Aprofundar a identidade da Pastoral Juvenil

Imagem de "amorsanto" em Cathopic

Por Dom Antônio de Assis Ribeiro
Bispo auxiliar na Arquidiocese de Belém/PA

 

O que implica a pastoral juvenil? De quais realidades e meios de hoje não podemos prescindir para podermos evangelizar e promover a fé nos jovens? Quais sensibilidades os evangelizadores dos jovens devem adquirir para que possam acompanhar os jovens no crescimento na fé?

  1. Considerar a mudança de época

Estamos numa “mudança de época”. Os sinais dos tempos nos convidam a rever os nossos conceitos; tudo parece que está sendo repensado, relido, reinterpretado, redimensionado, reconfigurado, redefinido. O principal desafio a ser encarado pela Pastoral juvenil é aquele do aprofundamento da própria identidade por causa do novo contexto histórico no qual nos encontramos (cf. Christus Vivit (CV),202). O dinamismo da “cultura líquida” nos convida a rever nossas ideias, visões, conceitos, estilos; a pastoral não pode ser alheia ao contexto mutante; porém ser fiel ao essencial e absoluto, Jesus Cristo, o Senhor e seu Reino.

  1. Investir numa Nova Evangelização

A questão religiosa, sobretudo em sua dimensão institucional, está em cheque. Cresceu o índice de indiferença religiosa dos jovens. O salto que a humanidade deu nas últimas décadas em todas as áreas, nos convida com insistência a continuar o repensamento do dinamismo da evangelização. A cultura digital não voltará atrás e nos convida a “avançar para águas mais profundas” na evangelização. O Papa São João Paulo II nos fez o convite de promover uma “Nova Evangelização” em sua linguagem, método, ardor, expressão, atitudes. Recordemos também que a XIII Assembleia geral dos bispos (2012), refletiu sobre esse importante tema. Na exortação Apostólica Evangelii Gaudium encontramos os grandes horizontes pastorais propostos para a evangelização no mundo de hoje.

  1. Mudança na mentalidade e no comportamento juvenil

Quanta mudança no comportamento e na mentalidade juvenil nos últimos 30 anos! Por isso, a pastoral juvenil se insere nesse mesmo contexto de repensamento do seu dinamismo. No Brasil a Pastoral Juvenil, diante de tantas mudanças culturais e eclesiais, também teve que mudar, se repensar, se reestruturar e se redimensionar. Todavia, essa reconfiguração da Pastoral juvenil ainda não foi suficientemente assimilada (cf. CNBB, Documento 85); grande parte dos sacerdotes, religiosos em geral, líderes leigos, assessores e bispos ainda não  conhecem esse documento, não mudaram o modo de vê-la a Pastoral Juvenil, pensá-la, promovê-la. Isso se manifesta através da linguagem e atitudes inadequadas ou obsoletas que permanecem.

  1. A necessidade da formação sacerdotal

É urgente que a Pastoral juvenil seja matéria de formação nos seminários. Por outro lado, constata-se que no Brasil, de modo geral, há pouquíssimos sacerdotes, religiosos e leigos com formação específica que atuam diretamente na promoção da Pastoral juvenil. A falta de reflexão no campo da Pastoral juvenil nos seminários, gera graves sequelas, contribuindo para que haja ministros ordenados frios, sem sensibilidade para com os jovens, com atitudes conflitantes, falta de senso pedagógico, dificuldade de escuta, pouca empatia com os jovens, linguagem inadequada, rigidez doutrinal, medo, impaciência, clericalismo, pouca visão de processo e gradualidade pastoral (cf. CV, 40).

