Por Cardeal Orani João Tempesta, O. Cist. –
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro (RJ)
A Igreja celebra no dia 1° de maio o dia de São José Operário. A figura de São José adquire em nossos dias uma grande popularidade. Pio IX o declarou patrono da Igreja Universal, Pio XII instituiu a festa de São José Operário, João XXIII pede sua proteção especial para o Concílio Ecumênico Vaticano II e acrescenta seu nome ao cânon da Missa. É ainda patrono dos pais de família, dos tesoureiros, dos procuradores, dos trabalhadores em geral. Servidor fiel e prudente a serviço da Sagrada Família, continua sendo servidor da família cristã, modelo das virtudes do lar.
São José é o modelo ideal de operário e de homem que viveu a caridade. Ele sustentou sua família durante toda a vida com o trabalho de suas próprias mãos, cumpriu sempre seus deveres para com a comunidade, ensinou ao Filho de Deus a profissão de carpinteiro e, desta maneira suada e laboriosa, permitiu que as profecias se cumprissem e seu povo fosse salvo, assim como toda a Humanidade.
Proclamando São José como protetor dos trabalhadores, a Igreja quis demonstrar que está ao lado deles, os mais oprimidos, dando-lhes como patrono o mais exemplar dos homens, aquele que aceitou ser pai adotivo de Deus feito homem, mesmo sabendo o que poderia acontecer à sua família. José lutou pelos direitos da vida do ser humano e agora, coloca-se ombro a ombro na luta pelos direitos humanos dos trabalhadores do mundo, por meio dos membros da Igreja que aumentam as fileiras dos que defendem os operários e seu direito a uma vida digna.
A Igreja, ao apresentar-nos São José como modelo, não se limita a louvar uma forma de trabalho, mas a dignidade e o valor de todo o trabalho humano honrado. Na primeira Leitura da Missa, lemos a narração do Gênesis em que o homem surge como participante da Criação. A Sagrada Escritura também nos diz que Deus colocou o homem no jardim do Éden para que o cultivasse e guardasse.
O trabalho foi desde o princípio um preceito para o homem, uma exigência da sua condição de criatura e expressão da sua dignidade. E a forma como colabora com a Providência divina sobre o mundo. Com o pecado original, a forma dessa colaboração, o como, sofreu uma alteração: “A terra será maldita por tua causa- lemos também no Gênesis-; com fadiga te alimentarás dela todos os dias da tua vida… Comerás o pão com o suor de teu rosto” (Gn 3, 17-19).
Durante muito tempo, houve uma ênfase no tema da propriedade, o que levou os setores capitalistas dominantes a uma defesa total da propriedade privada. Com a publicação da Laborem Exercens (1981), São João Paulo II acentua o trabalho, em seu significado material e objetivo, e espiritual; há uma inflexão de orientação em sua importância em sua importância para a vida social. O trabalho tem por base operar numa comunidade de pessoas. Significa domínio dos homens entre si (na hierarquia social, nas remunerações salariais, no acesso aos bens de consumo, nas oportunidades de desenvolvimento intelectual e social); um trabalho sem remuneração justa aquilata se existe fraternidade humana.
“O trabalho é um desses aspectos, perene e fundamental e sempre com atualidade, de tal sorte que exige constantemente renovada atenção e decidido testemunho. Com efeito, surgem sempre novas interrogações e novos problemas, nascem novas esperanças, como também motivos de temor e ameaças, ligados com esta dimensão fundamental da existência humana, pela qual é construída cada dia a vida do homem, da qual esta recebe a própria dignidade específica, mas na qual está contido, ao mesmo tempo, o parâmetro constante dos esforços humanos, do sofrimento, bem como dos danos e das injustiças que podem impregnar profundamente a vida social no interior de cada uma das nações e no plano internacional. Se é verdade que o homem se sustenta com o pão granjeado pelo trabalho das suas mãos— e isto equivale a dizer, não apenas com aquele pão quotidiano mediante o qual se mantém vivo o seu corpo, mas também com o pão da ciência e do progresso, da civilização e da cultura — então é igualmente verdade que ele se alimenta deste pão com o suor do rosto, isto é, não só com os esforços e canseiras pessoais, mas também no meio de muitas tensões, conflitos e crises que, em relação com a realidade do trabalho, perturbam a vida de cada uma das sociedades e mesmo da inteira humanidade” [1]
Peçamos a intercessão de São José para realizar bem o ofício que nos ocupa tantas horas: as tarefas domésticas, o laboratório, o arado ou o computador, o trabalho de carregar pacotes ou de cuidar da portaria de um edifício. A categoria de um trabalho reside na sua capacidade de nos aperfeiçoar humana e sobrenaturalmente, nas possibilidades que nos oferece de levar adiante a família e de colaborar nas obras em favor dos homens, na ajuda que através dele prestamos à sociedade.
Fonte: Vatican News
[1] (Retirado do site: http://w2.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/encyclicals/documents/hf_jp-ii_enc_14091981_laborem-exercens.html. Laborem Exercens, n.1/ Último acesso: 27/04/2023).