Cardeal Ouellet: “Os bispos devem comportar-se como os fiéis, em fraternidade”

Cardeal Oullet na coletiva de imprensa

Para o cardeal Oullet, o primeiro objetivo da sinodalidade, para o qual ele disse ser necessária muita paciência, é a escuta mútua e a promoção da comunhão eclesial, “fazer da Igreja uma testemunha do amor mútuo, porque se não houver amor mútuo ninguém vai acreditar em nós”. Ontem a coletiva de imprensa.

 

Padre Modino – CELAM

O que é novo, geralmente exige ser conhecido. Não há dúvida de que a Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe é algo sem precedentes, que gradualmente será definido de forma mais ampla. Os presentes na coletiva de imprensa na sexta-feira ouviram várias definições do que isso é para o cardeal Marc Oullet, para a jornalista Lisandra Chaves, para o Padre Venâncio Mwangi e para a Irmã Blanca Karina Farias.

Para o presidente da Pontifícia Comissão para a América Latina, “esta Assembleia Eclesial é uma iniciativa que quer promover uma caminhada conjunta em todos os níveis da Igreja”, mas ele também a definiu como “uma experiência de fé, uma experiência de Deus, porque há um clima de comunhão, de fraternidade, de escuta mútua, de paciência também, e há pérolas que vêm até nós de todas as intervenções”.

“Esta Assembleia eclesial é um paradigma, um exemplo para a Igreja universal, que nos envolve a viver com responsabilidade e compromisso o dom e a tarefa de sermos discípulos missionários”, segundo a religiosa mexicana, missionária em Vancouver (Canadá). Como foi o caso de muitos dos participantes, estamos diante de algo que superou as expectativas, como testemunhou Lisandra Chaves.

Assembleia Eclesial – coletiva de imprensa

Trata-se de construir a comunhão, algo em que o Cardeal Ouellet insistiu, que se consegue “através da reflexão sobre a sinodalidade e sobretudo a prática da participação, como algo que favorece a comunhão da Igreja e a caminhada em conjunto, assegurando que aqueles que estão nas periferias sejam integrados na marcha comum e que sejamos realmente uma família de Deus”, nas palavras do cardeal Ouellet.

A Assembleia, disse Lisandra Chaves, está servindo para ver “como temos coisas em comum, como estamos percebendo que o clericalismo nos faz tanto mal”. Primeira mulher na Conferência Episcopal da Costa Rica a dirigir uma comissão nacional, ela vê a Assembleia Eclesial como um pontapé de saída para “as mulheres poderem assumir esses papéis”. Ela também lembrou as palavras do Papa Francisco nas quais ela disse que não quer que as mulheres sejam servas do clericalismo, chamando por “uma Igreja sinodal”, com protagonismo feminino, porque as mulheres são “aquelas que levam a fé adiante”.

Irmã Blanca, Assembleia Eclesial – coletiva de imprensa

Pessoas de ascendência africana tiveram uma presença invisível em todas as esferas, inclusive na Igreja, a ponto de São João Paulo II ter pedido perdão para isso à população afrodescendente, como lembrou o padre Venâncio Mwangi, um povo que “quer viver o Mistério da Encarnação” e que também “quer sentar-se à mesa”. Após denunciar as atuais formas de escravidão, como o tráfico de pessoas e a migração, ele enfatizou que a presença de representantes da população afrodescendente nesta Assembleia “significa que a Igreja ouviu este grito”. Ele se perguntava, no entanto, onde estão os 200 milhões de negros do continente na Igreja.

Padre Venâncio, Assembleia Eclesial – coletiva de imprensa

Uma realidade de exclusão que os migrantes também experimentam, como disse a irmã Karina, que participa de um trabalho de promoção dos migrantes, “algo que envolve muitos desafios diante da violação de seus direitos humanos e trabalhistas”, e exige um trabalho em rede com outras instituições. A religiosa disse que estamos vivendo “um tempo de graça, de escuta e conversão para todos nós, que precisamos ter uma conversão pastoral e viver em sinodalidade em nossas relações e estruturas”. Por esta razão, ela insistiu que “se não agirmos agora, esta Assembleia Eclesial não promoverá esta renovação da Igreja que o mundo está pedindo tanto de nós”.

Eles procuram ser “uma Igreja que é mãe e move toda a comunidade local para ser solidária, para acolher”. Daí a importância de uma Igreja que não tem fronteiras e que ajuda desde as necessidades básicas até a defesa de seus direitos, de acordo com a religiosa. Esta Igreja Mãe está presente na Comissão Nacional de Abuso para a proteção de menores e adultos em vulnerabilidade, que na Costa Rica tomou medidas, como Lisandra, que é membro da comissão, relatou, com a elaboração de diretrizes para a prevenção de abusos e de um código de conduta.

Lisandra, Assembleia Eclesial – coletiva de imprensa

Ela insistiu em continuar a tomar medidas e para que as mulheres se envolvam e participem das comissões nacionais. Segundo ela, “não é conveniente que as comissões nacionais de prevenção sejam apenas do clero, porque isso se presta a encobrir situações”, exigindo a presença de leigos, de mulheres, que ela diz poder entender melhor as vítimas, dada sua maternidade e ternura, sua disposição para escutar.

Falando da missão, padre Venâncio insistiu na necessidade de escutar os clamores, de abraçar o novo, a surpresa, algo que é assustador, citando alguns exemplos destes elementos que provocam medo: abuso, migrantes, racismo, negritude, povos nativos…

Para o cardeal Oullet, o primeiro objetivo da sinodalidade, para o qual ele disse ser necessária muita paciência, é a escuta mútua e a promoção da comunhão eclesial, “fazer da Igreja uma testemunha do amor mútuo, porque se não houver amor mútuo ninguém vai acreditar em nós”. O cardeal vê a sinodalidade como “a dinâmica da comunhão, a dimensão organizacional da comunhão”, insistindo na importância de que a Igreja se torne cada vez mais sinodal, “onde todos se sintam participantes, respeitados, membros, que todos tenham uma contribuição a fazer”.

Assembleia Eclesial – coletiva de imprensa

O prefeito da Congregação dos Bispos defendeu estruturas de consulta, que “em muitos lugares não existem”, onde os leigos, as mulheres, os religiosos, podem se expressar. Ele deixou claro que “não existe o Povo de Deus e a Igreja hierárquica; a hierarquia é parte do Povo de Deus”. E além disso, “os bispos devem comportar-se como os fiéis, em fraternidade com todos, ouvindo a todos, porque é o mesmo Espírito que habita em todos os membros e os conduz ao testemunho que ele deu à humanidade e à experiência da salvação”.

A mulher caiu num papel de submissão, de invisibilidade, segundo Lisandra Chaves, e é por isso que “as mulheres têm que exigir seus direitos dentro da Igreja, assumir nosso papel de discípulas e entender que somos, que somos importantes, que Jesus veio para dignificar as mulheres e as fez discípulas”.

Fonte: Vatican News

 

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