Por Dom Antônio de Assis Ribeiro
Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Belém/PA
Introdução
De 22 a 28 de novembro deste ano, no Santuário de Nossa Senhora de Guadalupe, no México, vai acontecer a Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe. Esse evento foi convocado pelo Papa Francisco e vai procurar responder uma questão fundamental: quais são os novos desafios para a Igreja na América Latina e no Caribe, à luz da V Conferência Geral de Aparecida, dos sinais dos tempos e do Magistério do Papa Francisco?
Não se trata de uma assembleia episcopal, como tradicionalmente ouvíamos falar, mas será uma assembleia eclesial. Isso significa que tomarão parte nessa assembleia representantes das mais variadas categorias de sujeitos eclesiais. Haverá uma participação completa e ampla de todo povo de Deus através da escuta (pessoas, instituições, organizações pastorais, povos…), mas também presencialmente (por representantes) e virtualmente (quem puder).
Nesta reflexão queremos apresentar uma síntese do documento preparatório dessa Assembleia para quem ainda não teve conhecimento do mesmo. O referido documento tem uma introdução, três partes e uma conclusão.
- Os objetivos da Assembleia
- Reacender a Igreja de nova maneira, apresentando uma proposta restauradora e regeneradora;
- Ser um evento eclesial em chave sinodal, e não apenas episcopal, com uma metodologia representativa, inclusiva e participativa;
- Fazer uma releitura agradecida do documento de Aparecida que possibilite gerenciar o futuro;
- Ser um marco eclesial que consegue relançar grandes temas ainda em vigor;
- Reconectar as cinco Conferências Gerais do Episcopado Latino-Americano e Caribe ao Magistério do Papa Francisco (Laudato Si, Querida Amazônia, Fratelli Tutti);
- Celebrar o Jubileu Guadalupano (1531-2031) e da Redenção (2033).
- I Parte: a vida dos nossos novos (Ver)
A realidade da vida dos povos da América Latina e do Caribe está marcada por grandes desafios tanto em nível social quanto eclesial. Alguns desafios da realidade neste atual momento histórico são:
- Os povos em geral passam por uma situação de grande fragilidade em todos os aspectos; essa realidade profundamente vulnerável foi aguçada pela pandemia da COVID-19 e isso significa urgência um sinal de uma profunda mudança de época;
- O modelo socioeconômico dos países latino-americanos promove a exclusão crescente e, por isso, se volta contra os seres humanos; é forte nesse sistema socioeconômico a lógica da concorrência, da cultura do descarte e perda das práticas de solidariedade;
- Por todos os lados se escuta “o grito da terra” – um forte clamor para o cuidado da nossa casa comum; essa é uma das muitas formas de violência;
- Em todos os países são sentidas grandes lacunas na educação: isso justifica a promoção de um “Pacto Educativo Global” como nos desafia o Papa Francisco;
- É crescente o número de migrantes e refugiados nos países latino-americanos; eles são os novos pobres; eles assim como os povos indígenas e afrodescendentes demandam a cidadania plena na sociedade e na Igreja;
- No campo cultural sente-se a necessidade da globalização e a democratização da comunicação social; há abundância de informações e conhecimentos fragmentados, por isso é urgente à promoção de uma visão integradora do saber.
No que diz respeito à realidade da Igreja no hoje na nossa história são apresentados os seguintes desafios:
- Há um processo de secularização que está avançando em vários países da América Latina e do Caribe;
- Há um crescimento cada vez maior das denominações religiosas evangélicas e pentecostais no nosso continente;
- A pastoral urbana constitui um grande desafio e assim como a realidade juvenil como atores sociais e gestores de cultura;
- As mulheres constituem uma grande força eclesial e ao mesmo tempo há o desafio da reivindicação por uma plena participação na sociedade e na Igreja;
- Os abusos sexuais geram Graves impactos morais e pastorais geram na Igreja e o clericalismo é visto como um grande obstáculo para uma Igreja sinodal.
