Por Frei Gustavo Medella
Água, jarra, bacia, toalha e mãos, todos unidos em função do cuidado dos pés. Estes, por sua vez, se deixam lavar e cuidar. O gesto de Jesus aponta para uma eclesiologia que coloca no centro aqueles que estão abaixo, os humildes, desprezados, explorados e invisíveis. Os que silenciosamente e à custa de grande esforço, carregam sobre sim o peso das contradições que ainda não conseguimos superar enquanto Igreja, enquanto humanidade. Uma Igreja que se abaixa para acudir aqueles que mais sofrem. Se os pés representam os últimos, cada um dos elementos envolvidos na cena do Lava-pés pode também ser associado a diferentes dimensões do ministério da Igreja.
Água – esta, por si só é sacramento eloquente da graça de Deus na qual cada batizado e batizada foi mergulhado (a) no Batismo. É sinal da vitalidade que vem do alto e que é capaz de lavar, purificar, renovar, reabilitar e restaurar as forças. É o ministério do culto, da liturgia, a vida de oração e contemplação, a capacidade de transcendência. Dada sua liquidez e dinamismo, a água, no Batismo ou no Lava-Pés, não se estaciona em uma cômoda posição, mas se derrama, sai do alto e penetra o humilde chão da realidade, levando vida e renovação por onde passa e onde penetra.
Jarra – É o reservatório, são as estruturas e organizações que possibilitam a lida humana com o dom da Graça. Existe para conter a água, mas não é sua proprietária exclusiva e nem se esgota em abrigá-la. Não existe jarra, por imensa que seja, capaz de conter toda água do mundo. A jarra é funcional e, se não se presta a distribuir a água que contém, perde seu sentido e sua razão de ser. É quando a instituição se torna autorreferencial, se fecha em si mesma. É a Igreja adoentada porque reclusa nos próprios e pequenos interesses, conforme descreve o Papa Francisco.
Bacia – A bacia é o recipiente que possibilita a realização do Lava-Pés. É o vínculo com os apelos da realidade sedenta da água viva do amor e da solidariedade. É a ação pastoral que se compromete atentamente em marcar presença nas periferias sociais e existenciais. Se a jarra não direciona a água para os pés e para a bacia, o serviço não acontece e a graça é desperdiçada. Uma Igreja desconectada com os clamores da realidade desperdiça o dom da Graça que não lhe pertence.
Toalha – É a dimensão do alento, da acolhida e do abraço. É a disposição de ir ao encontro de maneira desarmada e terna para enxugar o suor e as lágrimas daqueles que passam por toda sorte de dificuldade. É a Igreja Samaritana capaz de improvisar, de mudar os próprios rumos para ir ao encontro dos apelos inesperados de Deus no voz dos sofredores.
Mãos – Representam a operosidade e a disposição de cada cristão. É o compromisso individual que cada um assume diante do convite que o Senhor insistentemente realiza. Devem sempre estar livres e abertas para auxiliar o reerguimento de quem caiu, romper as correntes de quem está aprisionado, levar água e comida à boca do sedento e do faminto. A lição do Lava-pés, com seus símbolos e elementos, sejam sempre inspiração para buscarmos, juntos, o modo mais efetivo e eficaz de sermos Igreja.
Fonte: Franciscanos
FREI GUSTAVO MEDELLA, OFM, é o atual Vigário Provincial e Secretário para a Evangelização da Província Franciscana da Imaculada Conceição. Fez a profissão solene na Ordem dos Frades Menores em 2010 e foi ordenado presbítero em 2 de julho de 2011.