Aqueles pedidos “em nome de Deus” por um mundo mais humano

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Os apelos de Francisco para encorajar uma mudança nas “estruturas de pecado” que caracterizam o atual sistema.

 

Nove precisos “Quero pedir, em nome de Deus” aos quais se somam outros dois pedidos igualmente precisos aos governos e líderes religiosos. A mensagem em vídeo que o Papa Francisco dirigiu aos Movimentos Populares marca mais uma etapa no esforço da Igreja para favorecer uma mudança no paradigma econômico-financeiro a partir de baixo, por meio da valorização das instâncias populares, dos organismos intermediários, dos “descartados” pelo sistema. E desta vez o apelo é ainda mais radical, como se se tratasse de uma corrida contra o tempo para evitar o abismo: novas e ainda mais trágicas crises e uma terceira guerra mundial.

O encontro com aqueles que define como “poetas sociais”, que o Papa incluiu e escutou desde o início de seu Pontificado, é a ocasião para um forte pronunciamento aos poderosos do mundo e para um chamado ao compromisso de todos.

Baseando-se na Doutrina Social da Igreja, referindo-se constantemente a ela e em particular a esse precioso Compêndio desejado por João Paulo II, Francisco deixa claro mais uma vez e inequivocamente a necessidade imprescindível de uma mudança nos modelos socioeconômicos.

O Papa está bem ciente das críticas que também estão presentes na esfera católica em face destas afirmações. Há quem diga que são necessárias somente mudanças pessoais, e há quem considera certos objetivos completamente inatingíveis, porque o sistema atual não pode ser questionado.

Mas precisamente a partir da consciência da existência daquelas que o Papa Wojtyla definiu na Encíclica Sollicitudo rei socialis como “estruturas de pecado”, que Francisco volta a colocar de forma urgente e oportuna o problema do recolocar o homem no centro e não o deus do dinheiro, afastando-se daquela aceitação passiva que faz as pessoas dizerem: “não há alternativa” e “este é o único sistema possível”. Existem estruturas de pecado, portanto, como demonstram mais vinte milhões de seres humanos atingidos pela fome e um número de mortes pela fome que excederá os mortos pela Covid.

Desta consciência nascem os inquietantes “Quero pedir, em nome de Deus”. O Papa chega ao ponto de pedir não só aos traficantes, mas também aos fabricantes de armas que cessem totalmente suas atividades que fomentam a violência e a guerra, custando milhões de vidas.

Portanto, devem ser relidos e meditados todos aqueles “Quero pedir” do Sucessor de Pedro: desde a liberalização das patentes das vacinas até o fim da depredação das florestas e dos povos; do fim da imposição de monopólios sobre os alimentos à limpeza da internet das fake news e o aliciamento de menores, até o apelo para cessar as agressões, bloqueios e sanções unilaterais “contra qualquer país em qualquer parte do mundo”, dizendo não ao neocolonialismo e sim à resolução de conflitos em instâncias multilaterais como as Nações Unidas.

Francisco está ciente da objeção daqueles que irão criticar estes objetivos, entre os quais incluiu também um salário universal e uma redução da jornada de trabalho para permitir que mais pessoas tenham acesso ao mercado de trabalho, como objetivos “inalcançáveis”. Mas, rebate, “têm a capacidade de nos colocar em movimento”.

Quanto mais pessoas sonharem juntas esta mudança, esforçando-se para realizá-la, tanto mais o sonho poderá se tornar uma realidade. A tarefa do Bispo de Roma é uma tarefa que interpela a todos, ninguém excluído. Para evitar o abismo.

Fonte: Vatican News – ANDREA TORNIELLI

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