Por José Antonio Pagola
Jesus não queria que as pessoas da Galileia imaginassem Deus como um rei, um senhor ou um juiz. Ele o experimentava como um pai incrivelmente bom. Na parábola do “pai bom” mostrou-lhes como ele imaginava Deus.
Deus é como um pai que não pensa em sua própria herança. Respeita as decisões dos filhos. Não se ofende quando um deles o considera “morto” e lhe pede sua parte da herança.
Com tristeza ele o vê partir de casa, mas nunca o esquece. Aquele filho sempre poderá voltar para casa sem temor algum. Quando um dia o vê chegar faminto e humilhado, o pai “se comove”, perde o controle e corre ao encontro do filho.
Esquece-se de sua dignidade de “senhor” da família e o abraça e beija efusivamente como uma mãe. Interrompe a confissão do filho para poupar-lhe mais humilhações. Ele já sofreu bastante. Não precisa de explicações para acolhê-lo como filho. Não lhe impõe nenhum castigo. Não exige dele um ritual de purificação. Nem sequer parece sentir necessidade de manifestar-lhe o perdão. Não é necessário. Nunca deixou de amá-lo. Sempre procurou para ele o melhor.
Sua preocupação é que seu filho se sinta bem novamente. Dá-lhe de presente o anel da casa e a melhor veste. Oferece urna festa a todo o povoado.
Haverá banquete, música e danças. Junto ao pai, o filho deverá conhecer a festa boa da vida, não a diversão falsa que procurava entre prostitutas pagãs.
É assim que Jesus sentia Deus e assim o repetiria também hoje aos que vivem longe dele e começam a ver-se como que “perdidos” na vida. Qualquer teologia, pregação ou catequese que esquece esta parábola central de Jesus e impede de experimentar Deus como um Pai respeitoso e bom, que acolhe seus filhos e filhas perdidos oferecendo-lhes seu perdão gratuito e incondicional, não provém de Jesus nem transmite a Boa Notícia de Deus que ele pregou.
Fonte: Franciscanos
JOSÉ ANTONIO PAGOLA cursou Teologia e Ciências Bíblicas na Pontifícia Universidade Gregoriana, no Pontifício Instituto Bíblico de Roma e na Escola Bíblica e Arqueológica Francesa de Jerusalém. É autor de diversas obras de teologia, pastoral e cristologia. Atualmente é diretor do Instituto de Teologia e Pastoral de São Sebastião. Este comentário é do livro “O Caminho Aberto por Jesus”, da Editora Vozes.