Não é uma questão de ícones e cheiro de incenso com rituais de cadências antigas. Há a carne de Cristo, muitas vezes mais ferida, como diz o Papa Francisco, por trás do trabalho da Congregação para as Igrejas Orientais. O horizonte dentro do qual cabem as responsabilidades do dicastério incluem o mundo da Terra Santa, que entrelaça a sacralidade mais intensa com os dramas humanos de longa data, o universo das Igrejas na diáspora, a coexistência natural no âmbito eclesial dos padres celibatários e casados – “polos” no centro de numerosos debates no Ocidente – e muitas outras peculiaridades de um mosaico hoje ligado ao destino global de uma pandemia que não mostra sinais de resolução. Um mundo, explica o Cardeal Leonardo Sandri que dirige a Congregação, no qual a unidade com o Vigário de Cristo “se manifesta em sua variedade”.
Até a reforma da Cúria Romana em 1967, o cargo de Prefeito da Congregação era reservado ao Pontífice, uma demonstração da importância dada aos cuidados das Igrejas Orientais. De que forma esta preocupação com as comunidades do Oriente Cristão é expressa hoje?
Podemos nos recordar da imagem de momentos antes da Missa de início do Pontificado do Papa Francisco, quando ele foi rezar no altar da confissão da Basílica de São Pedro junto às relíquias do Apóstolo e quis ser ladeado por todos os Patriarcas e Arcebispos Maiores das Igrejas Católicas Orientais, para manifestar visivelmente a profunda unidade dentro da Igreja Católica. A Igreja Latina é uma das Igrejas sui iuris e o Papa como bispo de Roma, embora bispo latino, exerce sua solicitude respeitando e cuidando de todas as Igrejas Católicas Orientais, do Oriente Médio à Europa do Leste, à Índia, e de todas as comunidades filhas dessas Igrejas espalhadas em tantos territórios da diáspora no continente americano, bem como na Europa, na Austrália e na Oceania.
Qual é a importância de cuidar da realidade da diáspora?
É uma característica da solicitude dos Pontífices pelas Igrejas Orientais que, embora não sejam mais prefeitos da Congregação, continuam a exercer através dela sua especial preocupação pelos fiéis orientais. O próprio fato de que em territórios predominantemente latinos – como por exemplo na Europa e nos Estados Unidos – os Papas tenham optado por erigir eparquias ou exarcados para o cuidado dos fiéis católicos orientais, demonstra a importância e o profundo respeito por sua identidade e tradição. Onde quer que se instalem no mundo formando comunidades estruturadas de uma certa consistência, a Sé Apostólica reconhece a possibilidade de continuar a governar a si mesmos de acordo com sua própria tradição, suas próprias particularidades litúrgicas, disciplinares e espirituais, prevendo a nomeação de Bispos e a ereção de eparquias e circunscrições para que possam continuar a viver sua pertença ao Senhor na Igreja Católica através do rosto singular de sua própria Igreja de origem.
São fiéis que muitas vezes fogem de guerras, de violências, da pobreza…
Sim, o cuidado com os fiéis orientais na chamada diáspora é também uma forma particular de aplicar o cuidado da realidade dos migrantes e refugiados que é tão cara ao coração do Papa Francisco. Os Orientais da diáspora são os filhos dessas populações que, para escapar à guerra e à violência ou por razões econômicas, emigraram de suas terras de origem e formaram comunidades para continuar a viver sua fé no vínculo com sua própria pátria e com sua própria Igreja de pertença. A atenção do Papa Francisco para a realidade da migração também se realiza através de nosso dicastério, no cuidado pastoral desses fiéis migrantes de onde quer que tenham vindo e de onde quer que venham no futuro. Isto naturalmente não significa favorecer um processo de esvaziamento dos cristãos, por exemplo no Oriente Médio, que talvez sirva aos interesses de algumas potências fortes internacionais, mas ao contrário disso, o Papa deve ser visto na vanguarda ao reivindicar o direito dos cristãos de permanecer, de viver e professar sua própria fé. A presença de cristãos em um Oriente Médio que gostaríamos de ver finalmente reconciliado, sem guerras, é uma contribuição fundamental para a convivência pacífica segundo um modelo de fraternidade humana, superando padrões históricos de oposição ou sujeição mútua que caracterizaram as décadas e os séculos passados naqueles territórios.
