Já foram impressos mais de 50 milhões de exemplares, sendo 10 milhões só no Brasil. Além da versão em português, a Bíblia da Criança foi traduzida para outras línguas dos indígenas, como Sateré-Mawé, Guarani, Tukano, Ticuna e Macuxi. “Às vezes, 15 a 20 reais de doação fazem muita diferença para ajudar a gente a publicar um pequeno livro que chega na mão das crianças que, para ser impresso, precisa de recursos”, afirma o diretor de projetos da ACN para o Brasil e América Latina, Rafael D’Aqui.
Por Andressa Collet
A comunidade indígena da tribo Sateré-Mawé, no Amazonas, agora pode ler a Bíblia em sua própria língua. A ACN (Aid to the Church in Need ou Ajuda à Igreja que Sofre) concluiu a nova edição da “Bíblia da Criança – Deus Fala a Seus Filhos” na língua indígena local e a distribuiu para várias comunidades. A Bíblia, assim, é mais do que um instrumento de aprofundamento da fé, ela também ajuda a preservar a língua e a cultura indígena.
A Bíblia da Criança no Amazonas
O povo Sateré-Mawé vive nas regiões de Andirá e Marau, diocese de Parintins, no Amazonas. Graças à ACN, foram distribuídos mais de 1.000 exemplares da Bíblia da Criança para lideranças de 30 comunidades. O Padre Henrique Uggé, missionário italiano do Pontifício Instituto para as Missões Exteriores (PIME), trabalha há décadas com o povo da Amazônia. Ele explica que, de fato, “todos gostamos de ouvir, ler e meditar a Palavra de Deus em nossa própria língua, em nosso próprio contexto cultural e histórico”. Ele acrescenta ainda que os Sateré – Mawé agora poderão ouvir as leituras da Missa também em sua língua indígena. “Isto será muito útil para eles”.
O sacerdote lembra que quando chegou à região, em 1972, a comunidade indígena estava reduzida a cerca de 1.200 pessoas e corria o risco de extinção por doenças como sarampo e descaso das autoridades civis. O sacerdote recorda que viajava em pequenos barcos, saindo da imensidão do rio Amazonas até os pequenos igarapés, onde apenas uma canoa conseguia passar pelo rio. Agora, são mais de 12.000 indígenas que fortaleceram sua cultura e beneficiam as crianças também por meio de uma rede de escolas bilíngues.
A nova edição da Bíblia da Criança, que inclui histórias importantes do Antigo e do Novo Testamento, apenas se tornou realidade graças aos benfeitores da ACN. Além disso, conta com o trabalho de sete catequistas locais que a traduziram. Um deles é Dercival Santos Batista, membro dos Sateré-Mawé: “através deste livro, nossas crianças e nossos jovens poderão trilhar o caminho certo. Afinal, também é muito importante para a nossa própria compreensão da Palavra de Deus”. Outro tradutor, Honorato Lopes Trindade, explica que publicações como essas têm a vantagem de ajudar a preservar a cultura local: “estamos perdendo nossa língua e devemos trabalhar para mantê-la.”
Mais de 10 milhões de bíblias distribuídas no Brasil
A Bíblia da Criança foi publicada pela ACN em 1979, no Ano Internacional da Criança. Desde então, foi traduzida para 193 línguas. Já foram impressos mais de 50 milhões de exemplares do livro, sendo mais de 10 milhões só no Brasil. Além de Sateré-Mawé e da versão em português, a Bíblia da Criança foi traduzida para outras línguas dos indígenas brasileiros, como Guarani, Tukano, Ticuna e Macuxi. Em alguns casos, a Bíblia da Criança foi o primeiro livro a ser publicado naquela língua.
O diretor de projetos da ACN para o Brasil e a América Latina, Rafael D’Aqui, foi entrevistado por Silvonei José durante a 60ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) que começou nesta quarta-feira (19), em Aparecida. No Brasil, a organização está trabalhando com cerca de 400 projetos por ano, entre eles o da Bíblia da Criança, concentrados principalmente na região norte e nordeste do país:
“Os projetos da ACN, na verdade, não são da ACN, mas da igreja local do Brasil que precisam de apoio para poder sobreviver. A ACN está presente em todas as partes do mundo. A ACN ajuda em 147 países no mundo. E, nós, estamos em 23 países coletando ajuda para ajudar esse 147 países: são países de perseguição religiosa, discriminação religiosa, um país onde a Igreja passa por necessidade material. E a gente precisa da ajuda de cada um.”
Rafael conta, porém, que a atuação da ACN Brasil vai além e com diferentes projetos tanto em centros urbanos como nas comunidades mais necessitadas do país:
“Desde a construção de capelas e centros pastorais e de catequese. Por exemplo, aqui perto de São Paulo, em região de favelas, a gente tem salinhas de 25 lugares para atender 250 crianças que vêm para a catequese: então a gente precisa fazer adaptação nas estruturas. Mas a gente também tem projetos para ajuda e assistência a religiosas, como no estado da Bahia, onde existem muitos pequenos povoados onde se precisa da presença de igrejas, e as religiosas são essa presença, esse cuidado de Deus junto das crianças, dos jovens, das famílias, das mulheres. Temos projetos para sacerdotes na Amazônia: como vão viver, como vão se locomover, já que eles usam lanchas. Temos as pirogas, as canoazinhas que vão para atender as comunidades indígenas.”
Fonte: Vatican News – colaboração: ACN Brasil