“Aqui se adora em silêncio”

Foto de Andrés José Barbera em Cathopic

Por Dom Jorge Alves Bezerra, SSS
Bispo Diocesano de Paracatu – MG

 

Encontrei esse comunicado na capela São Pedro Julião Eymard, contígua ao altar mor da Catedral Santo Antônio – Diocese de Paracatu. Lembrei-me do silêncio orante de Maria e pus-me a refletir sobre a vida adoradora da Mãe de Deus. Tema rico e fecundo para uma adoração tão breve.

Enquanto possível, tento manter-me recolhido, absorto em Deus, até que seja saudado ou cumprimentado por alguns fiéis. Adorar em silêncio é condição ideal para procurar o amor da vida (Cf. Ct. 3,1-4). Essa procura é uma viagem interior, caracterizada pelo progresso humano e espiritual.

Lembrei-me de Santa Teresa d’Ávila, adoradora, e resolvi segui-la nesta meditação eucarístico-mariana. Não foge a verdade dizer que Teresa aprendeu a adorar com Maria, a primeira adoradora do Verbo Encarnado. Maria não precisou procurar Deus fora de si porque ela teve a graça de gerá-lo em si. Mas Teresa, o procurou de morada em morada, percorrendo um laborioso caminho espiritual, cujo fruto maduro foi a santidade. Optei por um aspecto determinante do seu itinerário de perfeição: a busca de Deus em si mesma. Pensei: se ela o buscasse fora de si teria perdido o seu tempo, mas como silenciou e o buscou em si, contemplou a beleza luminosa de Deus na sua interioridade. O encontro com Deus deixou-a admirada, sem palavras, pasma, praticamente imóvel, em silêncio contemplativo e adorador.

Disciplinada em seus exercícios espirituais, Teresa fez uma grande descoberta: encontrei o amor de minha vida! Deus mora em mim! Identifiquei-o em minhas profundezas, a felicidade sorriu-me, realizei o meu sonho. Sou uma pessoa habitada por Deus.

Contudo, o percurso para o cenáculo interior foi uma via crucis norteada não pela via intelectual, racional, mas pela obediência submissa à sabedoria do Espírito Santo. Cada passo, desse caminho novo é autoconhecimento, superação de limites humanos e encantamento com a descoberta da beleza de Deus em si.

O silêncio adorador de Maria diz a Teresa e a nós: não procurem Deus fora de si, mas em si. Conhecendo Deus em mim aprendo a conhecer a mim mesmo. A experiência adoradora de Teresa é edificante, sobretudo porque ela é uma discípula atenta e obediente à voz do Mestre: conhece-te em Mim! Em sua busca espiritual, “Teresa de Maria” descobriu a presença de Deus em seu coração e tratou de conhecê-lo cada vez melhor.

Destaco quatro verbos relacionados à experiência adoradora de Teresa diante de Cristo na Eucaristia: conhecer, amar, permanecer e testemunhar. O privilégio de Maria foi partilhado com Teresa, que deixou Deus ser Deus em si e o deu aos outros. Ela fez o dom de si mesma: disponibilizou sua humanidade para amar a Deus e servi-lo nas suas irmãs e irmãos. Unida a Cristo no mistério celebrado, comungado e adorado, foi uma religiosa laboriosa, só de Deus, toda de Deus, para sempre de Deus. Da sua entrega pessoal nasceram as diaconias da sua paixão por Cristo e pela humanidade. Na adoração, como experiência da união de amor com Cristo, escutou a voz do Amado nas entranhas do coração: enquanto silencias, o meu amor trabalha em ti.

O conhecimento experiencial de Deus em nós aperfeiçoa virtudes, sustenta a missão, guia-nos à santidade. A porta de entrada na vida espiritual é Cristo, adorado e glorificado com o testemunho das boas obras. O cenáculo é o ponto de partida para o agir cristão. O amor é o fundamento desse agir, cultivado na adoração silenciosa, aquecido na fraternidade e dinamizado no serviço. Sem oração e ação não se edifica o reino eucarístico. O silêncio adorador de Maria é escola para Teresa, e para nós é luz e guia. Que os adoradores do Deus vivo no Santíssimo Sacramento tenham firmeza, perseverança e segurança para testemunhar a fé eucarística da Igreja nesta fonte perene de amor. Vinde, silenciemos e adoremos.

Fonte: CNBB Leste2

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