Dom José Gislon
Bispo de Caxias do Sul (RS)
Estimados irmãos e irmãs em Cristo Jesus! Vivemos num momento marcado por muitas tensões em nossa sociedade, que são alimentadas por discursos que se prestam mais em alimentar o ódio do que construir a paz e a comunhão, numa sociedade já marcada e fragilizada por todo o contexto da pandemia.
É um momento em que deveríamos empenhar as nossas forças para recompor a realidade da vida, duramente ferida em nossa sociedade. E faremos isso se tivermos um discurso que, na prática, favoreça a comunhão e a paz em vista do bem comum. A paz da qual nos fala o Apóstolo São Paulo, na carta aos Efésios (Ef 2,13-18), a qual não é estática, mas absolutamente dinâmica e, portanto, construtiva e criativa. Mais precisamente, aquilo que nos dá a paz é a nossa capacidade de construirmos unidade dentro de nós, eliminando do nosso coração tudo aquilo que favorece a inimizade, alimenta o ódio e favorece o espírito de vingança.
Diante de tantas polêmicas e discursos que alimentam o ódio, nós podemos nos sentir cansados e abatidos, e gostaríamos de ter um tempo ou um espaço para recompor as nossas forças e ter paz. Mas seria em vão buscar essa paz de que tanto necessitamos somente fora de nós, ou em algum lugar isolado. Precisamos aprender a construí-la dentro de nós, com os que estão longe e com os que estão próximos, com aquilo que levamos dentro de nós e com as situações que devemos afrontar nos passos da vida no dia a dia.
Como cristãos, proclamamos seguidamente que Cristo é nossa paz. Mas é no cultivo de uma intimidade constante com o Senhor Jesus, alimentada com a Palavra de Deus e a Eucaristia, que o nosso coração aprende a apreciar a “arte da paz” e o respiro da compaixão. A compaixão se aprende na escola da dor, onde ninguém pode substituir o outro, mas cada um tem a oportunidade de fazer a sua experiência de forma pessoal. A compaixão é a característica principal do Bom Pastor, e vem acompanhada da retidão, porque sem justiça permanece palavra vazia.
Nos passos da vida, muitas vezes somos feridos no corpo e no espírito, mas o Senhor não deixa de se fazer presente com a sua ternura e o seu amor-compaixão. Ele é capaz de tocar as cordas mais íntimas e sensíveis da nossa humanidade, que necessita de atenção, compaixão e cura. O que precisamos no dia a dia, mesmo quando estamos fragilizados ou feridos, é saber ouvir a voz do Senhor que nos fala ao coração. Ele tem o poder de revigorar a nossa vida, para afrontarmos e vencermos as provações que ela nos apresenta. Nos passos da vida, precisamos saber ouvi-lo, em meio aos rumores do dia a dia, mas também no silêncio e na participação da comunidade de fé.
CNBB