Comunicar uma igreja em permanente saída

Sala Paulo VI no Vaticano - Vatican News

Lendo o documento de Aparecida, vemos que ninguém é verdadeiro missionário, sem antes ser verdadeiro discípulo de Cristo.

 

Por Padre Luiz Cláudio Azevedo de Mendonça – Chanceler, Assessor Eclesiástico Diocesano da Pastoral Familiar

Uma palavra constante do nosso querido Papa Francisco é esta: devemos ser uma Igreja viva, missionária, solidária, com a alegria do Evangelho a buscar as ovelhas, as pessoas mais afastadas e perdidas nas periferias do mundo e da existência. Uma Igreja em estado permanente de saída. Ele mesmo expressou estas ideias, ainda como cardeal, na redação do riquíssimo documento de Aparecida na Conferência Episcopal Latino Americana e do Caribe. Lá é aprofundada a natureza do cristão como discípulo missionário frente aos inúmeros desafios e contradições da sociedade hodierna. Na exortação apostólica Evangelii Gaudiam (A Alegria do Evangelho), ele pauta as linhas fundamentais para este anúncio da Boa Nova, do próprio Cristo , continuando a ênfase na dimensão missionária de todos os batizados. Os Bispos do Brasil ( CNBB) captam e sintetizam estes elementos num renovador texto pastoral, o documento 100: “Comunidade de comunidades – uma nova paróquia”, para vivência e trabalho missionário nas células comunitárias, dentro da realidade brasileira.

Resgatando para nossas paróquias o Concílio Vaticano II e toda a sua riqueza, deveríamos reler a Constituição Pastoral Gaudium et Spes sobre a Missão da Igreja no mundo e também o decreto Ad Gentes, no seu conceito geral de missão, aliando ao contexto próprio do apostolado dos leigos apresentado num outro texto magisterial – Apostolicam Actuositatem. Veríamos que a Igreja deve salgar e iluminar todas as áreas e âmbitos da humanidade e do tecido social com os princípios e verdades do Amor de Cristo: a cultura, a economia, a política, as artes, o trabalho, o turismo ,o lazer e esporte, etc… Ou seja, deve ir ao encontro, se aproximar, falar a mesma linguagem dos homens, se inculturar, ser solidária, se doar para a promoção da pessoa humana, na sua libertação-salvação integral, resgatando a sua dignidade de filha de Deus, transformando a realidade em Reino do Senhor. Isto, tendo como modelo o próprio Verbo que se encarnou, tornando-se um de nós, no envio missionário da comunhão trinitária, entrando em nossa cultura e linguagem para nos revelar os caminhos da felicidade do plano divino. Jesus Cristo que saiu ao encontro dos mais necessitados, perdidos, pobres e marginalizados, a serviço de todos, para que compreendessem o sentido mais profundo de suas existências no verdadeiro Amor. Fundou a Igreja e enviou os apóstolos e discípulos com este mesmo despojamento e doação missionários, ” sem alforje, nem ouro, nem prata” , dando a vida pelos irmãos. A Igreja é essencialmente comunhão e missão na caridade fraterna e solidária de Cristo. A respeito deste tema há a rica e bela encíclica de São João Paulo II – Redemptoris Missio ( A Missão do Redentor).

Lendo o documento de Aparecida, vemos que ninguém é verdadeiro missionário, sem antes ser verdadeiro discípulo de Cristo. Por isso, a missão parte de uma experiência decisiva pessoal com Jesus, de atração, vinculação, intimidade e seguimento. Deve haver uma conversão, uma formação e um engajamento na comunidade. As estruturas da paróquia devem também ter uma conversão pastoral , deixando de lado uma pastoral da conservação, superando elementos ultrapassados e se tornando missionárias. Deve ser a Igreja uma comunhão de amor que cresce pela atração ,tendo como fonte e cume a Eucaristia, sensível e aberta aos pobres, advogada da justiça, profética, a serviço do Reino da Vida, na leitura orante da Bíblia , na espiritualidade de unidade e participação, formando comunidades eclesiais missionárias, como casa da iniciação cristã, integrando os movimentos e novas expressões comunitárias, com coração aberto ao ecumenismo e diálogo inter-religioso, promovendo a globalização da solidariedade, doando-se aos “rostos sofredores que doem em nós “.

O missionário deve ter ímpeto e audácia, ousadia e confiança; fervor espiritual, imaginação e criatividade. Deve ser decidido, determinado, entusiasmado, na evangelização pessoa a pessoa, casa a casa, comunidade a comunidade. Enfim, a espiritualidade missionária é doar-se aos irmãos, esvaziando-se de tudo, anunciando, com alegria, o Evangelho da Vida! O que deve permear toda a nossa ação pastoral  Vamos ler estes documentos e, aos poucos, aprofundar a nossa reflexão e trabalho missionário!

Fonte: Vatican News

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