- II Parte: o encontro com Jesus Cristo (Iluminar)
Um eixo fundamental do discipulado e da proposta missionária é a proclamação da Vida nova em Cristo e o estabelecimento do Reino (cf. DA 367) sob a perspectiva de uma “evangelização integral” (DA 176); O chamado para ser discípulo implica ser convocado para estar intimamente unido a Jesus (cfr. DA 131).
O início do discipulado está numa pessoa, Jesus Cristo, que sai ao encontro de homens e mulheres para ser conhecido, para dar um horizonte pleno à vida e revelar a plenitude do amor divino e humano. Quando a pessoa chega a este encontro de fé tudo mudo em sua existência (cf. DA 243). Como discípulos missionários, estamos ao serviço da vida. A missão, um movimento “em saída”; a evangelização aliada à promoção humana promove a libertação autêntica.
- III Parte: o caminho da conversão (Agir)
A meta da Assembleia Eclesial Latino-americana e do Caribe é a promoção da conversão pessoal, comunitária e social. Somos chamados a percorrer novos caminhos capazes de abraçar os seguintes compromissos:
- Dar atenção ao apelo pela ecologia integral;
- Promover a economia solidária, sustentável e ao serviço do bem comum;
- Comprometer-se com a promoção da cultura de paz;
- Investir em novas tecnologias assumindo suas contribuições e seus riscos;
- Promover uma maior experiência da interculturalidade e inculturação;
- Velar pela democracia, que ainda é frágil nos nossos países;
- Estimular o caminho de renovação eclesial.
- Conclusão
Com a realização dessa Assembleia a Igreja na América Latina e no Caribe deseja buscar novos caminhos através do encontro, do discernimento e do diálogo comunitário. Essa é a dinâmica de vida dos discípulos missionários de Jesus Cristo continuamente chamados a caminharem em sinodalidade.
Essa Assembleia, reunindo a diversidade de sujeitos eclesiais, deseja contribuir com a riqueza de dons, reflexões, observações e propostas inovadoras para a renovação da vida da Igreja. Isso requer de todos nós um profundo espírito de fé que nos leva a abrir-nos à voz do Espírito Santo para acolhermos o que Ele está dizendo à Igreja na atualidade. Não é suficiente ter boas intenções: é preciso audácia pastoral para a devida renovação.
O Papa Francisco com essa iniciativa nos convida a nos exercitarmos em atitudes práticas consequentes da consciência de que a Igreja não é propriedade do clero. Somos uma família e somos todos responsáveis por ela.
PARA REFLEXÃO PESSOAL:
- Qual dos objetivos dessa Assembleia parece ser mais exigente?
- Por que a missionariedade é consequência do encontro com Jesus Cristo?
- Quais novos caminhos de fidelidade a Jesus Cristo você sente que a Igreja deve abraçar?
ORAÇÃO PREPARATÓRIA
Pai de bondade, que tem conduzido a tua Igreja peregrina na América Latina e no Caribe, inspirando-a a fazer realidade um caminho sinodal em saída a partir da experiência das Conferências Episcopais. Suplicamos-te que nos ajudes com a luz do teu Espírito Santo neste tempo de preparação para a nossa Assembleia Eclesial, que com memória agradecida lembrar-se-á do Documento de Aparecida, vislumbrando no horizonte o Jubileu de Guadalupe e da Redenção.
Que, face aos desafios presentes e futuros possamos reacender o nosso compromisso como discípulos missionários, para que possamos ter vida em Jesus Cristo encontrando Nele a alegria, a paz e a esperança que não desilude. Que, através da escuta, do diálogo e do encontro, e inspirados pela voz profética do Papa Francisco para o cuidado da casa comum, das culturas e o compromisso com a fraternidade universal, sejamos corajosos na promoção de uma economia solidária e uma educação integral, ajudando com amor aqueles que foram descartados e excluídos. Que Santa Maria de Guadalupe e o sangue de tantos homens e mulheres mártires que fecundaram a nossa fé, nos encoraje na missão que nos foi confiada. Por Jesus Cristo nosso Senhor. Amém!
CNBB Norte 2