A volta às fontes na missão da Igreja

Imagem: print da publicação no Vatican News (Papa Paulo VI na Basílica do Santo Sepulcro, em Jerusalém - 04/01/1964 L'Osservatore Romano)

A ideia de visitar a terra de Jesus se encontra em uma nota manuscrita do Pontífice, que leva a data de 21 de setembro de 1963. “Após uma longa reflexão, e depois de ter invocado a luz divina… parece que se deve estudar positivamente como possível uma visita do Papa aos Lugares Santos na Palestina… Que esta peregrinação seja rapidíssima, que tenha um caráter de simplicidade, de piedade, de penitência e de caridade”.

 

Por Jackson Erpen

Foi o Papa Montini a inaugurar as viagens dos Pontífices pelo mundo. De fato, na manhã de 4 de dezembro de 1963, ao final da segunda sessão conciliar, o Papa Paulo VI surpreendeu os padres conciliares ao anunciar seu desejo de peregrinar à Terra Santa em janeiro do ano seguinte.

“Será uma viagem de oração e de humildade, um ato puramente religioso, absolutamente alheio a todo tipo de considerações políticas e temporais”, afirmou em várias ocasiões. Assim, em Nazaré, ao visitar o lugar da Anunciação, pediu à Maria Santíssima, para ser introduzido “na intimidade com Cristo, seu humano e divino Filho Jesus”.

Seu secretário particular na época, Pasquale Macchi, recordou que “ali ele retomou as grandes lições do Evangelho: lição do silêncio, da vida familiar, do trabalho para depois oferecer quase uma transcrição moderna das Bem-aventuranças ensinadas por Jesus”.

No âmbito do 60° aniversário do Concílio Vaticano II, padre Gerson Schmidt* nos fala hoje sobre “a volta às fontes na missão da Igreja”:

“Sem dúvida alguma, a Lumen Gentium significa a superação de uma eclesiologia jurídica. Essa mudança de perspectiva faz com que a Igreja deixe de ser vista horizontalmente e a partir de si mesma, para ser compreendida verticalmente, isto é, a partir de Deus e de sua presença nela. Como consequência, ela é o instrumento de Deus no mundo e tem a missão de proclamar a Boa-Nova do Reino de Deus. O que não significa afastamento do mundo, mas o assentamento de sua missão no essencial.

O Papa São Paulo VI define claramente a essência da Igreja na evangelização, as suas origens, passando pelos séculos de sua história, a evangelização é o que a Igreja tem de mais íntimo. Está bem evidente isso na Evangelii Nuntiandi, relembrado também no documento atual do Papa Francisco Evangelii Gaudium. Não precisamos ir em busca de uma identidade. Ela existe deste a Igreja primitiva. Por isso, basta voltar às fontes originais da missão da Igreja, identificada pelo anúncio ardoroso do Evangelho.

O Papa Montini, em janeiro de 1964, com o Concílio em andamento, fez uma breve, mas intensa peregrinação de três dias à Terra Santa, onde visitou 11 locais de dois países diferentes. Sua intenção foi uma viagem espiritual, voltando às origens, a terra de Jesus. Foi a primeira das nove viagens ao estrangeiro de Paulo VI. Diga-se que desde 1812, quando Pio VII foi levado por Napoleão ao exílio forçado de Fontainebleau, nenhum dos Pontífices havia saído da Itália. Papa Paulo VI dizia assim na ocasião, anunciando supreendentemente aos padres conciliares: “Estamos convencidos de que para obter um bom resultado do Concílio, devemos elevar pias súplicas, multiplicar as obras e, após maduras reflexões e muitas orações dirigidas a Deus, decidimos nos dirigir como peregrinos àquela terra, pátria do Senhor nosso Jesus Cristo… com a intenção de reevocar, pessoalmente, os principais mistérios de nossa salvação, ou seja, a encarnação e a redenção”. “Veremos aquela terra venerada”, acrescentou Paulo VI, “de onde São Pedro partiu e para a qual nenhum de seus sucessores nunca mais voltou. Contudo, nós, muito humildemente e por um tempo muito breve, voltaremos ali em espírito de devota oração, de renovação espiritual, para oferecer a Cristo sua Igreja; para chamar a ela, una e santa, os Irmãos separados; para implorar a divina misericórdia em favor da paz”.

A ideia de visitar a terra de Jesus se encontra em uma nota manuscrita do Pontífice, que leva a data de 21 de setembro de 1963. “Após uma longa reflexão, e depois de ter invocado a luz divina… parece que se deve estudar positivamente como possível uma visita do Papa aos Lugares Santos na Palestina… Que esta peregrinação seja rapidíssima, que tenha um caráter de simplicidade, de piedade, de penitência e de caridade”. É a única das viagens de Paulo VI que não nasceu de uma circunstância particular, de uma celebração ou de um convite. Ele quer resgatar as origens do cristianismo mais genuíno.”

Fonte: Vatican News

*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.

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