Comunicação cordial, desafio para os nossos dias

Foto de Helena Lopes na Unsplash

Por Dom Valdir Mamede
Bispo de Catanduva (SP)

 

No terceiro domingo do mês de maio, desde os idos de 1966, por feliz iniciativa do então Romano Pontífice, o Papa Paulo VI, celebramos o “dia mundial das comunicações sociais”. Na ocasião, o sucessor de Pedro, sempre nos oferece uma mensagem, propondo-nos o aprofundamento de uma, dentre as dimensões essenciais, para que comunicação adequada possa ter lugar. Agora, em sua quinquagésima sétima edição, o Papa Francisco nos convida a “falar com o coração, testemunhando a verdade no amor”. As incidências práticas do tema escolhido, como o texto da mensagem elucida, comportam de nossa parte mudança de perspectivas e ações. 

Ao se falar em comunicação, não se pode esquecer de sua realidade dialógica, de interpenetração, de darmo-nos reciprocamente a conhecer. Deste modo, o critério básico para que tal “interpenetração recíproca” aconteça, outro não pode ser senão aquele da verdade, acompanhada da caridade, a qual permite seja alcançada a plenitude. Comunicar é ato de verdadeiro amor, oferecendo e recebendo, promovendo sejam abertas possibilidades outras, sempre novas, para o adequado relacionamento humano. 

Na comunicação, alguém se dá a conhecer ao outro, que também se faz conhecer. E, no diálogo, um código se estabelece para a facilitação da apreensão de quanto se pretende transmitir. Importa, então, o correto exercício da decodificação, para que haja compreensão adequada. A justa sintonia entre comunicantes elimina os ruídos de comunicação, como antes nos apercebíamos quando ligávamos o rádio e buscávamos estações, girando o botão de ajuste até que ficasse claro o sinal do que se estava transmitindo. Assim, para a edição 2023 do “dia mundial das comunicações sociais”, o Papa Francisco, ao ajustar a sintonia fina, nos propõe o testemunho da verdade no amor. São, então, três as palavras que se reclamam: testemunho, verdade e amor. E, não pode haver verdadeira comunicação, no sentido de promoção criatural, sem que ambas estejam presentes. Por isso, comunicar é deixar o coração falar ao coração, e segundo quanto afirma o Papa Francisco, permitir que tenha lugar “o milagre do encontro, que nos faz olhar uns para os outros com compaixão, acolhendo as fragilidades recíprocas com respeito, em vez de julgar a partir dos boatos semeando discórdias e divisões”. 

A “comunicação cordial” que o Papa Francisco propõe, tem modelo exemplar naquilo que ocorreu no caminho de Emaús. No desenrolar-se dos passos houve a verdadeira partilha, permitindo ardessem os corações de Cléofas e do outro discípulo, pois “Jesus ressuscitado fala com o coração, acompanhando com respeito o caminho da amargura, propondo-Se e não Se impondo, abrindo-lhes amorosamente a mente à compreensão do sentido mais profundo do sucedido”. Aí está o modo justo de se comunicar, dando a conhecer, dando-se a conhecer, e permitindo que o outro se dê a conhecer. 

A regra de ouro apresentada pelo Papa Francisco é “procurar a verdade e dizê-la, fazendo-o com amor”, com a gentileza própria de quem se encontra “bien dans sa peau”, e por isso é gentil em todas as circunstâncias. E o Papa esclarece que sendo gentis, alcançamos patamar sempre superior no qual “a gentileza não é apenas questão de etiqueta, mas um verdadeiro antídoto contra a crueldade, que pode, infelizmente, envenenar os corações e intoxicar as relações”. E assim, se chega a “desarmar os ânimos promovendo uma linguagem de paz”. 

Concluindo, com o Papa Francisco, numa relação de confiança, “precisamos de comunicadores prontos a dialogar” […] “não postos à defesa, mas ousados e criativos, prontos a arriscar na procura dum terreno comum onde encontrar-se”. Uma vez mais, é preciso redescobrir que é “necessário vencer o hábito de denegrir rapidamente o adversário, aplicando-lhe atributos humilhantes, em vez de se enfrentarem num diálogo aberto e respeitoso”. 

Aos profissionais da área da comunicação e aos demais homens e mulheres de boa vontade o desafio está lançado, e é bem aquele do “esforço que é exigido a todos e cada um de nós” para que realizemos em nossas tarefas, “a própria profissão como uma missão”, numa “comunicação livre, limpa e cordial”, pautada sempre pela verdade que nos faz e nos conserva livres, diante de tudo e de todos. 

Fonte: CNBB

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