Corpus Christi: “me puseste uma brasa no peito e uma flecha na alma”

Saída da procissão na Igreja Matriz Nossa Senhora da Saúde - foto/Pascom

Tal como na música:

“Me chamaste para caminhar na vida contigo
Decidi para sempre seguir-te, não voltar atrás
Me puseste uma brasa no peito e uma flecha na alma
É difícil agora viver sem lembrar-me de ti”

 

E como foi difícil não declarar publicamente todo este amor por Jesus nos últimos dois anos. Aprisionados pelas restrições da pandemia, não vivemos o Corpus Christi de maneira tradicional, com os templos cheios, ruas cobertas por tapetes e o povo de Deus em procissão.

Jesus encarnou para nos libertar das algemas do pecado! No cumprimento dessa missão, nos ensinou a como ficar afastados das tentações. Educou-nos com palavras, gestos, atitudes, orações e milagres. Ao final…, deixou-nos o alimento que não perece. Seu Corpo e seu Sangue verdadeiramente presentes na Sagrada Eucaristia.

Vencendo o pecado, por Cristo e em comunhão com Cristo, venceremos a morte que, graças ao Cristo, deixou de ser o nosso fim. É por isso, e movidos de íntimo amor, que diante do Rei dos reis dobramos nossos joelhos e curvamos não apenas nosso corpo físico, mas, e sobretudo, nossa alma e espírito – o que nos conecta uns aos outros e o que nos conecta ao Criador.

Procissão de Corpus Christi 2022 – foto/Pascom

Corpus Christi – a grandeza da Eucaristia e seu desdobramento no contexto histórico

A “celebração” da Eucaristia remonta à Igreja Primitiva, quando os primeiros cristãos, atentos ao que disse Jesus, “Fazei isto em minha memória” (1Cor 11,24), se reuniam para celebrar este preceito.

Na Eucaristia celebramos o sacrifício de Nosso Senhor Jesus Cristo na cruz e também fazemos memória deste evento da salvação. Jesus instituiu a Eucaristia em “comunidade”, junto aos seus amigos/discípulos, na Ceia da Quinta-feira Santa. É, portanto, na presença da comunidade de fé reunida que o próprio Cristo se faz presença real (Corpo, Sangue, Alma e Divindade) na Sagrada Eucaristia.

“A comunhão é um dom, um presente, é a presença de Jesus na Igreja e na comunidade” – Papa Francisco.

É por este dom que rendemos graças em cada Santa Missa e, de maneira especial, no dia de Corpus Christi.

A tradição, que surgiu em 1246 na Diocese de Liège, Bélgica, foi estendida a toda Igreja pelo Papa Urbano IV, em 1264, por meio da bula “Transiturus”. Tradicionalmente, este é o único dia do ano em que Jesus Eucarístico “sai pelas ruas”.

Há vários relatos de milagres eucarísticos ao longo da história da Igreja. Um deles remonta à época do Papa Urbano IV: o Milagre de Bolsena.

Um sacerdote, que tinha suas próprias dúvidas sobre a transubstanciação durante a consagração, presenciou o milagre. Ao partir a Sagrada Eucaristia, dela saiu sangue que escorreu sobre o corporal. A relíquia foi levada em procissão a Orvieto (Itália) onde se encontram até hoje os corporais usados no dia em que aconteceu este sinal.

Fiéis na procissão de Corpus Christi 2022 – Comunidade Matriz, foto/Pascom

Como membros do Corpo de Cristo

Quem não se acomodou com a possibilidade de ficar em casa “num feriado”, ou não se permitiu paralisar pelo frio…, deve ter sentido o reavivar desta “brasa no peito e uma flecha na alma”. Jesus faz isso!

A Solenidade de Corpus Christi se apresenta em belezas muito singulares. Em primeiríssimo lugar, claro, está lá Jesus, para ser amado e adorado na Sagrada Eucaristia que sai dos altares e vai para as ruas. Nós te adoramos! É como se tudo gritasse em nossos interiores. Viva Jesus Cristo! São como as palavras saem da boca dos fiéis.

Os templos, nossas igrejas nas comunidades, são ornamentados para dizer a Jesus: sua casa está em festa. Já pelo caminho onde passará o Santíssimo em procissão, o percurso é coberto conforme a criatividade. Na Comunidade Nossa Senhora da Conceição e na Comunidade Matriz Nossa Senhora da Saúde foram usados tapetes em tecidos, feitos e doados por membros das comunidades. Na Comunidade Nossa Senhora de Fátima, como acontece há anos, o caminho foi marcado por cobertores, fruto da Campanha Corpo de Cristo Aquece.

