
De um grupo de crianças em idade escolar ao Rabino Skorka, dos moradores de rua aos presos que o conheceram e que dele receberam apoio, histórias e vislumbres da vida do Papa Bergoglio em um mosaico de testemunhos marcados por gratidão e carinho.
“Ciao Papa Francesco”: Pedro o retrata de perfil, em close-up e com aquele polegar para cima que se tornou parte da iconografia de Jorge Mario Bergoglio. E depois, entre outros, um “nos vemos no céu” que se destaca entre um sol e uma nuvem, acima de um coração vermelho, porque é assim que Ida intui o que acontecerá quando chegar a hora.
Na mídia vaticana, estão os desenhos de oito crianças da quarta série da Escola de San Martino in Badia, na Província de Bolzano, para recordar, entre emoção e espontaneidade, os 30 dias da morte de Francisco.
No L’Osservatore Romano, em particular, uma página dupla apresenta uma mistura de sentimentos e histórias oferecidas por pessoas que raramente veem seus nomes nos “especiais” de um jornal. Porque, além das crianças de Bolzano, há algumas das muitas pessoas invisíveis que o Papa argentino trouxe de volta ao centro da dignidade, vindas das muitas periferias de sua miséria.
Como por exemplo Francisco Salvati, um morador de rua que assina, e se limita a escrever, a memória do encontro com Francisco, de sua infinita ajuda aos que vivem nas ruas e do renascimento pessoal experimentado graças ao periódico L’Osservatore di Strada: “Colaborar com este jornal me devolveu aquele papel, existencial e social, que eu havia perdido”.
A esperança atrás das grades
A história de Claudio Bottan tem alguns pontos em comum, ainda que não tenha começado nas ruas, mas em uma cela. Hoje vice-diretor da revista “Voci di dentro“, Claudio era detento na prisão de Busto Arsizio quandon no Ano Santo da Misericórdia, em 2016, estava entre os “escolhidos” como escreve ele , que teriam assistido de perto o Papa durante a Missa do Jubileu dos presos. Junto com outros companheiros, ele teve que ser, com emoção e constrangimento, o coroinha do altar e diz que as palavras ditas por Francisco naquela ocasião “abriram os corações” dos “coroinhas-presidiários”.
Outra história da prisão vem de dois anos mais tarde. Em 2018, durante uma Viagem Apostólica, o Papa Bergoglio visitou a penitenciária feminina de Santiago, no Chile. Presente naquela ocasião, estava uma Jeannette Zurita muito emocionada, que se descreve como “uma mulher que cometeu erros graves, desprezada e sem valor para a sociedade” e que, portanto, jamais imaginaria encontrar-se “face a face com o Santo Padre”. Hoje, livre para morar com o filho, ela diz sentir “a necessidade” de levar seu testemunho “a quem quiser ouvi-lo, porque Deus operou uma mudança em mim e eu o sinto como algo muito poderoso em meu coração”.
Francisco, próximo dos pobres
Da América Latina à África profunda, também estão os pobres da “Cidade da Amizade” de Akamasoa, subúrbio de Antananarivo, capital de Madagascar, visitada por Francisco em 2019.
Um mês após sua morte, eles oferecem uma recordação por meio do Pe. Pedro Opeka, argentino e ex-aluno de Jorge Mario Bergoglio em Buenos Aires, além de fundador e “alma” da Cidade.
Padre Pedro está certo de que um dos legados deixados pelo falecido Pontífice, é ter mudado a própria maneira de ver a pobreza, com sua proximidade radical com os mais marginalizados.
No dia da visita do Papa, o protocolo exigia certas medidas, mas Padre Pedro convenceu os responsáveis pela segurança a não colocarem barreiras no Ginásio da Cidade da Amizade, onde mais de 8.000 crianças aguardavam Francisco. A celebração que surgiu desse contato direto com Francisco no final, relata Pe. Pedro, comoveu até mesmo os responsáveis pela segurança, que inicialmente estavam relutantes em ceder espaço.
“O adeus que o mundo inteiro deu ao Papa Francisco foi um testemunho eloquente do respeito que ele conquistou com sua humildade e honestidade”, disse à imprensa do Vaticano Abraham Skorka, rabino emérito do Seminário Rabínico Latino-Americano de Buenos Aires e grande amigo de Jorge Mario Bergoglio. Mesmo aqueles que poderiam discordar dele, sabiam, afirma, “que ele era um líder que buscava incansavelmente a paz e a justiça e que se dedicava totalmente a ajudar os necessitados em todas as comunidades”. Ele era “uma tocha que mantinha viva a chama da espiritualidade e da santidade, iluminando um caminho que nunca se apaga”.
Alessandro De Carolis – Cidade do Vaticano