  1. Visão de processo

A Pastoral juvenil não é um calendário de atividades religiosas para os jovens. É, antes de tudo, um processo de escuta, orientação, desenvolvimento humano, crescimento na fé, acompanhamento espiritual dos jovens, centrado em Jesus Cristo, buscando caminhos novos, acolhendo e respeitando a engenhosidade, criatividade e ousadia juvenil (protagonismo); a pastoral juvenil para ser fiel à pessoa, deve estar atenta às novas sensibilidade e linguagens dos jovens, evitando estacionar numa pastoral baseada em esquemas rígidos e num manual de ações (cf. CV, 203). “Uma vez que «o tempo é superior ao espaço», devemos suscitar e acompanhar processos, não impor percursos. Trata-se de processos de pessoas, que sempre são únicas e livres. Por isso é difícil elaborar receituários” (CV, 209; 297). Não devemos pensar a Pastoral juvenil como eventos, mas como processo lento, respeitoso, paciente, confiante, incansável, compassivo que promove a fé nos jovens (cf. CV, 236) que os leva ao encontro com a pessoa de Jesus Cristo, a crescer na consciência eclesial e serviço ao Reino de Deus.

  1. Implementar novidades

Os jovens nos fazem ver a necessidade de assumirmos novos estilos, espaços, metodologias, meios, estratégias, projetos, atividades, horários no processo de evangelização dos mesmos. Uma pastoral em sintonia com a sensibilidade juvenil é capaz de dar atenção à vida dos jovens e às suas demandas, propiciando ambientes adequados para compartilhar a vida, festejar, cantar, escutar testemunhos concretos e experimentar o encontro comunitário com o Deus vivo (cf. CV. 204-205).

  1. A Pastoral juvenil deve ser popular

Isso é para todos os jovens e não só para os católicos que participam da Igreja; por isso a pastoral juvenil não deve ser elitista, mas «popular». Deve abrir-se aos jovens presentes nos mais variados contextos sociais (cf. CV, 230-233). A Pastoral juvenil não deve estar confinada a um espaço eclesiástico. Há múltiplos ambientes para o encontro e diálogo e amizade e evangelização dos jovens, como a família, os grupos, as redes sociais, as escolas, as universidades, as instituições sociais, os shoppings, os centros de lazer, as praças, as comunidades, os movimentos sociais etc.

  1. A questão existencial

Não há séria pastoral juvenil sem a preocupação para com a realidade existencial dos jovens; desse modo a questão do sentido da Vida é imprescindível. O primeiro anúncio, desperta para a fé e também aprofunda e dinamiza o sentido da Vida.  Por isso a evangelização das juventudes não deve, de forma alguma, se reduzir a atividades religiosas. É necessária uma urgente ampliação da visão do mundo juvenil e das suas necessidades, em vista de uma criativa e pluridimensional promoção da pastoral juvenil capaz de evangelizar os jovens, também a partir daquilo que os jovens gostam como, o esporte, as artes (música, dança, teatro), lazer e o sadio entretenimento; precisamos dar atenção a processos formativos e à dimensão lúdica dos jovens (cf. CV, 86,210,218, 226-227).

  1. Linguagem afetiva

Numa cultura marcada pelo relacional e afetivo, metodologicamente a pastoral juvenil “deve privilegiar a linguagem da proximidade, a linguagem do amor desinteressado, relacional e existencial que toca o coração, atinge a vida, desperta esperança e anseios. É necessário aproximar-se dos jovens com a gramática do amor, não com o proselitismo (cf. CV, 211). Recordemos o que nos diz São Francisco de Sales: “Pega-se mais moscas com uma gota de mel, do que com um barril de vinagre”.

  1. Promoção de experiências de Vida

Além da questão afetiva como linguagem e ao mesmo tempo método educativo, porque o amor conquista e educa, a pastoral juvenil em sintonia com os tempos é chamada a saber traduzir em experiências concretas os seus conteúdos e desafios mais nobres. Experiências educativo-pastorais como retiros, acampamentos, caminhadas, expedições, festivais, peregrinações, voluntariado, ações missionárias etc. são profundamente significativas (cf. CV, 237-239).

PARA REFLEXÃO PESSOAL:

  1. Por que é necessário repensar a Pastoral Juvenil?
  2. Por que o contexto sociocultural influencia a evangelização?
  3. Por que a evangelização é inseparável da formação humana?

Fonte: CNBB Norte 2

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui