Creio na Comunhão dos Santos

Por João Bosco Óliver de Faria
Arcebispo Emérito de Diamantina

 

As pessoas que compõem a Igreja estão em três situações diferentes: (i) as que ainda vivem na terra cumprindo a missão que receberam de Deus Criador formam a Igreja Militante; (ii) as que já estão na glória do Céu constituem a Igreja Triunfante; e (iii) as que, tendo morrido, ainda não foram admitidas no Céu compõem a Igreja Padecente.

Todos nós que formamos a Igreja Militante, por nossa condição humana, cometemos pecado. Este tem duas consequências para o pecador: o reato de culpa e o reato de pena.

As pessoas católicas podem conseguir o perdão para o reato de culpa por um ato sincero de arrependimento por ter ofendido a Deus no Seu amor infinito, com a intenção de se confessar assim que tiver a oportunidade. A confissão é, pois, a celebração do perdão que a pessoa recebe por seu ato humilde e sincero de arrependimento.

O perdão para o reato de pena acontece pela prática da penitência, pelas orações, pela prática da caridade e, sobretudo, pela participação da Santa Missa, com a comunhão.

Os fiéis podem se beneficiar entre si: os que estão na terra podem rezar pelos mortos, implorando para eles o perdão da culpa e da pena de seus pecados. Podemos, contudo, indagar: “como minha oração, hoje, pode atuar para uma pessoa que faleceu no passado e que já foi julgada diante de Deus?”

Acontece que o que para nós é passado, presente ou futuro, em Deus é um eterno presente. Assim, minha oração feita “hoje” chega diante de Deus como se fosse no mesmo momento, já passado, em que determinada pessoa estava deixando a vida na terra. Quando uma pessoa está deixando a vida terrena, estão presentes diante de Deus todas as orações que, no futuro, serão feitas por aquela pessoa, então, moribunda.

Os que estão na glória de Deus podem rezar pelos vivos e pelos mortos. Os que estão na terra podem louvar a Deus pelos Seus santos e pedir a estes a sua oração de intercessão segundo suas próprias necessidades na vida terrena. Encontramos o fundamento bíblico da oração pelos mortos no livro de Macabeus (12, 32-45: Judas Macabeu manda que se oferecesse um sacrifício pelos pecados dos mortos em combate.).

Nos próximos dias 1 e 2 de novembro, a Igreja nos recomenda a oração pelos santos. No dia 1, dia de todos os santos, a Igreja nos lembra que muitíssimas outras pessoas viveram sua vida na terra com suas dificuldades proporcionais ao seu tempo, souberam se conservar na fé e no amor a Deus e hoje participam de Sua glória no Céu. De lá, podem interceder por nós. Santo é todo aquele que morreu na graça de Deus. Desses, alguns nos são, oficialmente, apresentados pela Igreja como modelos de vida cristã, para nos encorajar em nossa missão na terra. Outros morreram na graça de Deus, com o perdão de suas culpas e, assim, terão, no “tempo de Deus”, sua feliz entrada na eternidade. Necessitam, no entanto, de receber o perdão da pena devida por seus pecados. Para tanto, necessitam de nossa oração de intercessão. A esta passagem entre o tempo e a eternidade chamamos de purgatório. Daí a devoção de se rezar pelas almas do purgatório. Como fui Arcebispo de Diamantina, onde viveram e morreram milhares e milhares de negros escravos, arrancados de sua Pátria e de seus familiares, rezo todos os dias pelas almas dos negros escravizados no Brasil.

Rezar pelos mortos não é uma devoção! É uma obrigação! A Igreja, com a celebração dos Fiéis Defuntos, no dia 2 de novembro, nos lembra de rezar pelos mortos, sobretudo pelos nossos parentes e benfeitores falecidos. Mais tarde… alguém rezará por nós. É o que em teologia chamamos “Comunhão dos Santos” – como rezamos: “Creio na comunhão dos santos”. Aqueles que já estão na glória de Deus podem interceder por nós na terra; os que expiam a pena de seus pecados no purgatório merecem a caridade de nossa oração e podem, também, interceder por nós, ao mesmo tempo em que nós podemos, também, rezar por eles.

Fonte: CNBB Leste2

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