Por Dom Valdir Mamede
Bispo de Catanduva (SP)
No terceiro domingo do mês de maio, desde os idos de 1966, por feliz iniciativa do então Romano Pontífice, o Papa Paulo VI, celebramos o “dia mundial das comunicações sociais”. Na ocasião, o sucessor de Pedro, sempre nos oferece uma mensagem, propondo-nos o aprofundamento de uma, dentre as dimensões essenciais, para que comunicação adequada possa ter lugar. Agora, em sua quinquagésima sétima edição, o Papa Francisco nos convida a “falar com o coração, testemunhando a verdade no amor”. As incidências práticas do tema escolhido, como o texto da mensagem elucida, comportam de nossa parte mudança de perspectivas e ações.
Ao se falar em comunicação, não se pode esquecer de sua realidade dialógica, de interpenetração, de darmo-nos reciprocamente a conhecer. Deste modo, o critério básico para que tal “interpenetração recíproca” aconteça, outro não pode ser senão aquele da verdade, acompanhada da caridade, a qual permite seja alcançada a plenitude. Comunicar é ato de verdadeiro amor, oferecendo e recebendo, promovendo sejam abertas possibilidades outras, sempre novas, para o adequado relacionamento humano.
Na comunicação, alguém se dá a conhecer ao outro, que também se faz conhecer. E, no diálogo, um código se estabelece para a facilitação da apreensão de quanto se pretende transmitir. Importa, então, o correto exercício da decodificação, para que haja compreensão adequada. A justa sintonia entre comunicantes elimina os ruídos de comunicação, como antes nos apercebíamos quando ligávamos o rádio e buscávamos estações, girando o botão de ajuste até que ficasse claro o sinal do que se estava transmitindo. Assim, para a edição 2023 do “dia mundial das comunicações sociais”, o Papa Francisco, ao ajustar a sintonia fina, nos propõe o testemunho da verdade no amor. São, então, três as palavras que se reclamam: testemunho, verdade e amor. E, não pode haver verdadeira comunicação, no sentido de promoção criatural, sem que ambas estejam presentes. Por isso, comunicar é deixar o coração falar ao coração, e segundo quanto afirma o Papa Francisco, permitir que tenha lugar “o milagre do encontro, que nos faz olhar uns para os outros com compaixão, acolhendo as fragilidades recíprocas com respeito, em vez de julgar a partir dos boatos semeando discórdias e divisões”.
A “comunicação cordial” que o Papa Francisco propõe, tem modelo exemplar naquilo que ocorreu no caminho de Emaús. No desenrolar-se dos passos houve a verdadeira partilha, permitindo ardessem os corações de Cléofas e do outro discípulo, pois “Jesus ressuscitado fala com o coração, acompanhando com respeito o caminho da amargura, propondo-Se e não Se impondo, abrindo-lhes amorosamente a mente à compreensão do sentido mais profundo do sucedido”. Aí está o modo justo de se comunicar, dando a conhecer, dando-se a conhecer, e permitindo que o outro se dê a conhecer.
A regra de ouro apresentada pelo Papa Francisco é “procurar a verdade e dizê-la, fazendo-o com amor”, com a gentileza própria de quem se encontra “bien dans sa peau”, e por isso é gentil em todas as circunstâncias. E o Papa esclarece que sendo gentis, alcançamos patamar sempre superior no qual “a gentileza não é apenas questão de etiqueta, mas um verdadeiro antídoto contra a crueldade, que pode, infelizmente, envenenar os corações e intoxicar as relações”. E assim, se chega a “desarmar os ânimos promovendo uma linguagem de paz”.
Concluindo, com o Papa Francisco, numa relação de confiança, “precisamos de comunicadores prontos a dialogar” […] “não postos à defesa, mas ousados e criativos, prontos a arriscar na procura dum terreno comum onde encontrar-se”. Uma vez mais, é preciso redescobrir que é “necessário vencer o hábito de denegrir rapidamente o adversário, aplicando-lhe atributos humilhantes, em vez de se enfrentarem num diálogo aberto e respeitoso”.
Aos profissionais da área da comunicação e aos demais homens e mulheres de boa vontade o desafio está lançado, e é bem aquele do “esforço que é exigido a todos e cada um de nós” para que realizemos em nossas tarefas, “a própria profissão como uma missão”, numa “comunicação livre, limpa e cordial”, pautada sempre pela verdade que nos faz e nos conserva livres, diante de tudo e de todos.
Fonte: CNBB