Por Frei Luiz Iakovacz
Na história da Igreja, até meados do Século II, o livro Atos dos Apóstolos teve vários nomes, entre eles, o de “Evangelho do Espírito Santo”. De fato, ele é citado 55 vezes, ora animando missionários e comunidades, ora iluminando os passos a serem dados e, outras vezes, tomando decisões com eles.
Logo após Pentecostes, membros do Sinédrio, intrigados com a cura de um coxo, prendem os apóstolos Pedro e João, questionando-os em ‘nome de quem realizaram o milagre’ (cf. 3,1-11). Respondem que foi em nome de Jesus e, ‘cheios do Espírito Santo’, os acusam de serem os autores da morte de Jesus, mas “Deus O ressuscitou e disso nós somos testemunhas” (Cf. 4,5-10). Vendo a firmeza de suas palavras e a estima que o povo lhes tinha (cf. 4,13ss), o Sinédrio, mediante severa ameaça, os proíbe de “ensinarem em nome de Jesus. Eles, porém, respondem: julgai-o vós mesmos se é justo obedecer mais aos homens que a Deus. Nós não podemos deixar de falar das coisas que vimos e ouvimos” (cf. 4,13-22). Quando este fato foi contado à comunidade que estava em oração “tremeu o lugar onde estavam reunidos, ficaram cheios do Espírito Santo e anunciavam, com firmeza, a Palavra de Deus” (4,31). Assim, a comunidade inteira toma consciência de que ela é uma prolongação do Pentecostes das 120 pessoas (1,15; 2,4).
Por desacatarem a proibição de pregar, os apóstolos são, novamente, presos e a decisão do Sinédrio é de matá-los. Ouvindo, porém, o conselho de Gamaliel, deram-lhes a liberdade, mas, antes, os açoitaram. Saíram “contentes por sofrerem afrontas em nome de Jesus. E não cessavam de anunciar a Boa Nova no Templo e nas casas” (5,33-42).
Na escolha dos Sete Diáconos, o principal critério é que sejam “cheios do Espirito Santo e de sabedoria” (6,3). Estevão era um “homem cheio de fé e do Espírito Santo (6,5). As lideranças da sinagoga não resistiam “à sabedoria e ao Espírito que inspiravam suas palavras”. Por isso, levaram-no ao Sinédrio. Estevão não se intimidou e acusou seus membros de “cerviz dura, incircuncisos de coração e ouvidos. Vós sempre resistis ao Espírito” (7,51). A estas palavras “rangeram os dentes, taparam os ouvidos, levaram-no para fora da cidade e o apedrejaram”. Estêvão, cheio do Espírito Santo os perdoou e entregou seu espírito ao Pai (cf. 7,54-58), assim como Jesus fez, na cruz.
O Espírito Santo, também, ilumina as etapas da missão. É ele que impele Felipe a se aproximar do etíope que voltava de Jerusalém e, em seu carro, lia as Sagradas Escrituras. Após as explicações, pede e recebe o batismo (8,26-40).
O mesmo sucede com o centurião Cornélio e sua família, descrito pormenorizadamente nos capítulos 10 e 11.
Após os sonhos de Cornélio e Pedro, é o Espírito Santo que impele este último dizendo: “Estão à porta três homens enviados por Cornélio. Levanta-te, vá com eles, sem duvidar, porque fui Eu que os enviei” (10,20). Cornélio “reunira parentes e amigos íntimos” (10,24), recepcionou Pedro e pediu-lhe que lhes anunciasse ‘o que o Senhor lhe ordenara´ (v.34). Estando a pregar, “eis que o Espírito Santo desceu sobre eles. Os fiéis circuncisos, que tinham ido com Pedro, admiravam-se de ver que a graça do Espírito Santo também foi difundida sobre os gentios. E Pedro mandou que fossem batizados” (vv. 44-47).
Quando retornaram a Jerusalém, a comunidade os questionou severamente. Pedro relatou-lhe tudo e concluiu: “Quem sou eu para me opor a Deus, uma vez que o Espírito Santo desceu sobre eles, da mesma forma que a nós em Pentecostes” (11,15-17)? A comunidade, ouvindo isso, “aquietou-se e glorificava a Deus dizendo: Deus concedeu, também, aos gentios a penitência a fim de que tenham vida” (11,18). É o Pentecostes pagão!
O Espírito Santo também desperta a comunidade de Antioquia para a missão: ‘Separai-me Barnabé e Paulo para a obra que os destinei’ (13,1-3). Este último realizou quatro grandes viagens missionárias, sendo que na segunda o Espírito insistia para que, através da Macedônia, começasse a evangelizar o Ocidente. Paulo preferia ficar nas regiões da Ásia e, obstinadamente, resistia. Após muita insistência, consentiu (16,1-10). Para aqueles que lhe obedecem, o Espírito Santo os aguarda com surpresas. Filipos, a primeira cidade evangelizada do Ocidente, tornou-se a comunidade preferida de Paulo e só dela e de Tessalônica aceitava doações para prover suas necessidades (Fp 2,25; 4,15-18). Por opção pessoal, trabalhava com “suas mãos” (18,1-3) e não queria ser “pesado a ninguém” (2 Cor 11,9).
Por fim, no Concílio de Jerusalém (15,1-34), o Espirito Santo e todas as lideranças decidem que, para batizar os pagãos, não lhes será exigido a circuncisão e, consequentemente, a observância da Torá e suas tradições (613 preceitos). Porém, para uma melhor convivência entre os cristãos judeus e cristãos pagãos, propõem que estes se abstenham das carnes imoladas aos ídolos, dos casamentos ilegítimos e das carnes sufocadas (cf. 15,20). Na carta dirigida à comunidade de Antioquia e, automaticamente, às demais, escrevem: “Pareceu bem ao Espírito Santo e a nós, não vos impor nenhuma outra exigência, além destas indispensáveis” (15.28).
O Espírito Santo sopra onde quer, quando e como quer (cf. Jo 3,8). Umas vezes sopra com rajadas fortes como fez no Monte Sinai e em Pentecostes (Ex 19,16; At 2,2). Outras, como brisa suave, como aconteceu com Elias (1Rs 19,12). Urge estarmos atentos, pois Santo Agostinho adverte-se a si mesmo e a nós: “Tenho medo que a graça de Deus passe por mim e eu não a perceba”.
Fonte: franciscanos.org.br
Frei Luiz Iakovacz, OFM, frade desta Província da Imaculada, reside na Paróquia Nossa Senhora do Rosário, em Concórdia, SC.