Por Dom José Gislon
Bispo de Caxias do Sul (RS)
Estimados irmãos e irmãs em Cristo Jesus! A missão de estar a serviço do Evangelho na comunidade de fé pode, algumas vezes, não ser compreendida. Quem se coloca a serviço do Senhor na Igreja, comunidade de fé, muitas vezes pode passar pela experiência que os profetas da Bíblia passaram, na missão que Deus lhes havia confiado. Eles foram incompreendidos, caluniados e, por que não dizer, injustiçados pelos homens, mas perseveraram na fidelidade a Deus.
A missão do profeta era difícil porque ia contra a corrente. Quando o povo priorizava a busca dos bens materiais e se esquecia de Deus e da aliança, valorizando uma sociedade consumista, o profeta era visto como profeta da desgraça. Quando tudo parecia perdido, e somente o desespero era visto no horizonte, então o profeta era acolhido como profeta da consolação.
O povo que tem necessidade de um verdadeiro profeta, em geral, é um povo de coração endurecido, que não quer aceitar ou compreender o amor e a ação de Deus na sua história. Mas a história nos ensina que o Espírito do Senhor não abandona o profeta, mas o sustenta na sua missão. O profeta é um homem escolhido por Deus para lembrar ao povo a fidelidade à aliança; não fala por si mesmo, mas fala em nome de Deus. Os profetas, muitas vezes, não foram ouvidos e nem compreendidos por aqueles a quem foram enviados, mesmo assim permaneceram fiéis à missão que Deus lhes havia confiado, até o fim. A Sagrada Escritura nos ensina que mataram os profetas, mas não puderam matar ou fazer calar a profecia que anunciaram.
Na nossa peregrinação para a casa do Pai, a nossa vida de fé pode passar por momentos de escuridão e de incertezas, mas Jesus partilha conosco as nossas crises, incertezas, incompreensões, dúvidas, desânimo, cansaço, falta de sucesso, etc. São Paulo nos diz que são as fragilidades, as adversidades e as angústias, que desagradavelmente nos recordam que somos seres humanos, mas, ao mesmo tempo, nos lembram que a graça de Deus é mais forte do que as nossas fragilidades.
Conhecer, acolher e acreditar em Jesus é o ponto de partida para uma caminhada de fé. Todos nós podemos pôr resistências à ação de Deus na nossa vida. Jesus é rejeitado pela sua sabedoria, que é luz e sal da nossa vida, mas, às vezes, a vida pode ser domesticada para satisfazer as condições puramente humanas. Assim, o cristianismo pode ser reduzido a uma doutrina, a um código ético ou a uma cultura particular. Neste caso se perde ou fica esquecida a revelação do Evangelho como mensagem vital e universal, como Palavra de salvação, revelação da misericórdia e do zelo de Deus pela humanidade. Acolher o Evangelho significa vencer as resistências à conversão da própria vida, visto que somos humanos e convivemos no dia a dia com o pecado e a graça de Deus. A rejeição a Jesus pode acontecer também na nossa vida: pode atravessar o nosso caminho, tirar o nosso ânimo de estar a serviço do Evangelho, na comunidade povo de Deus. Mas podemos também ter a atitude do profeta Amós. Ele teve suas resistências em colocar-se a serviço do Senhor. Mas ele, humildemente reconhece que, em um determinado momento suas resistências foram vencidas, porque o Senhor o chamou e lhe disse: “Vai profetizar para Israel, meu povo”.
CNBB