A Eucaristia é um “mistério da fé” muito rico de significados. Nas palavras da Oração do Dia da Solenidade, a Eucaristia é “o Sacramento do memorial” da paixão de Cristo, quando Ele “amou os seus até o fim” (Jo 13,1), até às últimas consequências, e entregou a si mesmo, seu corpo e sangue e sua morte por amor à humanidade.
Por Cardeal Odilo Pedro Scherer
Arcebispo metropolitano de São Paulo
A solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo (Corpus Christi) é a “festa da Eucaristia”, esse dom imenso que Jesus deixou à Igreja antes de morrer. Cada vez que celebra a Eucaristia no rito da Missa, o sacerdote exclama após a consagração do pão e do vinho no Corpo e no Sangue de Cristo: “Eis o mistério da fé!”. E os participantes aclamam: “Anunciamos, Senhor, a tua morte, proclamamos a tua ressurreição, enquanto esperamos tua vinda gloriosa!”
A Eucaristia é um “mistério da fé” muito rico de significados. Nas palavras da Oração do Dia da Solenidade, a Eucaristia é “o Sacramento do memorial” da paixão de Cristo, quando Ele “amou os seus até o fim” (Jo 13,1), até às últimas consequências, e entregou a si mesmo, seu corpo e sangue e sua morte por amor à humanidade. É sempre um desafio grande para a nossa inteligência a explicação para essa atitude extrema de Jesus na sua paixão, que ele aceitou livremente, como um gesto de entrega e de amor “pelos seus que estavam no mundo”, que no início também era chamada “ceia do Senhor” (Jo 13,1). Por isso, a comunidade eucarística exclama e aclama: Mistério da fé! Que sublime, que profundo, que divino mistério da fé!
Os apóstolos entenderam bem o pedido de Jesus: “Fazei isto em memória de mim todas as vezes que o fizerdes” (Lc 22,19). A celebração da Eucaristia, que nos primórdios da Igreja também era chamada “ceia do Senhor”, tornava presente o que Jesus fez pela humanidade na sua paixão, morte e ressurreição e, assim, a celebração proporcionava o encontro com o próprio Senhor ressuscitado, que prometeu: “Eu estarei sempre com vocês” (cf. Mt 28,20). Também hoje, celebrando a Eucaristia, a Igreja se reúne com Jesus, como os discípulos naquele tempo, e Dele recebe novamente a palavra da vida e o pão da vida. É sempre Ele o Grande Sacerdote que, pelo celebrante e a comunidade celebrativa, eleva ao Pai a adoração, o louvor, a súplica, a ação de graças. Ele mesmo continua sendo o Pastor, que exorta e conduz as ovelhas às fontes da salvação e da vida.
A Eucaristia contém todo o bem da Igreja, pois ela é Cristo, com a riqueza da sua Boa Nova, seus dons e sua grande promessa. Por isso, a celebração da Eucaristia é o centro e o ponto mais alto da missão e da vida da Igreja. Dela, a Igreja recebe toda a sua força e vitalidade. Sem a Eucaristia, a Igreja perderia rapidamente a sua referência indissociável a Jesus Cristo e poderia cair na tentação da autorreferencialidade, de se tornar fim em si mesma para ser, finalmente, uma organização meramente humana, talvez uma ONG religiosa, mas baseada apenas em si mesma. Na celebração da Eucaristia, a Igreja cresce na consciência de ser, ela mesma, parte desse “mistério da fé”, como a Igreja afirmou: “A Igreja faz a Eucaristia, mas é a Eucaristia que faz a Igreja” (Exortação Apostólica Ecclesia de Eucharistia).
Se alguém quiser saber o que é a Igreja, olhe com fé e procure compreender bem a comunidade eucarística. Na celebração da Eucaristia aparece o que é a Igreja: a comunidade dos discípulos de Jesus, com Ele, presidida por Ele, ouvindo-o, professando a fé, dando graças, glória, louvor e adoração a Deus, pedindo perdão e misericórdia pela humanidade, nutrindo a fé e enviando os discípulos em missão. A celebração da Eucaristia é, por isso, a “epifania da Igreja”.
Mas… que pena! Ainda são tão poucos os católicos que participam da celebração da Eucaristia, sobretudo aos Domingos! Será por desconhecer esse dom maravilhoso? Anunciemos a Boa Nova a eles! Será por nunca terem recebido um convite alegre e convincente? Convidemos, com toda convicção, respeito e amor! Será porque o jeito das nossas celebrações não corresponde à grandeza e beleza do mistério celebrado? Renovemos nossas celebrações a partir de uma verdadeira conversão diante de “tão sublime Sacramento”.
Uma das orientações do nosso sínodo arquidiocesano consiste, justamente, na maior valorização do Domingo, dia do Senhor e dia da Comunidade”, dia da Eucaristia. A tão desejada “comunhão, conversão e renovação missionária” e pastoral passa por uma nova valorização da celebração da Eucaristia dominical e, é claro, pela maior participação do povo nessa celebração, pela qual nos vem a grande Bênção de Deus.
Fonte: Vatican News