Muros, casas, varandas, janelas são enfeitadas. Jesus Eucarístico vai passar e nenhum católico que se prese perde a oportunidade de declarar sua fé e seu amor. As belezas estão pra todo lado – é só observar.

Mas essas são as belezas dos entremeios. Se em primeiríssimo lugar está o Cristo, em segundo… está seu povo. São os olhares, o carinho, o amor, o cuidado, o silêncio, a cantoria, a adoração que sobem aos céus… chegando ao Pai tal como o incenso na Santa Missa.

É o que está no coração de cada fiel que torna a festa de Corpus Christi única! Ninguém ali tem dúvidas de que Jesus é presença real na Eucaristia. E enquanto há um mundo lá fora que zomba desta fé, este ano os católicos puderam se orgulhar de voltar a proclamar: “Meu Senhor e meu Deus!” – eu creio!

É de arrepiar!

Nas comunidades

A primeira comunidade paroquial a celebrar a Solenidade do Corpo e Sangue de Cristo foi a de Nossa Senhora da Conceição, que teve início às 10h com a Santa Missa seguida pela procissão, que contou com grande participação de fiéis.

Santa Missa da Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo – Comunidade Nossa Senhora da Conceição – foto/Pascom
Procissão de Corpus Christi na Comunidade Nossa Senhora da Conceição – foto/Pascom

 

Na Comunidade Nossa Senhora de Fátima foi mantida a tradição de usar cobertores para a passagem do Santíssimo Sacramento. A Missa foi às 15h. Após a celebração, os fiéis saíram em procissão por ruas da Vila Amélia. Os cobertores serão doados aos mais vulneráveis.

Santa Missa da Solenidade do Corpo e Sangue de Cristo na Comunidade Nossa Senhora da Conceição – foto/Pascom
Procissão de Corpus Christi na Comunidade Nossa Senhora de Fátima – foto/Pascom

 

Já na Comunidade Matriz Nossa Senhora da Saúde, a Santa Missa foi às 17h30 e nem o frio e o cair da noite impediu as várias dezenas de pessoas de participarem da procissão que saiu da Igreja Matriz em direção ao bairro Pará.

Santa Missa da Solenidade do Corpo e Sangue de Cristo na Comunidade Matriz Nossa Senhora da Saúde – foto/Pascom

 

As paradas para as bênçãos foram marcadas por momentos de forte emoção, devoção e orações. Muitas pessoas, sobretudo idosos, acompanharam de casa a passagem do Santíssimo. Alguns, como o casal Eni e Messias, muito conhecidos na comunidade Matriz, receberam a bênção em uma das pracinhas no Pará.

Dona Eni e seu Messias aguardando a chegada da procissão para o momento de adoração e bênção – foto/Pascom

Os locais para adoração e bênção foram cuidadosamente preparados para receberem com dignidade Nosso Senhor. Crianças, jovens, casais, famílias inteiras celebraram.

“Dai-lhes vós mesmos de comer” (Lc 9,13)

O Evangelho deste ano para a Solenidade de Corpus Christi trouxe o relato de São Lucas sobre a multiplicação dos pães. Como todos nós sabemos, para os discípulos era muito mais fácil dispensar a multidão de famintos do que de acolhê-los.

Então, Aquele que se tornou o Pão que não perece é quem diz aos discípulos: “Dai-lhes vós mesmos de comer”.

Os 33 milhões de famintos hoje no Brasil não ficaram esquecidos durante a homilia do Padre Paulo Marcony. Nem poderiam. Se o próprio Jesus é quem coloca sobre seus seguidores a responsabilidade de alimentar os famintos e não de descartá-los, como poderíamos, no dia em que celebramos o Pão da Vida, o Pão da Eternidade, esquecer dos que não podem participar do banquete?

Ao silêncio caberia tranquilamente aquela frase do Mestre: “Hipócritas! Bem profetizou Isaías a vosso respeito, quando disse: Este povo me honra com os lábios, mas o coração está longe de mim. Em vão me prestam culto, pois o que ensinam são apenas mandamentos humanos” (Mt 14,7-9).

Que ao nos unirmos a Jesus por meio da Sagrada Eucaristia, como membros do Seu Corpo, sejamos verdadeiros discípulos da sua Palavra e da sua missão. Cuidemos, com amor, uns dos outros… até que Ele venha!

Liliene Dante

 

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