UMA RESPOSTA DE AMOR
Por Frei Almir Guimarães
Amo-te, Senhor, com uma consciência não vacilante, mas firme. Feriste o meu coração com tua palavra e eu amei-te. (Santo Agostinho)
O Senhor quer estabelecer pacto, aliança, núpcias com o Povo de Israel. Através dos profetas do Antigo Testamento e de Jesus, no alvorecer dos novos tempos, o tema sempre retorna. As imagens da vinha e da esposa parecem se entrelaçar nos escritos bíblicos. Há uma calorosa atmosfera de intimidade, tanto no relato de Isaías quanto na parábola dos vinhateiros. Vinha e núpcias falam, pois, de uma certa qualidade do amor do Senhor e, naturalmente, num amor tão denso que atinge até o último dos irmãos. Contudo, nem sempre as pessoas responderam ao apelo do amor. Estamos diante de textos com luzes e sombras. Há um quê de irritação.
Estamos diante do tema do amor. Todos já vivemos experiências de dom de nós mesmos. Aqui e ali damo-nos conta de que somos seres feitos para sair do cercado de nós mesmos e buscar espaço para querer bem, soerguer, incentivar, acolher, promover, desculpar. Na medida da intensidade de nosso querer bem somos seres livres, alegres, sem azedume. A prova de que amamos a Deus é que nos acercamos daqueles que ele ama. Os dois amores se confundem.
Dois amores num só. Concomitantemente há esse enamoramento do Senhor e pelo Senhor que nos envolve. Ouvimos sua voz. Ele quer nos levar para o deserto, para nosso interior, para uma terra árida, seca, sem brilho para nos sussurrar palavras de amor e para que aceitemos o seu convite para deixar a porta de nossa vida apenas entreaberta para que o sopro de nosso peito se misture ao Hálito do Espirito. O belo, o Altíssimo, o Todo Outro se torna um esposo desejoso de ser nosso amável companheiro na tarefa de amar até o fim.
Não estaríamos necessitando, sem pieguices e melosidade, ouvir os passos e a voz do amado, quer dizer, parar um pouco e contemplar. “Se tiramos da vida todo elemento contemplativo ela acaba por sofrer de uma hiperatividade mortal. No seu próprio fazer o homem se sufoca. A revitalização da vida contemplativa (vita contemplativa) é necessário para abrir espaços de respiração” (Byung-Chul Han).
Deus, o mais belo, o mais luminoso, o mais impenetrável quer que joguemos nossa aventura de viver nele e que em nome dele nos abeiremos de nossos companheiros de viagem: um pedaço de pão, alívio de suas dores, luta em prol da justiça, oferta de tempo para ouvi-los, parar para que eles tenham a certeza de que existem com a ternura e atenção de nosso coração.
Pequenas regras para que o Senhor seja ouvido e sua vontade observada:
♦ demorar-se diante do Mistério: uma oração simples, desinteressada, gratuita, um abrir-se diante daquele que nos inventou e pede a melhor atenção de nossa parte;
♦ rever seriamente nosso jeito de nos colocar diante do Senhor na oração e no dia a dia: respeito carinhoso, postura de pessoas cobertas de dons do Senhor; dimensão contemplativa da vida;
♦ dar uma resposta pessoal às visitas do Senhor;
♦ colocar-se diante do Senhor numa postura de pessoas que tudo receberam e que precisam tudo restituir, porque a Esposa que ouve sussurros de amor passa necessariamente esse amor adiante; o amor ama aqueles que são amados pelo Amado;
♦ cultivar sempre uma atitude de atenção aos que circulam à nossa volta e olhar com os olhos interiores de quanto amor precisam, sempre lembrando que existimos para a vida pelos irmãos; passar da fala para atos;
♦ a Igreja é a vinha do Senhor: ele enviou o seu Filho no lugar dos vinhateiros homicidas; o Senhor contava com uvas de verdade, mas produziu uvas selvagens.
Por fim, ficamos admirados diante do fato que o senhor da parábola envia seu filho que o vinhateiros matam. Mais não era possível!!!
Para sua reflexão
♦ “Na vinha de Deus não há lugar para os que não produzem frutos. No projeto do Reino de Deus, anunciado e promovido por Jesus, não podem continuar ocupando lugar os “lavradores” indignos que não reconhecem o senhorio de seu Filho porque se sentem proprietários e senhores do Povo de Deus. Hão de ser substituídos por um povo que produza frutos” (Pagola).
♦ “A parábola põe-nos diante do enigma da violência que pode escandalosamente tornar-se presente num espaço religioso. No terreno eclesial a violência não reveste normalmente formas ostensivas como a violência física, porém mais sutis, como a não escuta, a rejeição, a marginalização, o desprezo, o não acolhimento, o desinteresse, a pressão e o abuso psicológico (Manicardi).
Oração
Senhor, tu és a nossa luz.
Senhor, tu és a verdade.
Senhor, tu és a nossa paz.
Querendo acompanhar-nos
te fizeste peregrino;
compartilhas nossa vida,
nos mostras o caminho.
Não basta rezar a ti,
dizendo que te amamos;
devemos imitar-te,
amar-te nos irmãos.
Tu pedes que tenhamos
humilde confiança;
teu amor saberá encher-nos
de vida e esperança.
Fonte: Franciscanos
FREI ALMIR GUIMARÃES, OFM, ingressou na Ordem Franciscana em 1958. Estudou catequese e pastoral no Institut Catholique de Paris, a partir de 1966, período em que fez licenciatura em Teologia. Em 1974, voltou a Paris para se doutorar em Teologia. Tem diversas obras sobre espiritualidade, sobretudo na área da Pastoral familiar. É o editor da Revista “Grande Sinal”.