Quando se fala de Igrejas Orientais, as primeiras imagens que vêm à mente são as de lugares antigos que guardam tesouros de arte e rituais cheios de sugestões. Que outros elementos caracterizam a identidade específica das comunidades eclesiais do Oriente?
É verdade, não devemos perder a peculiaridade de algo antigo, de precioso, de um tesouro de sabedoria, de beleza, de arte, de cores, porque esta é a experiência que se tem quando se entra numa igreja oriental em qualquer parte do mundo: fica-se fascinado com as orações, os cantos, os hinos, o cheiro do incenso, a luz das velas, as vestes… mas tudo isso não é algo que pertença a um museu! São comunidades vivas que, com parâmetros diferentes dos nossos – pensemos também em todo o debate dentro da Igreja Latina sobre a orientação da oração litúrgica – continuam a viver sua fé de uma forma profundamente católica, mesmo que diferente daquilo a que estamos acostumados.
Uma das peculiaridades é a da sinodalidade, um tema muito próximo ao coração do Papa.
O Santo Padre pediu, e continua a pedir a toda a Igreja, uma reflexão sobre o que significa o exercício da colegialidade e da “sinodalidade”. Esta perspectiva sinodal caracteriza imediatamente a vida das Igrejas Católicas Orientais porque, de forma particular as patriarcais e as arcebispais maiores, se estruturam em torno de um Patriarca ou de um Arcebispo Maior, que exerce a liderança da Igreja junto com o Sínodo dos Bispos, em um caminho de comunhão e colegialidade. A sinodalidade também é evidente na praxe relacionada às eleições episcopais para a sede dos territórios próprios das Igrejas Católicas Orientais. O Santo Padre é chamado, de fato, a expressar o consentimento sobre a dignidade para o episcopado de um candidato, mas a designação para uma Sé ou para outra no próprio território é de competência do Sínodo dos Bispos. Ou pensemos novamente na questão muito debatida dos padres casados. Algumas das Igrejas Católicas Orientais preservaram esta prática (que também está presente no mundo ortodoxo), onde existem padres celibatários e padres casados. Após a Plenária desta Congregação em 2013, o Papa Francisco permitiu-lhes a possibilidade de exercer o ministério para seus fiéis também fora de seus territórios tradicionais, algo que antes não era permitido, às vezes até mesmo proibido, como por exemplo nos Estados Unidos para a Igreja Rutena a partir do final do século XIX. Estes temas, o da sinodalidade e o do exercício do sacerdócio tanto celibatário quanto casado, muitas vezes objeto de reflexão e debate em nossos dias, já são, de fato, experiências concretas nas Igrejas Católicas Orientais. Pensemos também em como os Pontífices quiseram, ao longo das décadas, apresentar a tradição oriental como uma forma particular para a percepção autenticamente católica de ser Igreja. Por um lado, com atenção a realidades concretas, como a do Líbano (o Sínodo Especial de 96) ou a de todo o Oriente Médio (o Sínodo Especial dos Bispos de 2010), mas estou me referindo também a intervenções legislativas, como a promulgação do Código dos Cânones das Igrejas Orientais em 1990 por São João Paulo II, à sua atenção ao mundo da Europa Oriental, com a indicação de Santos Cirilo e Metódio.
A história das Igrejas Orientais tem sido e é marcada por conflitos e violência que ao longo dos anos dizimaram a presença de minorias cristãs e forçaram populações inteiras a um êxodo que parece não ter fim. Quais são atualmente as situações de emergência mais explosivas nas áreas de competência da Congregação?
Por ocasião do Sínodo para o Oriente Médio em 2010 muitos prelados dessas terras pediram que não fosse usado o conceito de minoria, mas de presença, para dizer que o conceito de minoria e de maioria – por mais compreensível que seja a nível estatístico – não é a chave para ler a sua existência no Oriente Médio. Porque de fato se fala de uma presença cristã ininterrupta naquelas terras, mas que numericamente sempre foi simbólica em comparação com a esmagadora maioria da população, com exceção dos primeiros séculos… uma presença que é, no entanto, e quer continuar a ser, um testemunho. Certamente as frentes em que nossos fiéis orientais vivem são particularmente dramáticas, chegamos agora ao décimo ano do conflito sírio e não há nenhuma solução no horizonte. Aqui existem diferentes posições e sensibilidades, mas apenas uma certeza: milhões de pessoas (incluindo aquelas que pertencem aos setores mais fracos da população, como jovens, crianças, mulheres e idosos) são privados de um lar, uma escola, às vezes um lugar para se tratar, um lugar para crescer, onde possam brincar, onde possam ter esperança, um lugar onde possam viver e amar.
