“Amai a Cristo; desejai a luz que é Cristo”

Heinrich Hofmann | Public Domain

“Amai a Deus, visto que nada encontrais de melhor que ele. Amais a prata porque é melhor que o ferro e o bronze; amais o ouro mais ainda, porque é melhor que a prata; amais ainda mais as pedras preciosas, porque superam até mesmo o preço do ouro; amais, por fim, esta luz que teme perder todo homem que teme a morte; amais, repito, esta mesma luz que a desejava com grande amor quem gritava atrás de Jesus: Filho de Davi, tem compaixão de mim.

Gritava o cego quando Jesus passava. Temia que ele passasse e não o curasse. Como gritava? Até o ponto de não calar, ainda que a multidão lhe ordenasse silêncio. Venceu opondo-se a ela, e alcançou o Salvador. Ao bradar a multidão e ao proibir-lhe de gritar, Jesus parou, o chamou e lhe disse: – Que queres que eu te faça? – Senhor, lhe disse, que eu veja. – Vai, a tua fé te salvou.

Amai a Cristo; desejai a luz que é Cristo. Se aquele desejou a luz corporal, quanto mais vós deveis desejar a luz do coração! Gritemos diante dele não com a voz, mas com os costumes. Vivamos santamente, desprezemos o mundo; consideremos como nulo tudo o que é passageiro. Se vivermos assim, nos repreenderão, como se o fizessem por nosso amor, os homens mundanos, amantes da terra, saboreadores do pó, que nada trazem do céu, que não possuem mais alento vital que aquele que respiram pelo nariz, sem outro no coração.

Sem dúvida, quando nos virem desprezar estas coisas humanas e terrenas, nos recriminarão e dirão: “Por que tu sofres? Ficastes louco?” É a multidão que trata de impedir que o cego grite. E até são cristãos alguns dos que impedem de viver cristãmente. De fato, também aquela multidão caminhava ao lado de Cristo e colocava os obstáculos ao homem que bradava junto a ele e desejava a luz como dádiva do próprio Cristo.

Existem cristãos assim; porém vençamo-los, vivamos santamente; seja a nossa vida nosso grito para Cristo”.

Santo Agostinho – Sermão 349,5 / Veni Brasil

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