As ovelhas reconhecem a voz do seu pastor – IV Romaria das Águas e da Terra

“… caminha à frente delas e as ovelhas o seguem, pois conhecem a sua voz. Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas e as minhas ovelhas me conhecem” (Jo 10, 4.14).

As frases, tão conhecidas, são de Jesus de Nazaré. O Pastor que veio para agregar as ovelhas do Senhor, animá-las com suas palavras de salvação e vida eterna. Para lhes dar conforto diante das intempéries, coragem diante dos desafios e força no cumprimento da missão.

Encarnado, Jesus pastoreou o rebanho na completude de sua humanidade. Falava com as ovelhas até no toque das mãos. Impunha-lhes a graça e as abençoava. As multidões o seguiam e se acomodavam como podiam para ouvir seus “sermões”. Ao deixar a fragilidade do corpo humano, e ascender aos céus, Ele deixou também o legado de seu pastoreio, passado a cada discípulo, a cada um daqueles que “vêm em nome do Senhor”!

A responsabilidade de conduzir o rebanho é do pastor e deve ser feita à luz do Evangelho. Em meio à multidão dos que participaram da IV Romaria das Águas e da Terra, realizada no domingo, dia 2/06, em Itabira, muitos devem ter reconhecido o seu pastor. Aquele que faz parte do seu dia a dia, que dá vida à sua paróquia.

Foram dezenas de padres, não apenas da Diocese de Itabira-Coronel Fabriciano, mas de várias cidades da Província Eclesiástica de Mariana. Também esteve presente o bispo auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte, Dom Vicente de Paula Ferreira.

Ainda na concentração da romaria, no estacionamento do Valério, vários sacerdotes deixaram o seu recado. Ergueram as vozes sinalizando que a luta é de todo cristão, que não estamos inertes diante dos descasos e afrontas à nossa Casa Comum.

O Papa Francisco tem sido o grande incentivador desta “Igreja em Saída”, ecológica e ambientalista. Várias dioceses, ao longo da Bacia do Rio Doce, têm acolhido esta mensagem do papa. O verdadeiro pastor carrega consigo até o cheiro das suas ovelhas.

Em uma cena marcante, que talvez tenha passado despercebida para muitos, à frente da caminhada, seguiu Dom Marco Aurélio Gubiotti. O pastor da Diocese de Itabira-Coronel Fabriciano. Tão misturado ao povo de Deus quanto os demais sacerdotes. Seguia carregando “a sua cruz”, na mesma marcha ritmada, fazendo-se tão romeiro quanto os próprios romeiros: “somos todos romeiros. A romaria é uma celebração daquilo que vivemos, é a celebração da vida. A nossa caminhada é de discípulos missionários. Por isso tomamos a nossa cruz, a cruz do nosso irmão, porque na cruz de Cristo somos todos irmãos. A força do alto faz com que marchemos firmes, olhando para os lados, para a frente e, se for preciso, até para trás, para nos solidarizarmos e prosseguirmos com a ação redentora de Jesus, transformando as situações de morte em vida, em esperança”.

Em um movimento como este, fica claro que o tom da marcha é dado pelas lideranças e, neste caso, lideranças “proféticas”, armadas da Palavra, enriquecidas pelo sopro do Espírito Santo, com uma mensagem de unidade, em prol de um discurso que clame pelos desassistidos e marginalizados.

À Igreja, cabe seguir peregrina, como fez Jesus Cristo e, sobretudo, com o mesmo olhar de compaixão que o Mestre tinha; com a mesma doçura e, também, com a postura firme Daquele que não se intimidou diante dos exploradores. Ao contrário: “Tendo feito um chicote de cordas, expulsou todos do Templo, com as ovelhas e com os bois; lançou no chão o dinheiro dos cambistas e derrubou as mesas e disse aos que vendiam pombas: ‘Tirai tudo isto daqui; não façais da casa de meu Pai uma casa de comércio'”.

Quando Deus criou o mundo, viu que tudo o que havia criado era bom! Não permitamos, sem ao menos questionar, que a nossa Casa Comum, criação do Pai, tenha suas vidas destruídas pela ganância, pelo ‘lucro’ e pelos ‘poderes’.

Mensagens:

Padre José Geraldo: “que esta romaria possa trazer mais consciência ambiental e ecológica para todos nós. Esperamos sair mais animados, mais fortalecidos nesta caminhada em favor da vida.”

Padre Francisco Neto: “esta romaria é um grito profético em favor da vida e do meio ambiente. A terra é nossa, a água é nossa, os bens da criação são nossos! Esta romaria é ecumênica, há pessoas comprometidas com a defesa da meio ambiente, com a Mãe Terra. Nossa solidariedade aos familiares que perderam seus entes queridos neste crime ambiental, crime humano. A vida vale muito mais do que o minério, a exploração, a degradação ambiental.”

Padre Flávio Assis: “cabe a nós, que vivemos neste tempo de hoje, nos comprometermos a cuidar da criação. Esta romaria nos chama a atenção para o valor e para a defesa da água, da terra, da vida humana. Conclamamos a todos os cristãos e cristãs para que juntos nós possamos valorizar a vida e nos opor a tudo aquilo que destrói e mata – porque o nosso Deus é o Deus da vida”.

Padre Eugênio Ferreira: “nós queremos dar o nosso grito de alerta e, ao mesmo tempo, fazer o nosso protesto contra todo o desrespeito à nossa natureza. Deus deu a todos nós a terra como casa, não como objeto de exploração. O grande problema é a ganância, quando ela passa por cima do homem como uma máquina devastadora, sem respeitar a vida. A busca do lucro desenfreado, sem ética e sem moral é o que leva os grandes grupos a colocarem em risco a vida.”

Padre Marcelo Moreira/Ouro Preto: “nossa romaria é uma romaria orante, de anúncio e de denúncia e nos recorda este nosso compromisso com a Casa Comum – a nossa Bacia do Rio Doce. Estamos conscientes de que sem a organização do povo, sem a sua conscientização, sem a sua mobilização, nós não teremos respostas para um mundo melhor, mais inclusivo para todos.”

 

Liliene Dante

 

Padre José Geraldo
Padre Francisco Neto
Padre Flávio Assis
Padre Eugênio Ferreira
Padre Marcelo Moreira
Bispo Dom Marco Aurélio Gubiotti

 

 

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