Os membros da Pontifícia Comissão para a Tutela dos Menores estão reunidos em Roma pela primeira vez depois da pandemia, não obstante ainda algumas participações virtuais. Entre eles, se encontra Nelson Giovanelli Rosendo dos Santos, um dos fundadores da Fazenda da Esperança. Em entrevista ao Vatican News, Nelson descreve o longo caminho a ser feito pela Igreja brasileira na atuação das novas políticas de enfrentamento dos casos de abusos.
Como Maria aos pés da Cruz, à espera da ressurreição: esta é a imagem da Igreja diante do drama dos abusos, segundo Nelson Giovannelli Rosendo dos Santos.
Nelson está em Roma para participar dos dois dias da Plenária (16 e 17 de setembro) da Pontifícia Comissão para a Tutela dos Menores, da qual é membro desde 2018, quando foi nomeado pelo Papa Francisco. A sua experiência neste campo vem da Fazenda da Esperança, sendo um de seus fundadores, na reabilitação de jovens vítimas de diversas formas de dependências e violências.
Atuando como uma ponte entre Vaticano e Brasil, Nelson afirma que o caminho da Igreja brasileira ainda é longo para poder colocar em prática de modo eficiente todas as diretrizes sugeridas pelo Pontífice no combate aos abusos: desde a formação nos seminários até à capacitação de pessoas especializadas para lidar com as vítimas e o encaminhamento dos casos para uma solução eclesial e civil.
Há uma grande boa vontade dos bispos, dos superiores das congregações religiosas, mas pela falta de orientação e formação não se sabe o que fazer. Quando uma vítima se manifesta, se abre e coloca em comum o sofrimento que teve, por não saber o que fazer muitas vezes se comete uma retraumatização daquele trauma vivido pela primeira vez.
No Brasil, qual a maior carência?
Em todos os sentidos. No sentido, por exemplo, de como saber escutar uma vítima, no sentido de como responder àquela manifestação da vítima. Depois no sentido também de dar continuidade no processo de investigação. Na questão preventiva, que é a formação no seminário… É um campo muito novo, que precisa ser trabalhado em todos os sentidos. O caminho que nós devemos fazer, que os países anglo-saxões já fizeram, ainda é muito grande.
Eu vejo a Igreja neste momento como Maria que está diante de Jesus impotente, sem poder resolver, num momento de espera, em que – claro -, diante de um crime tão bárbaro como aquele que foi o da morte de seu filho, ela só podia esperar na verdadeira esperança e fé de que tudo iria se transformar depois com a ressurreição. Assim eu vejo agora, com a experiência que eu estou escutando aqui, a Igreja no momento atual. Como Maria, que deve permanecer de pé, não desfalecer, para que a gente possa passar por este momento que provoca muita dor, muito sofrimento para todos os lados, mas devemos olhar com esperança. Ela esperou três dias, pode ser que nós devamos esperar muito mais tempo.
