Por Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba (MG)
Falar de corpo harmonioso é fazer referência a tudo que ocupa espaço e constitui unidade orgânica ou inorgânica, formado de peças justapostas e em sincronia, para atingir seus objetivos. Assim dizemos do corpo humano, de um animal, de uma entidade, de uma fábrica etc. Falamos também da Igreja, construída sob a ação de Jesus Cristo e sobre a prática consolidada dos apóstolos.
A sincronia de toda harmonia da Igreja está depositada na ação efetiva do Espírito Santo, iluminador das atividades da Sagrada Tradição, no percurso de mais de dois mil anos. É uma história com muitas situações positivas e negativas, porque o agente estruturador é a pessoa humana com todos os seus limites de fraqueza. Mas o Espírito Santo é o condutor, que não deixa a instituição parar.
A realização de uma festa qualquer supõe harmonia, fruto de organização e sintonia entre todos que a compõem. Assim é a Celebração da Páscoa, originariamente era uma festa agrícola, em agradecimento pelos frutos obtidos na colheita. A Páscoa dos judeus e dos cristãos é gratidão pelos frutos da ação de Deus na existência da humanidade, com sentido para a vida, formando um corpo coeso.
Na atualidade, mesmo com toda capacidade tecnológica de comunicação, encontramos realidades graves de preconceitos, de discriminação, de racismo e até de ódio, que dificultam a formação de corpos harmoniosos. Corações endurecidos não ajudam na harmonia de sociedade fraterna e unida, porque criam individualismo e descompromisso para com o bem comunitário, que favorece a todos.
As ideologias dificultam a vida das comunidades, inclusive familiar. O apóstolo Paulo chama a atenção da comunidade grega de Corinto, pois estava com dificuldade para acolher judeus, prosélitos e gentios no seu convívio (cf. I Cor 12,13). A unidade é fruto da ação de Deus através da força do Espírito Santo, fazendo surgir, entre todos, lideranças comprometidas com as necessidades locais.
Toda paz verdadeira é fruto de reconciliação, conquistado a partir de uma ação de confiança, vivenciada na harmonia da parte de quem dela participa. Só assim é possível superar todos tipo de medo, insegurança, tribulações, limitações e outras realidades individualistas encontradas na cultura moderna. Sem Deus é difícil formar um corpo harmonioso, formar uma comunidade que se prima pela felicidade.
Fonte: CNBB