O senhor pode citar as situações atualmente mais dramáticas?
Pensemos nos milhões de deslocados internos na Síria e nos milhões de deslocados fora da Síria, no vizinho Líbano, na Jordânia, mas também na Europa ou nos Estados Unidos… A frente síria é uma ferida que continua a sangrar e parece incapaz de curar, com a culpa de todos aqueles que, embora possam, permanecem inertes diante do grito de dor, como o Papa Francisco, de maneira muito clara, tem indicado repetidamente. Gosto de recordar particularmente da imagem de Bari, em 7 de julho de 2018 e das suas palavras, aquele grito de dor que brota das terras do Oriente Médio e particularmente da Síria. O Iraque permanece um lugar de grande instabilidade, uma terra não pacificada também por causa das pesadas consequências da invasão do chamado Estado islâmico, e é difícil pensar que os que foram para o exterior possam retornar. Mas também estamos pensando no grande problema da vida do Líbano, devastado nas últimas semanas pelas consequências da gravíssima explosão no porto de Beirute, mas que durante meses já vinha passando por uma forte instabilidade, uma profunda crise econômica com milhares de pessoas abaixo da linha de pobreza. A situação, também política, deste país parece prejudicar a própria existência de um “país de mensagem” no qual a convivência entre cristãos e os fiéis das diferentes confissões muçulmanas parecia ser um fato que o tornava um lugar privilegiado em todo o Oriente Médio. Antes da guerra das últimas décadas, o Líbano era considerado a Suíça do Oriente Médio por sua beleza e riqueza, mas podemos acrescentar, também como um lugar singular de coexistência pacífica entre os diferentes componentes da população. Mas não podemos esquecer também outras realidades, os desafios de ser cristão na Índia de hoje, bem como as contínuas tensões e o consequente sofrimento do povo no leste da Ucrânia.
De que forma o dicastério oferece uma contribuição de ação concreta para enfrentar o drama dos deslocados, especialmente em um momento em que às dificuldades endêmicas somam-se as agravadas pela Covid-19?
De modo particular o drama da Covid que atingiu o mundo inteiro e nos pede um suplemento de atenção e cuidado adicionais para com aquelas populações. Salvaguardando as competências da cooperação internacional dos governos e as da própria Cúria Romana (de organismos como a Caritas Internationalis, ou o Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral), a Congregação, após ter informado o Santo Padre e ter recebido sua aprovação, criou um fundo de emergência para as Igrejas Católicas Orientais, explicitamente destinado neste momento a gerenciar emergências relacionadas com a pandemia. Os fundos utilizados provêm da Coleta da Terra Santa e de outros pequenos benfeitores que se colocaram à disposição para ajudar. O Dicastério forneceu mais de 700 mil dólares para a compra de materiais de higiene preventiva e de saúde (tais como respiradores) para Jerusalém, Gaza, Síria, Líbano, Etiópia, Eritréia, Iraque… Sobretudo, criou um mecanismo “sinodal” virtuoso através de várias agências do R.O.A.C.O. (Reunião de Obras de Ajuda às Igrejas Orientais) para as quais foram encaminhados pedidos de ajuda para a emergência Covid de várias circunscrições eclesiásticas dentro da competência do Dicastério e que receberam uma resposta rápida. Intervenções de emergência relacionadas com a COVID-19 que foram postas em prática para ajudar as populações orientais neste difícil momento.
A presença de cristãos orientais em países com maioria muçulmana levanta a questão de um compromisso comum contra o fundamentalismo, como reiterado pela “Declaração de Abu Dhabi”. Que papel a Congregação desempenha na promoção da “fraternidade humana” solicitada por Francisco e pelo Grão Imame al-Azhar?
A Congregação acolheu com alegria o gesto do Papa Francisco na sua viagem apostólica a Abu Dhabi. Como Prefeito tive a alegria de poder acompanhá-lo e ser testemunha desse evento histórico. Os cristãos no Oriente Médio em particular (mas também na Índia, com uma presença significativa de fiéis siro-malabares e sírio-malancares em um território com uma esmagadora maioria hindu), representam em si mesmos uma vocação para a convivência e o diálogo, no esperado respeito mútuo dos direitos e no desejo de construir o bem comum como cidadãos de um povo, de um país cujo bem é desejado. As Igrejas Católicas Orientais viram, portanto, nesta passagem, quase um reconhecimento de um desejo e também de uma prática de vida que tentaram – apesar de mil dificuldades e sofrimentos – propor e viver em sua experiência milenar em tantos lugares do Oriente Médio.
O senhor pode dar um exemplo concreto dessa vocação para a coexistência?
O que mencionei anteriormente sobre o Líbano é o exemplo mais concreto disso: estamos em 2020, a 100 anos do chamado “grande Líbano” e da perspectiva de uma nação se constituir e quase reconhecer como carta fundamental de sua identidade, a do reconhecimento mútuo e da coexistência pacífica entre diferentes confissões e credos, aprendendo a alegrar-nos mutuamente com as celebrações e testemunhos de comunhão. Pensemos, por exemplo, no que a celebração da solenidade da Anunciação de 25 de março se tornou ao longo dos anos, uma festa que – mesmo antes da mensagem de Abu Dhabi – é realmente uma festa compartilhada: ao centro, a figura de Maria como anúncio de salvação para o gênero humano, nós cristãos, mas também como anúncio do nascimento de um dos Profetas, de acordo com a tradição islâmica.
Como a Congregação agiu para garantir que a Declaração desse frutos?
Respondendo ao pedido do Santo Padre, imediatamente após retornar de Abu Dhabi, a Congregação escreveu imediatamente em seu nome a todos os chefes das Igrejas Católicas Orientais, enviando uma cópia da mensagem e pedindo que esta mensagem fosse objeto de leitura, estudo, aprofundamento e debate dentro dos programas de formação (por exemplo, entre os candidatos ao sacerdócio e à vida religiosa), mas também em paróquias, universidades e institutos de cultura. Neste sentido, as Igrejas Orientais e o Dicastério se sentiram os destinatários de uma forma particular do desejo do Santo Padre para que a mensagem fosse conhecida e difundida. Certamente, algumas experiências de vida nos dizem que essa mensagem indica um horizonte amplo, belo e compartilhável, mas que nem sempre encontra uma correspondência na realidade, mas isso não deve desencorajar ou diminuir o valor do documento se em alguns momentos da história ou do presente ele parecer desconsiderado. A esperança é que o desejo e o compromisso pessoal de cada um para a promoção da “fraternidade humana” possa apressar o tempo de sua realização…
A contribuição da Roaco (Reunião das Obras para a Ajuda às Igrejas Orientais) às atividades da Congregação constitui uma forma original de colaboração “sinodal” entre um dicastério da Cúria Romana e as agências caritativas de vários países do mundo. Por que isso é importante?
Fico satisfeito em responder à sua pergunta ao destacar esta dimensão acenada anteriormente, a da dimensão “sinodal”, ou seja, o Prefeito da Congregação é o Presidente da Roaco, mas a Roaco desde sua criação – há mais de 50 anos – de fato, é uma realidade para a qual o dicastério se oferece como mesa de coordenação, conexão e compartilhamento de informações, de recursos e de projetos entre um organismo da Cúria Romana que supervisiona a vida das Igrejas Católicas Orientais no mundo e todas as realidades de atenção específica, em particular a vida das Igrejas Católicas Orientais que surgiram ao longo dos anos nas diferentes nações e para expressar uma solidariedade, uma proximidade concreta com a vida destes nossos irmãos e irmãs. Refiro-me a realidades como a Cnewa-Pontifical Mission nos Estados Unidos e Canadá, também Ouvre d’Orient na França, as realidades Missio, de Misereor na Alemanha ou entidades como as ligadas às grandes dioceses da Alemanha, de forma particular à Arquidiocese de Colônia, refiro-me à Conferência Episcopal Italiana e ao Ofício de Cooperação Missionária. Portanto, o primeiro nível é esta “sinodalidade”.
Como esta colaboração é implementada?
A modalidade é uma mesa redonda que, especialmente nos últimos meses através de novas tecnologias e um pouco “forçada pela emergência Covid tornou-se uma mesa redonda cada vez mais permanente com as reuniões em vídeo streaming (durante o verão já fizemos duas), para assim circular as informações, circular os pedidos de ajuda, também circular os pedidos de esclarecimento. A estrutura “sinodal” se expressa desta maneira: uma realidade que pode ser uma diocese, uma eparquia, uma ordem religiosa, uma paróquia ou uma entidade apresenta um projeto tentando estruturá-lo de forma clara, compreensível, bem planejada, que prevê uma parte da contribuição local que também prevê uma apresentação do projeto de acordo com os critérios de transparência e apresentação de contas, isto é apresentado e aprovado pelo bispo e, portanto, pela autoridade eclesial in loco. Em seguida nos é transmitido com a aprovação da nunciatura apostólica, de modo que já existe uma cadeia de ligação e não de supervisão, mas desta forma o acompanhamento na comunhão destas realidades, chega à ROACO, à nossa mesa de coordenação, a mesa de coordenação o distribui entre as diversas agências expressando também sua própria opinião e faz com que seja tema de discussão em dois momentos de forma particular. Um é na Plenária (que geralmente é programada para junho, com alguns dias em Roma, com os representantes de todas as agências e normalmente há uma audiência com o Santo Padre) e depois em janeiro, pela segunda vez, dentro do Steering Committee da Roaco, que é uma realidade mais agilizada, com apenas algumas poucas agências presentes e que ajuda a estudar alguns dossiês, bem como a planejar os trabalhos da Plenário de junho.
O senhor pode nos dar alguns números?
Somente de 2015 a 2020, o financiamento total recebido foi de 15 milhões de euros para cerca de 290 projetos. Cito apenas alguns números: Israel recebeu fundos para 37 projetos por quase 2 milhões de euros; Chipre 2 projetos por 250.000 euros; Palestina 31 projetos por quase 1.700.000 euros; Jordânia 12 projetos, por quase 700.000 euros; Egito 6 projetos por quase meio milhão de euros; Líbano 33 projetos por 1.800.000 euros; a Síria 18 projetos por 1,5 milhões de euros; Ucrânia 23 projetos por 1,2 milhões de euros. A Índia 78 projetos por 2.000.000 euros, Etiópia 11 projetos por mais de um milhão de euros; Turquia três projetos por quase meio milhão de euros e assim por diante. O Iraque recebeu por apenas três projetos cerca de 400.000 euros, mas entendemos que foi naqueles anos, os anos em que tivemos que enfrentar a realidade de Daesh, do Isis, então tivemos que administrar uma situação de destruição e fuga, em vez de uma verdadeira reconstrução. Estes são financiamentos transferidos única e exclusivamente para projetos explicitamente apresentados à Roaco. Isto não implica que organizações como a “Ajuda à Igreja que Sofre”, a Ordem do Santo Sepulcro e aquelas já mencionadas acima, mesmo sem passar por Roaco, tenham feito outras intervenções significativas em apoio a todas as situações que mencionamos.
Também na sua Congregação, pode-se falar de um “balanço de missão” que enquadra os itens de despesas e custos na perspectiva da missão do Papa? O senhor pode nos dar alguns exemplos concretos?
O Dicastério apreciou muito a introdução desta categoria de “balanço de missão”, no sentido de que, por um lado, foi correto intervir nos últimos anos com medidas corretivas para de alguma forma padronizar, por exemplo, a prática de apresentar os gastos financeiras ou os critérios de auditoria pelas entidades da Santa Sé, como nosso Dicastério, mas, por outro lado, entender este trabalho com maior clareza, transparência, como um lugar para trazer à tona os recursos que são recebidos, fruto da caridade de muitos. Lugar para expressar o reconhecimento de forma especial do nosso dicastério a muitos, muitos benfeitores que através, por exemplo, da Coleta para a Terra Santa da qual o Dicastério recebe 35% anualmente (o restante vai para os Frades da Custódia da Terra Santa), uma pequena porcentagem da Coleta Missionária Mundial. São muitas contribuições individuais, e não benfeitores institucionais, que podem dar pouco, mas constantemente, que permitem trabalhar da melhor forma para nossos irmãos e irmãs das Igrejas Católicas Orientais.
Qual é a importância destes pequenos benfeitores?
Em uma das audiências, o Papa definiu e apreciou a ajuda de tantos pequenos benfeitores como a oferta da viúva que dá tudo o que tem para viver e é elogiada por Jesus precisamente porque não deu o supérfluo, mas o essencial para sua própria vida. Por isso esta operação de transparência e apresentação de contas tornou possível trazer à tona, de forma mais consciente, o potencial de bem que a Congregação recebe de muitos para poder ajudar e, por outro lado, destacar todo o bem que o Dicastério, em deferência ao que recebe, segundo a mente dos benfeitores, é capaz de dar para a vida concreta e diárias das Igrejas Católicas Orientais.
De que modo seu dicastério investe na formação?
A Congregação administra oito Colégios em Roma onde a cada ano são hospedados entre 200 e 300 estudantes, dependendo do ano (este ano houve uma diminuição por causa da situação pandêmica). Eles recebem bolsas de estudo que servem para a manutenção da vida do colégio, as taxas acadêmicas, a vida concreta. Este investimento na formação é um investimento no futuro, bem como no presente das Igrejas Orientais, pois ao formar sacerdotes, seminaristas e religiosos e alguns fiéis leigos qualificados nas Universidades de Roma, não só é garantida a mais excelente formação acadêmica possível, mas também é feita sub umbra Petri, perto do Papa, também para formar estas pessoas com um sopro católico. Entre as taxas, alimentação, hospedagem, taxas acadêmicas, mesada, bem como manutenção ordinária e extraordinária das estruturas, as despesas anuais são de cerca de 3 milhões de euros. Outra realidade é o Pontifício Instituto Oriental que forma através da Faculdade de Direito Canônico e da Faculdade de Ciências Eclesiásticas Orientais muitos futuros pastores das Igrejas Católicas Orientais no mundo: ao Instituto é destinado do balanço 1 milhão de euros por ano.
Como a Congregação sustenta diretamente as igrejas locais?
Outro item é o dos subsídios ordinários que a Congregação garante anualmente às dioceses presentes no território de tal forma que possam garantir um mínimo das atividades da vida eclesial do anúncio do Evangelho da Caridade. O total anual é de cerca de 4 milhões de euros. Houve algumas intervenções de natureza mais extraordinária relacionadas ao sustento de sacerdotes em territórios onde não é possível fornecer qualquer outra forma de sustento, como acontece, por exemplo, na Itália com o mecanismo de contribuição na declaração de renda. Para estes sacerdotes foram concedidos subsídios extraordinários, principalmente os que estão na Síria, para que pudessem continuar a garantir seu testemunho ao lado da população que sofre. Posso citar a intervenção na Universidade de Belém, uma realidade que nasceu da visita de São Paulo VI à Terra Santa e que se constitui como um polo de formação em Belém que acolhe populações cristãs e muçulmanas e as forma através do trabalho dos Irmãos das Escolas Cristãs (os “Lassalistas”). É uma realidade preciosa na qual o Dicastério investe mais de 1 milhão de dólares por ano. Mas ajudamos também com subsídios para as escolas, as que são administradas pelo Secretariado de Solidariedade em Jerusalém e as administradas pelo Patriarcado Latino. Muitas vezes estas escolas são verdadeiros lugares de crescimento de formação para uma coexistência pacífica, mas às vezes também para serem preservadas de algumas formas de discriminação que infelizmente em alguns contextos nas escolas públicas têm visto nossos cristãos como protagonistas negativos. Para essas escolas enviamos quase 2 milhões de dólares por ano.
Outro item são as intervenções extraordinárias. O que o senhor pode nos dizer sobre isso?
Recordo as intervenções do Santo Padre, como a recente contribuição dada para bolsas de estudo nas escolas católicas do Líbano para as quais a Congregação contribuiu com 100 mil dólares em nome do Santo Padre, ou mesmo intervenções extraordinárias para preservar alguns lugares particulares da vida da Igreja e além de ser patrimônio da humanidade, e pensemos na contribuição dada para a restauração da Basílica da Natividade em Belém, recentemente concluída, ao Santuário do Santo Sepulcro, para o qual o montante disponibilizado ao longo dos anos ultrapassou meio milhão de dólares. Como se pode ver, muitas despesas, às vezes no limite do que as entradas permitem, mas sempre atentos à expressão de São Paulo “há mais alegria em dar do que em receber” – mesmo sob o olhar atento da Secretaria de Economia: cada gesto de generosidade se baseia na certeza de que o Senhor não deixará faltar o necessário para ajudar e mostrar o rosto da caridade de sua Igreja.
Fonte: Vatican News – Alessandro De Carolis