jesus significa ‘Deus é salvação’. Josué e Jesus têm por missão introduzir o povo na Terra Prometida. Josué conseguiu dar-lhes uma pátria terrena. Jesus assume o comando do povo para dar-lhes uma pátria eterna, a Terra Prometida definitiva. Josué foi vitorioso por meio de batalhas e estratégias inteligentes. Jesus será vitorioso por meio da morte na Cruz, considerada escândalo e loucura por muitos (1Cor 1,23), mas única porta de entrada na Terra Prometida do céu. A subida a Jerusalém é decisiva para Jesus e para a humanidade.

Jericó é a cidade mais baixa (258m abaixo do nível do mar) e a mais velha da terra (há restos de construção de casas que datam de ao menos oito mil anos antes de Cristo). Bem o símbolo da velha humanidade, que jaz nas funduras da miséria. Não miséria material. E nisso Jericó é de novo um belo símbolo, porque, cercada de deserto, é um oásis fértil, que produz de tudo. A humanidade sempre cresceu na ciência e na técnica, enriqueceu muito a obra da criação. Mas, enquanto criatura, sozinha, é cega e sem condições de autossalvar-se. Por isso Jesus vem ao mundo como “luz verdadeira capaz de iluminar toda criatura” (Jo 1,9).

Marcos dá o nome do cego. Pode o cego não ter tido esse nome. Mas ao lhe dar um nome, Marcos insiste em que a salvação, embora para todos, é assunto que toca a cada um e que empenha a vontade e a consciência de cada um. Podem as circunstâncias e os circunstantes querer impedir nossa aproximação de Jesus (v. 48). Cabe a cada um dar o salto e aproximar-se do Senhor para ser salvo.

Fonte: Franciscanos


FREI CLARÊNCIO NEOTTI, OFMentrou na Ordem Franciscana no dia 23 de dezembro de 1954. Durante 20 anos, trabalhou na Editora Vozes, em Petrópolis. É membro fundador da União dos Editores Franciscanos e vigário paroquial no Santuário do Divino Espírito Santo (ES). Escritor e jornalista, é autor de vários livros e este comentário é do livro “Ministério da Palavra – Comentários aos Evangelhos dominicais e Festivos”, da Editora Santuário.

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