Por Cardeal Orani João Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ
Celebramos neste final de semana o XXXI domingo do tempo comum, o último domingo do mês missionário. O tema central da liturgia deste domingo é o amor. O mandamento do amor é compreendido em suas duas vertentes inseparáveis: amor a Deus e ao próximo. No Evangelho Jesus responde ao questionamento de um mestre da Lei sobre o primeiro dos mandamentos, afirmando que o primeiro é amar a Deus e o segundo é amar o próximo, sendo ambos inseparáveis.
A primeira leitura, do livro do Deuteronômio (Dt 6,2-6,) cujo nome significa literalmente “segunda lei” começa com Moisés exortando Israel a temer o Senhor (v. 2), o que não significa ter medo, obviamente, mas reverência, reconhecimento da sua grandeza e adesão total ao seu projeto de vida. Israel precisa ouvir e pôr em prática a vontade do Senhor, expressa nos seus mandamentos e leis (v. 3). A sequência da leitura (v. 4-6) compreende a primeira parte do credo fundamental de Israel, conhecido como “Shemá Israel” (Dt 6,4-9). Quão é importante a dimensão do Shemá para o povo de Israel, pois, só é obediente aquele que sabe ouvir e é claro para o povo de Israel, este ouvir é em primeiro lugar o Senhor.
A segunda leitura (Hb 7,23-28) nos apresenta o tema do sacerdócio. Os destinatários da carta, cristãos de origem predominantemente judaica, tinham dificuldade de viver a fé desvinculada do templo de Jerusalém e do seu sacerdócio. O autor apresenta a superioridade do sacerdócio de Cristo em relação aos sacerdotes da Antiga Aliança ou do templo. “Os sacerdotes da antiga aliança sucediam-se em grande número, porque a morte os impedia de permanecer. Cristo, porém, uma vez que permanece para a eternidade, possui um sacerdócio que não muda. Por isso ele é capaz de salvar para sempre aqueles que, por seu intermédio, se aproximam de Deus. Ele está sempre vivo para interceder por eles” (Hb 7, 23- 25).
Jesus não precisou oferecer sacrifícios pelos seus pecados, pois não os tinha; ofereceu a si mesmo como sacrifício único e perfeito em favor de todas as pessoas, ao contrário dos sacerdotes do templo, que deveriam oferecer sacrifícios por si mesmos e pelo povo.
No Evangelho (Mc 12,28b-34) se faz a pergunta: qual é o mais importante de todos os mandamentos da Lei? Partimos do princípio de que os escribas eram intelectuais, conhecedores profundos e pormenorizados dos textos da Lei de Moisés. A ser assim, não havia nenhuma razão para perguntar a Jesus sobre qual seria o maior mandamento. Por outro lado, Jesus olhando bem para ele, poderia até se questionar como é possível, este homem sendo doutor da Lei não saber qual era o maior. Mas tudo bem: Escuta Israel! O Senhor, vosso Deus, é o único Senhor. Amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma, com toda a tua mente e com todas as tuas forças. E o segundo mais importante é este: Amarás próximo como a ti mesmo. Não existe outro mandamento mais importante do que esses dois.
Nesta resposta de Jesus vemos duas realidades: A relação do homem com Deus e do homem com o próximo, para depois voltarem os dois para Deus, o princípio e o fim do homem. Contudo, o segundo mandamento completa o primeiro e que, em conjunto, resumem toda a lei e todos os profetas. Sendo assim, Jesus explica ao escriba a impossibilidade que existe em cumprir o primeiro mandamento sem o segundo.
Eis uma voz nova, pronunciada por um mestre novo: Deus nos pede um amor absoluto, total, contudo, isto não significa a exclusão do amor ao outro. O amor ao próximo é exigente, pois tem por medida nós mesmos:
[…] “e ao próximo como a si mesmo”. Isso nos revela a profundidade, como o que se busca amar. O amor é doar-se a si mesmo, as suas próprias expectativas. Depois Jesus irá dizer que a medida passa a ser Ele: amai-vos uns aos outros como Eu vos amei.
Que a liturgia de hoje nos ensine a amar verdadeiramente e colocando Deus em primeiro lugar da nossa vida. Aprendamos também que o amor a Deus se traduz no amor aqueles que nos cercam, ou seja, o nosso próximo. Amor a Deus e ao próximo é o fundamento de nossa vida cristã: é um dom de Deus mas deve ter a nossa correspondência. O mundo necessita desse testemunho.
Fonte: CNBB