Tal como na música:
“Me chamaste para caminhar na vida contigo
Decidi para sempre seguir-te, não voltar atrás
Me puseste uma brasa no peito e uma flecha na alma
É difícil agora viver sem lembrar-me de ti”
E como foi difícil não declarar publicamente todo este amor por Jesus nos últimos dois anos. Aprisionados pelas restrições da pandemia, não vivemos o Corpus Christi de maneira tradicional, com os templos cheios, ruas cobertas por tapetes e o povo de Deus em procissão.
Jesus encarnou para nos libertar das algemas do pecado! No cumprimento dessa missão, nos ensinou a como ficar afastados das tentações. Educou-nos com palavras, gestos, atitudes, orações e milagres. Ao final…, deixou-nos o alimento que não perece. Seu Corpo e seu Sangue verdadeiramente presentes na Sagrada Eucaristia.
Vencendo o pecado, por Cristo e em comunhão com Cristo, venceremos a morte que, graças ao Cristo, deixou de ser o nosso fim. É por isso, e movidos de íntimo amor, que diante do Rei dos reis dobramos nossos joelhos e curvamos não apenas nosso corpo físico, mas, e sobretudo, nossa alma e espírito – o que nos conecta uns aos outros e o que nos conecta ao Criador.
Corpus Christi – a grandeza da Eucaristia e seu desdobramento no contexto histórico
A “celebração” da Eucaristia remonta à Igreja Primitiva, quando os primeiros cristãos, atentos ao que disse Jesus, “Fazei isto em minha memória” (1Cor 11,24), se reuniam para celebrar este preceito.
Na Eucaristia celebramos o sacrifício de Nosso Senhor Jesus Cristo na cruz e também fazemos memória deste evento da salvação. Jesus instituiu a Eucaristia em “comunidade”, junto aos seus amigos/discípulos, na Ceia da Quinta-feira Santa. É, portanto, na presença da comunidade de fé reunida que o próprio Cristo se faz presença real (Corpo, Sangue, Alma e Divindade) na Sagrada Eucaristia.
“A comunhão é um dom, um presente, é a presença de Jesus na Igreja e na comunidade” – Papa Francisco.
É por este dom que rendemos graças em cada Santa Missa e, de maneira especial, no dia de Corpus Christi.
A tradição, que surgiu em 1246 na Diocese de Liège, Bélgica, foi estendida a toda Igreja pelo Papa Urbano IV, em 1264, por meio da bula “Transiturus”. Tradicionalmente, este é o único dia do ano em que Jesus Eucarístico “sai pelas ruas”.
Há vários relatos de milagres eucarísticos ao longo da história da Igreja. Um deles remonta à época do Papa Urbano IV: o Milagre de Bolsena.
Um sacerdote, que tinha suas próprias dúvidas sobre a transubstanciação durante a consagração, presenciou o milagre. Ao partir a Sagrada Eucaristia, dela saiu sangue que escorreu sobre o corporal. A relíquia foi levada em procissão a Orvieto (Itália) onde se encontram até hoje os corporais usados no dia em que aconteceu este sinal.
Como membros do Corpo de Cristo
Quem não se acomodou com a possibilidade de ficar em casa “num feriado”, ou não se permitiu paralisar pelo frio…, deve ter sentido o reavivar desta “brasa no peito e uma flecha na alma”. Jesus faz isso!
A Solenidade de Corpus Christi se apresenta em belezas muito singulares. Em primeiríssimo lugar, claro, está lá Jesus, para ser amado e adorado na Sagrada Eucaristia que sai dos altares e vai para as ruas. Nós te adoramos! É como se tudo gritasse em nossos interiores. Viva Jesus Cristo! São como as palavras saem da boca dos fiéis.
