Advento – Tempo da Esperança

Por Dom Carlos José
Bispo de Apucarana (SP)

 

“Ponho minha esperança no Senhor. Minha alma tem confiança em sua Palavra. ” (Sl 129, 5)

A caminhada da Igreja é rica em sabedoria, ensinamentos e propósitos que visam levar o cristão ao conhecimento da Verdade, que é Cristo, o Senhor. Ao caminharmos para o encerramento do Ano Litúrgico é propício que façamos uma avaliação do que aprendemos e vivemos enquanto filhos e filhas amados por Deus e guiados pelo Espírito Santo.

A Liturgia da Igreja não pode ser vista apenas como um calendário religioso, pois, Ela, a Liturgia é uma pessoa: o próprio Cristo que se revela e nos dá a conhecer os desejos e planos do Pai. Sendo assim, o Ano Litúrgico compreende o encontro com Cristo no Espírito Santo.

Viver bem o Ano Litúrgico proporciona amadurecimento na fé e profunda formação em torno do Mistério de Cristo celebrado nos mistérios litúrgicos no decorrer do ano, o que nos leva a um permanente e constante encontro pessoal com Jesus Cristo, Caminho, Verdade e Vida.

O Ano Litúrgico é o desdobramento dos diversos aspectos do único Mistério Pascal, principalmente o ciclo das festas em torno do Mistério da Encarnação, que compreende a Anunciação, o Advento, o Natal e a Epifania, que fazem memória do começo de nossa salvação, nos comunicando as primícias do Mistério Pascal. Todos os anos, ao longo das celebrações, a Igreja nos recorda e ensina que fomos criados para amar, sermos amados e levar Cristo, o Amor, aos que não O conhecem, ou que se afastaram Dele. Somos instrumentos de comunicação do Amor verdadeiro e devemos fazê-lo, para nossa salvação e a de outros. “Ninguém pode vir a mim se por meu Pai não lhe for concedido. ” (Jo 6,65).

O Senhor nos chama a Ele. Somos atraídos pelo amor de Deus que nos criou para a felicidade e a plenitude eterna. Por mais difícil que possa parecer, não caminhamos isolados ou sozinhos, temos a grata presença do Espírito Santo que encaminha nossos corações e no direciona para o Sagrado. E se chegamos até aqui, é porque Deus nos preservou e nos concedeu o dom da vida. As celebrações do Ano Litúrgico não são voltadas apenas para o conhecimento do passado, mas olham também para o futuro, numa perspectiva do eterno, fazendo do passado e do futuro o hoje de Deus, pela sacramentalidade da liturgia. Muitos afirmam, talvez por falta de conhecimento, que a Liturgia é uma simples repetição. Porém, isso não procede.

A Liturgia da Igreja, na beleza de seus tempos litúrgicos, embora se repita, também se atualiza, pois, mistério que é, faz memória da História da Salvação do povo de Deus, que somos todos nós. Do Advento, passando pelo nascimento do Emanuel, Deus Conosco, Semana Santa e o Tempo Comum, até chegar à Celebração de Cristo Rei, cada ano nos é apresentado o mesmo plano de Salvação de Deus, onde Cristo é o Centro e Caminho. Como uma mãe, que repetida e incansavelmente educa seus filhos até que eles aprendam o que é necessário aprender, assim é a Igreja de Cristo: mostra-nos a cada Ano Litúrgico a Verdade, o Caminho e a Vida, que devemos seguir. Portanto, o Ano Litúrgico não concorre com o ano civil, pois ambos são dons do Criador, que, inserido no tempo pela Encarnação de Cristo, santificou ainda mais o tempo civil. Isto posto, todo o tempo se torna tempo de conversão e salvação.

Ao longo do Ano Litúrgico tivemos a oportunidade de aprender a Palavra, a Oração e de nos aproximarmos mais de Deus e de seu amor. O Advento nos abre novas portas, pois nas esperas da vida, encontramos Deus Menino que vem para sinalizar que a vida é um sopro, nascemos e morremos, e só temos esse intervalo chamado vida para alcançar a santidade e vivermos o verdadeiro amor cristão.

Deus ensina pacientemente, com amor e constância, e nós, será que aprendemos, crescemos na fé e na caridade, no amor doação, na missão que nos foi confiada em nosso Batismo? Quem dera não tenhamos deixado passar o momento da Graça! O Advento nos recorda que Deus fez tudo por nós, até tornar-se um de nós, para que fossemos salvos do pecado que aniquila a alma e nos afasta do Amor.

O que estamos fazendo com o que Deus nos oferece? Temos o Alimento Eterno ao alcance das mãos, a Eucaristia; temos a Palavra Sagrada ao toque dos dedos, diante dos olhos e do coração, temos uma Liturgia riquíssima em ensinamentos e formação que nos aproxima e nos inclui na conta dos escolhidos por Deus. Temos o Sacramento da Reconciliação que nos devolve a dignidade perdida e nos reconcilia com o Pai. Deus nos dá tudo, no hoje e no agora. Não sabemos do amanhã, pois não nos pertence.

Que o Tempo do Advento seja um tempo de cura, conversão e da doce alegria trazida por Jesus Menino: a salvação é para todos. Que nosso coração seja Belém, que nossa vida inteira seja o presente para Jesus. Que no intervalo entre a vida e a morte, sejamos fieis portadores da Boa Nova de Cristo. Que o Sim da Virgem Maria e a obediência de São José nos abram os olhos, os ouvidos e o coração para vivermos retamente esse tempo de esperança com fé e alegria.

Fonte: CNBB

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