Cardeal Dom Sergio da Rocha
Arcebispo de São Salvador da Bahia, Primaz do Brasil
Temos muito a aprender com a pandemia que tem trazido tanto sofrimento à humanidade. É cedo para elencar lições completas ou achar que já não temos mais a aprender. O aprendizado continua no campo científico, nas relações humanas e na vida social, desafiando a dar passos. Tem sido grande o progresso científico com um conhecimento maior do vírus e a produção de vacinas em tempo recorde. Porém, a humanidade tem ocasião para aprender e crescer na vivência da corresponsabilidade pela vida e a saúde, para rever e aprofundar padrões de comportamento que não condizem com a dignidade humana e que geram injustiças e morte. As vacinas da COVID-19 trazem esperança de superação e vida nova. Infelizmente, há outros “vírus” que continuam a se espalhar e a exigir a atenção e os esforços de todos, pois também contagiam, provocando sofrimento e morte. Podem ser citados, com particular preocupação, a agressividade e as fake news, que não podem se instalar como algo normal no cotidiano das pessoas e nos noticiários. A superação desses “vírus” exige o empenho de cada um e a ação decidida das instituições. As redes sociais não devem disseminar o vírus do ódio ou da mentira, mas favorecer o respeito fraterno, a esperança e a paz, tão necessários neste tempo sofrido.
A pandemia tem sido um período especial para refletir sobre o sentido e os rumos dados à própria vida e à vida social. As medidas sanitárias estabelecidas nos obrigam a olhar para o outro sem fronteiras, a sentir-nos mais responsáveis pelo próximo. O planeta, tão grande, parece ficar pequeno com o vírus que se difunde atingindo a todos, especialmente os mais vulneráveis. A casa parece estreitar-se. Os laços que nos unem parecem mais fortes, ainda que sejam muitas vezes negados ou fragilizados por tantas situações de exclusão. Apesar das resistências, é motivo de esperança ver tantas pessoas assumirem medidas restritivas que exigem tantos sacrifícios. O cuidado da vida e da saúde necessita ser compartilhado com responsabilidade, sobretudo num cenário de agravamento da pandemia. Em meio a tanto sofrimento, necessitamos reconhecer, com gratidão e louvor, o coração generoso que move tantas mãos estendidas para cuidar, partilhar e consolar. São inúmeras as iniciativas de solidariedade, de serviço e de partilha voltadas para os doentes, os pobres e fragilizados. Não podemos nos cansar da caridade, nem desistir da solidariedade.
No cuidado de si e do outro é fundamental o cultivo da espiritualidade, especialmente, em momentos de crise. Orar e meditar fazendo a experiência do amor de Deus é fonte de serenidade e de esperança, sustento para a vivência do amor solidário. Neste tempo de pandemia nós podemos aprender a conjugar mais os verbos orar, amar e servir.