Os templos, nossas igrejas nas comunidades, são ornamentados para dizer a Jesus: sua casa está em festa. Já pelo caminho onde passará o Santíssimo em procissão, o percurso é coberto conforme a criatividade. Na Comunidade Nossa Senhora da Conceição e na Comunidade Matriz Nossa Senhora da Saúde foram usados tapetes em tecidos, feitos e doados por membros das comunidades. Na Comunidade Nossa Senhora de Fátima, como acontece há anos, o caminho foi marcado por cobertores, fruto da Campanha Corpo de Cristo Aquece.
Muros, casas, varandas, janelas são enfeitadas. Jesus Eucarístico vai passar e nenhum católico que se prese perde a oportunidade de declarar sua fé e seu amor. As belezas estão pra todo lado – é só observar.
Mas essas são as belezas dos entremeios. Se em primeiríssimo lugar está o Cristo, em segundo… está seu povo. São os olhares, o carinho, o amor, o cuidado, o silêncio, a cantoria, a adoração que sobem aos céus… chegando ao Pai tal como o incenso na Santa Missa.
É o que está no coração de cada fiel que torna a festa de Corpus Christi única! Ninguém ali tem dúvidas de que Jesus é presença real na Eucaristia. E enquanto há um mundo lá fora que zomba desta fé, este ano os católicos puderam se orgulhar de voltar a proclamar: “Meu Senhor e meu Deus!” – eu creio!
É de arrepiar!
Nas comunidades
A primeira comunidade paroquial a celebrar a Solenidade do Corpo e Sangue de Cristo foi a de Nossa Senhora da Conceição, que teve início às 10h com a Santa Missa seguida pela procissão, que contou com grande participação de fiéis.
Na Comunidade Nossa Senhora de Fátima foi mantida a tradição de usar cobertores para a passagem do Santíssimo Sacramento. A Missa foi às 15h. Após a celebração, os fiéis saíram em procissão por ruas da Vila Amélia. Os cobertores serão doados aos mais vulneráveis.
Já na Comunidade Matriz Nossa Senhora da Saúde, a Santa Missa foi às 17h30 e nem o frio e o cair da noite impediu as várias dezenas de pessoas de participarem da procissão que saiu da Igreja Matriz em direção ao bairro Pará.
As paradas para as bênçãos foram marcadas por momentos de forte emoção, devoção e orações. Muitas pessoas, sobretudo idosos, acompanharam de casa a passagem do Santíssimo. Alguns, como o casal Eni e Messias, muito conhecidos na comunidade Matriz, receberam a bênção em uma das pracinhas no Pará.
Os locais para adoração e bênção foram cuidadosamente preparados para receberem com dignidade Nosso Senhor. Crianças, jovens, casais, famílias inteiras celebraram.
“Dai-lhes vós mesmos de comer” (Lc 9,13)
O Evangelho deste ano para a Solenidade de Corpus Christi trouxe o relato de São Lucas sobre a multiplicação dos pães. Como todos nós sabemos, para os discípulos era muito mais fácil dispensar a multidão de famintos do que de acolhê-los.
Então, Aquele que se tornou o Pão que não perece é quem diz aos discípulos: “Dai-lhes vós mesmos de comer”.
Os 33 milhões de famintos hoje no Brasil não ficaram esquecidos durante a homilia do Padre Paulo Marcony. Nem poderiam. Se o próprio Jesus é quem coloca sobre seus seguidores a responsabilidade de alimentar os famintos e não de descartá-los, como poderíamos, no dia em que celebramos o Pão da Vida, o Pão da Eternidade, esquecer dos que não podem participar do banquete?
Ao silêncio caberia tranquilamente aquela frase do Mestre: “Hipócritas! Bem profetizou Isaías a vosso respeito, quando disse: Este povo me honra com os lábios, mas o coração está longe de mim. Em vão me prestam culto, pois o que ensinam são apenas mandamentos humanos” (Mt 14,7-9).
Que ao nos unirmos a Jesus por meio da Sagrada Eucaristia, como membros do Seu Corpo, sejamos verdadeiros discípulos da sua Palavra e da sua missão. Cuidemos, com amor, uns dos outros… até que Ele venha!
Liliene Dante