Eis as práticas, as armas espirituais, que a Igreja, desde suas origens, recomenda a cada ano para os seus filhos. Levemo-las muito a sério para viver de verdade este sagrado Tempo que a graça do Senhor Deus nos concede:
A oração: Neste tempo os cristãos se dedicam mais à oração. Uma boa prática é rezar diariamente um salmo ou, para os mais generosos, rezar todo o saltério no decorrer dos quarenta dias. Pode-se, também, rezar a Via Sacra às sextas-feiras!
A penitência: Todos os dias quaresmais (exceto os domingos!) são dias de penitência. Cada um deve escolher uma pequena prática penitencial para este tempo. Por exemplo: renunciar a um lanche diariamente, ou a uma sobremesa, etc… Na Quarta-feira de Cinzas e na Sexta-feira Santa os cristãos jejuam: o jejum nos faz recordar que somos frágeis e que a vida que temos é um dom de Deus, que deve ser vivida em união com ele. Os mais generosos podem jejuar todas as sextas-feiras da Quaresma. Farão muitíssimo bem! Recordemo-nos que às sextas-feiras os católicos não devem comer carne; e isto vale para o ano todo!
A esmola: Trata-se da caridade fraterna. Este tempo santo deve abrir nosso coração para os irmãos: esmola, capacidade de ajudar, visitar os doentes, aprender a escutar os outros, reconciliar-se com alguém de quem estamos afastados – eis algumas das coisas que se pode fazer neste sentido! É nesta perspectiva que se deve compreender a Campanha da Fraternidade, um gesto de amor de toda a comunidade cristã em relação aos mais necessitados.
A leitura da Palavra de Deus: Este é um tempo de escuta mais atenta da Palavra: o homem não vive somente de pão, mas de toda Palavra saída da boca de Deus. Seria muitíssimo recomendável ler durante este tempo o Livro do Êxodo ou o Evangelho de São Lucas ou as Cartas de São Paulo. Neste ano, eu mesmo proporei a leitura e meditação da Epístola de São Paulo aos Gálatas.
A conversão: “Eis o tempo da conversão!”, diz-nos São Paulo. Que cada um veja um vício, um ponto fraco, que o afasta de Cristo, e procure lutar, combatê-lo nesta Quaresma! É o que a Tradição ascética de Igreja chama de “combate espiritual” e “luta contra os demônios”. Nossos demônios são nossos vícios, nossas más tendências, que precisam ser combatidas. Os antigos davam o nome de sete demônios principais: a soberba, a avareza, a tristeza (hoje diz-se a inveja), a preguiça, a ira, a gula, a sensualidade. Estes demônios geram outros. Na Quaresma, é necessário identificar aqueles que são mais fortes em nós e combatê-los!
Por Dom Henrique Soares da Costa – bispo de Palmares, falecido vítima da covid-19 em 2020