Por Pe. Johan Konings
Uma atitude fundamental para o tempo do Advento e para a vida inteira é a conversão: para nos encontrar com Cristo, devemos corresponder ao que ele espera de nós. O enviado de Deus, o Messias, assume o projeto de Deus: a justiça e a felicidade do povo. Ele julgará com retidão em favor dos pobres (1ª leitura). O Messias se alinha com os pobres. Será que nós estamos alinhados com ele?
O cristão reconhece Jesus como o Messias ou Cristo (o “descendente de Davi” anunciado por Isaías). A Escritura se cumpre, o projeto de Deus entra em fase de realização. João Batista é o profeta que prepara a sua chegada. Como porta-voz de Deus, ele convida para a conversão (evangelho). E depois da vinda de Cristo, o apóstolo Paulo exorta os fiéis a imitarem o exemplo de Cristo: como ele assumiu nossa salvação, executando o projeto do Pai, cabe a nós assumir-nos mutuamente (2ª leitura).
A conversão deve continuar sempre. Comporta dois momentos: 1) O momento da consciência: reconhecer o que está errado, conceber o propósito de mudar e pedir perdão. Assim faziam os que recebiam o batismo de João “para a conversão” (Mt 3, 11). Hoje podemos fazer isso, com a garantia da Igreja, no sacramento da reconciliação; 2) O momento da prática. A verdadeira conversão se comprova na prática: viver a vida que Jesus nos ensina por sua palavra e exemplo, assumir-nos mutuamente no amor fraterno, como o Messias assume a causa dos fracos. Essa prática será o fruto que comprova nossa conversão e um ato de louvor a Deus, que nos enviou seu Filho como Messias.
Celebrar a proximidade do Messias, como fazemos no Advento, implica reaquecer nossa caridade. Quando uma família espera a visita de uma pessoa querida, seus membros começam a melhorar seus relacionamentos … Mas talvez falte a consciência desta proximidade. Precisamos de uma voz profética, como a do Batista, para proclamar que o Messias e o Reino estão próximos, pois Jesus nos convida cada dia a assumir a sua causa (cf. domingo passado). Converter-se a Jesus continua sendo necessário também para o “bom católico”. Sempre de novo devemos abandonar nossa vida egoísta, para viver a justiça e a caridade que Jesus Messias veio ensinar e mostrar.
Conversão na alegria
Não são apenas os outros que devem converter-se! A perspectiva cristã (cf. domingo passado) exige conversão permanente de todos os fiéis: desistir de nossa autossuficiência, para participar da salvação que vem de Deus. O evangelho apresenta João Batista, que, em “estilo apocalíptico”, com as imagens conhecidas no judaísmo daquele tempo, anuncia o Reino de Deus. Por trás dessas imagens devemos descobrir a mensagem: não há prerrogativa humana (p.ex., ser “filho de Abraão”) que fique em pé diante de Deus. A necessidade de conversão é gritante: nosso mundo não corresponde de modo algum à “utopia messiânica” (1ª leitura) ou à justiça que se espera do rei messiânico (salmo responsorial). O “broto de Jessé”, o novo Davi messiânico, deve reinar em prol dos fracos e oprimidos; o Reino de Deus se manifesta em “frutos dignos da conversão” (evangelho).
Paulo lembra essa mensagem das antigas Escrituras para mostrar a obra da reconciliação em Cristo, cujo fruto é a unidade de fracos e fortes, judeus e gentios – unidade de todos. Na obra salvífica de Cristo a “utopia” já teve início, como se verifica no mútuo acolhimento (2ª leitura).
A realização da justiça como Deus a concebe em prol dos pobres e oprimidos não é mera obra humana: por isso Deus envia seu Ungido (Messias). Para correspondermos a essa iniciativa vamos deixar para trás o que nos amarra e correr ao encontro do Messias que vem (cf oração do dia), usando as coisas terrenas como meios, não como fins, para aderir às coisas que realmente são de Deus (oração final).
Note-se que, apesar do tema da conversão e do tom ameaçador do evangelho, a liturgia de hoje é marcada pela alegria por causa do Senhor que vem (canto da entrada), tendo em vista os dons do Messias (1ª leitura). Conversão significa mudança, mudar o coração. Custa, mas não é algo triste, pelo contrário, é felicidade, é libertar-se para correr sem impedimento ao encontro do Senhor que vem.
Fonte: Franciscanos
PE. JOHAN KONINGS nasceu na Bélgica em 1941, onde se tornou Doutor em Teologia pela Universidade Católica de Lovaina, ligado ao Colégio para a América Latina (Fidei Donum). Veio ao Brasil, como sacerdote diocesano, em 1972. Em 1985 entrou na Companhia de Jesus (Jesuítas) e, desde 1986, atuou como professor de exegese bíblica na FAJE, Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, em Belo Horizonte. Faleceu no dia 21 de maio de 2022. Este comentário é do livro “Liturgia Dominical, Editora Vozes.