Por Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ
“Eu sou o Caminho, a verdade e a vida” (Jo 14,6)
Neste mês de maio, em que lembramos de Nossa Senhora, dia das Mães e da atualidade do Santo Rosário na santificação cotidiana da vida, estamos convidados, como Igreja, a celebrar o Dia do Senhor. Celebramos neste domingo o quinto do Tempo Pascal. Vivemos as alegrias da Páscoa e aguardamos ansiosamente para daqui a três domingos recebermos o Espírito Santo, na solenidade de Pentecostes. Do mesmo modo que Jesus enviou os discípulos para a missão, Ele nos envia, hoje, com a força do Espírito Santo, para encorajar os desanimados, alegrar os tristes e anunciar a esperança aos que se encontram sem esperança.
O Senhor nos reúne em torno da mesa da Palavra e da Eucaristia e parte o pão para nós. Primeiro, escutamos e guardamos no coração a Palavra e, após entendermos e guardarmos a Palavra, os nossos olhos se abrem para podermos comungar do Corpo e Sangue de Cristo.
Na liturgia deste domingo, o Senhor nos diz: “Não se perturbe o vosso coração. Tendes fé em Deus, tendes fé em mim também” (Jo 14,1). No contexto dessa frase, Jesus se dirigia aos discípulos, quando Ele diz que voltaria ao Pai de maneira definitiva, mas não os deixaria órfãos, enviaria o Espírito Santa da parte de Deus que caminharia à frente deles. E, ainda, eles deveriam acreditar que assim como Jesus ressuscitou, eles também ressuscitariam. Isso vale para nós hoje, devemos crer em nosso coração, que do mesmo modo que Cristo ressuscitou, nós de igual modo ressuscitaremos e que a vida aqui na terra é passageira.
A primeira leitura da missa deste domingo é de Atos dos Apóstolos, como temos acompanhado desde o início do tempo pascal e que retrata justamente os atos dos apóstolos, após a ressurreição de Jesus e o início da Igreja primitiva. O trecho do livro dos Atos dos Apóstolos deste domingo é (At 6,1-7), e diz que o número dos fiéis crescia sempre mais. Com isso, os fiéis de origem grega começaram a queixar-se dos fiéis de origem hebraica, dizendo que as suas viúvas eram deixadas de lado no atendimento diário. Os discípulos, então, decidiram por bem escolher sete pessoas de boa índole, repletos do Espírito Santo, que servissem às viúvas, enquanto os apóstolos não deixariam de anunciar a Palavra. A proposta agradou toda a multidão e eles escolheram Estevão, homem cheio de fé e do Espírito
Santo, além de Felipe, Prócoro, Nicanor, Timon, Pármenas e Nicolau de Antioquia, um pagão que seguia a religião dos judeus.
Eles foram apresentados aos apóstolos, que oraram e impuseram as mãos sobre eles. Observamos nessa leitura, em primeiro lugar, o número “sete”, que significa totalidade e a perfeição de Deus. Por isso, a decisão dos apóstolos era perfeita e o Espírito Santo estava com os escolhidos. Outro ponto que observamos é que os apóstolos realizam aquilo que vemos hoje nas ordenações diaconais, presbiterais e episcopais. Eles impõem as mãos sobre esses homens e ali acontece a efusão do Espírito Santo, como acontece nas ordenações. Com isso, a multidão de fiéis foi crescendo mais e mais.
No salmo responsorial 32(33), o refrão desse domingo é: “Sobre nós venha, Senhor, a vossa graça, da mesma forma que em vós nós esperamos!” A graça maior que podemos pedir ao Senhor é o dom do Espírito Santo. Que o Espírito Santo dirija os nossos passos no caminho da santidade para que possamos encontrar o Senhor.
A segunda leitura é da primeira carta de São Pedro, que também estamos acompanhando desde o início do tempo pascal. Pedro era o líder do grupo dos apóstolos e o primeiro papa da Igreja. O trecho da leitura desse domingo é 1Pd 2,4-9. Pedro convida a comunidade que o ouve e a cada um de nós a nos aproximarmos do Senhor. Ele é a pedra viva rejeitada pelos homens. Como pedras vivas, somos chamados a nos distanciar daquilo que desagrada ao Senhor e oferecer sacrifícios agradáveis a Deus. Deus nos tirou das trevas e nos colocou no caminho da luz, por meio da revelação de Jesus Cristo.
O Evangelho desse domingo é de João (Jo 14, 1-12). Nesse trecho do Evangelho, Jesus prepara os discípulos para a sua volta definitiva ao Pai, que se dará logo, mas Ele acalma o coração deles dizendo que Ele vai, mas não os deixará órfãos, enviará o Paráclito, o defensor, o advogado, que caminhará à frente deles, que é o Espírito Santo prometido da parte do Pai. Jesus os envia em missão e dá início à Igreja primitiva e com a força do Espírito Santo, eles poderiam realizar tudo aquilo que Jesus realizava.
Jesus diz, ainda, que iria primeiro para preparar um lugar para os discípulos, pois Ele iria primeiro e logo após iriam os discípulos. Jesus disse isso aos apóstolos e serve para nós, hoje, também, pois a nossa vida na terra é passageira, após a nossa passagem aqui viveremos eternamente ao lado de Deus. A vida não termina aqui, mas inicia a vida eterna. Como diz Jesus, tenhamos fé em Deus e fé n’Ele, também.
Tomé, um dos discípulos, conhecido como “Dídimo”, diz a Jesus que não sabia para onde Ele iria e como poderia saber o caminho? E Jesus responde: “Eu sou o Caminho, a verdade e a vida” (Jo 14,6). Jesus é a nossa “porta” de acesso ao Pai, Ele abriu o caminho e, do mesmo modo que Ele voltou para o Pai, nós também voltaremos.
Jesus é a imagem do Pai, e quem o vê, vê o Pai, por isso, toda vez que vamos à celebração da missa, na hora da consagração do pão e do vinho nós o encontramos nos sinais sacramentais. Ao comungarmos, comungamos do Corpo e Sangue de Cristo, que o sacerdote por intermédio divino e pela ação do Espírito Santo a consagrou.
Comungamos aqui diariamente e vamos viver no céu eternamente, participamos do banquete agora, para depois dessa passagem aqui na terra, participarmos do banquete eterno no céu. É isso que na liturgia de hoje Jesus nos garante. Busquemos ao Senhor tenazmente e aguardemos com fé a vinda do Espírito Santo e o nosso encontro definitivo com o Senhor. Amém.
Fonte: CNBB